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Igrejas evangélicas (brasileiras) envolvidas com o narcotráfico?

No ano em que a Igreja Pentecostal Deus é Amor completa cinquenta anos (foi fundada no dia 03 de junho de 1962), novas suspeitas de que traficantes de drogas e armas atuam por trás de denominações evangélicas veem à tona. A prisão de um pastor do Rio Grande do Norte e mais três homens por tráfico de drogas em Fortaleza, no último dia 18 de junho, e a denúncia (feita por um ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus) de que Edir Macedo teria comprado a Rede Record de Televisão com dinheiro oriundo do cartel de Cali, são apenas dois de inúmeros casos envolvendo igrejas e lideres evangélicos. Em meio a um turbilhão de denúncias e prisões, a sociedade e os meios de comunicação se debruçam para entender até que ponto o narcotráfico possui influência nas organizações religiosas. A aproximação entre traficantes e igrejas evangélicas nos morros do Rio de Janeiro seria uma das causas do envolvimento de pastores com o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro? Haveria algum tipo de coação? No caso de coação, qual seria o nível de culpabilidade? O questionamento é amplo, bem como as respostas a ele dadas. 

Embora esporadicamente, casos de prisão de pastores por envolvimento direto com o narcotráfico indicam que a participação de determinadas igrejas vai além da simples lavagem de dinheiro? Seria o caso da Igreja Deus é Amor? Em depoimento à Polícia Federal, Guilherme Filho Prado (que por 18 anos trabalhou como contador na IPDA) revelou que a cúpula e lideranças regionais da Deus é Amor teriam envolvimento com o narcotráfico, e cita o traficante Fernandinho Beira-Mar como um dos beneficiados. Ainda de acordo com as denúncias – feitas em 2000 e investigadas pela Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro e acompanhadas pela deputada federal Laura Carneiro (à época do PFL – RJ) -, membros de uma filial da IPDA transportavam drogas, armas e dinheiro para a Vila Beira-Mar. Em setembro de 2010, um pastor de uma congregação da IPDA de Ribeirão Cascalheira, a 893 km de Cuibá (MT) foi preso em fragrante pela Polícia Civil embalando drogas dentro da própria igreja. Dois meses depois, outro pastor foi preso em São Bernardo do Campo (SP) em um laboratório de drogas instalado em cima de uma igreja.

Apesar de declarações do advogado da IPDA – de que o ex-contador teria tentado extorquir a igreja – e de que nenhuma condenação teria sido imposta à cúpula, o testemunho de Guilherme Filho Prado serviu de base para uma operação de busca e apreensão na casa de David Miranda (fundador da Igreja Deus é Amor), em setembro de 2000, e outras investigações promovidas pela PF de Foz do Iguaçu, São Paulo e Rio de Janeiro, além de CPIs do Narcotráfico de São Paulo e Brasília. A suspeita é de que a Andy Viagens e Turismo, com escritório na Vila Mariana (SP) e de propriedade da Igreja Deus é Amor, serviria de base para operações de lavagem de dinheiro. De acordo com investigações realizadas pela Polícia Federal, somente entre 1992 e 1996 – portanto, anterior às denúncias de Guilherme Prado – cerca de 37 bilhões de reais teriam deixado o Brasil através de Foz do Iguaçu e tinham como destino contas do fundador da Igreja Deus é Amor. Indiciado por evasão de divisas e lavagem de dinheiro, David Miranda compareceu a Superintendência da Polícia Federal de São Paulo na tarde de 16 de maio de 2000 para prestar esclarecimentos sobre o envio de remessas de dólares para contas associadas à CC-5. Conquanto nenhuma acusação contra David Miranda e a nenhum outro membro da cúpula da IPDA tenha progredido nos tribunais, a centralização do poder nas mãos da família Miranda, a ligação com a agência Andy Viagens e Turismo (como pode ser comprovada com base em dados de um ex-funcionário da IPDA – disponível em um site de cadastro de currículos) e o extremo controle dos membros e patrimônio da igreja, seriam, pelo menos internamente, indícios de “manipulação”? Há quem suspeite das reais intenções da IPDA. De acordo com Sidnei Moura (que foi membro da IPDA por 15 anos), “usos e costumes são uma das muitas formas de manipulação e controle”.

A IPDA também é conhecida por alguns processos movidos contra meios de comunicação, como no caso de uma ação movida contra a Rede Bandeirantes de Televisão da qual a emissora e o repórter acabaram absolvidos – na reportagem, produzida pelo jornalista Sandro Barbosa de Araújo, o ex-contador da IPDA oferece detalhes do suposto “envolvimento” de lideres da igreja com o narcotráfico e lavagem de dinheiro. Em outro processo movido contra o programa do Ratinho e SBT - aberto após declarações de Raquel Borges Miranda, nas quais acusa seu ex-marido, Daniel Oliveira Miranda, de viver luxuosamente e ser usuário de drogas – a IPDA saiu vitoriosa. Apesar da condenação ao programa e ao canal de televisão, parte das declarações da ex-mulher do filho de David Miranda foi confirmada pelo deputado estadual Renato Simões (PT), à época relator da CPI do Narcotráfico na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP). Segundo o relator, Daniel Oliveira Miranda tem duas passagens pela polícia por porte de entorpecentes, embora deixe claro que “de maneira alguma isso significa que ele seja traficante”.

Dúvidas

Até que ponto o relato de Guilherme Filho Prado pode ser considerado confiável? Sidnei Moura lembra que por ocasião de uma sabatina na ALESP, na qual Prado foi convidado como testemunha chave, após entrar em contradição em diversas declarações que haviam sido dadas a imprensa, um dos parlamentares o questionou sobre possíveis provas. Em resposta, o ex-contador afirmou que teve acesso a várias remessas ilegais de dinheiro, mas que a única coisa que podia afirmar sobre o envolvimento de traficantes foi ter visto os filhos de David Miranda recebendo tais traficantes na sede mundial. Na ocasião, a IPDA fez uma gravação de trechos da sessão onde Guilhermino Filho Prado é confrontado e que passou a ser transmitida em meios de comunicação ligados a IPDA. "Lembro-me que era obrigado veicular a gravação mesmo em programas de horários alugados em rádios, e nesses programas a ordem era rodar de meia em meia hora, como também nos cultos da igreja sede - houve até cultos especialmente convocados apenas para se ouvir tal gravação”, declara Moura.

Ainda de acordo com Sidnei Moura, o que lhe pareceu estranho foi que antes de ir à ALESP, o ex- contador fez um verdadeiro alarde em diversas emissoras de rádio e televisão, e na última aparição na TV disse ter provas irrefutáveis da participação da IPDA nesse tipo de delito, e que apresentaria documentos que comprovavam tal esquema. “Depois de falar secretamente com membros da comissão foi a público sem uma única prova concreta sobre a denúncia – de envolvimento da IPDA com o narcotráfico”, revela Moura. O que ocorreu entre a última declaração de Prado, na TV, e a sabatina na ALESP? Não se sabe ao certo até que ponto o ex-contador teria “mentido” ou “ocultado” provas, e até onde possuía informações, mas seus depoimentos na TV Bandeirantes, e, principalmente, na Polícia Federal, foram claros no sentido de que a Igreja Deus é Amor teria algum tipo de envolvimento com esquemas ligados ao tráfico de drogas. A dúvida é de que maneira e por meio de qual elo frágil narcotraficantes teriam se infiltrado. Sidnei Moura parece nos indicar um caminho. “O caso Guilhermino não foi o único a levantar dúvidas sobre o tema - os dois filhos de David Miranda são conhecidos por terem uma relação instável na igreja, saem e voltam com frequência, e quando saem envolvem-se com traficantes. Porem, a força do sistema é extremamente cuidadosa para não expor suas fragilidades - daí a incerteza sobre todas essas acusações”, conclui Moura.

Sobre a maneira como a instituição lidava com as denúncias, Moura ressalta que o “caso acabou sendo proibido de ser falado na igreja e membros chegaram a ser disciplinados por terem acesso a tais reportagens ou por insistirem no assunto.” Em uma circular despachada recentemente pela sede mundial da Igreja Deus é Amor, obreiros e demais membros são expressamente proibidos de manterem qualquer tipo de contato com ex-membros da IPDA – particularmente obreiros e pessoas de destaque na instituição. Qual seria a razão da proibição e sob qual base jurídica a decisão foi aprovada? Procurada, a IPDA não quis se manifestar sobre a polêmica. Algo semelhante acontece em outras religiões, como no caso das Testemunhas de Jeová e na Congregação Cristã no Brasil. Pelo menos nestes exemplos, proibições são impostas aos adeptos com o intuito de mantê-los a salvo de más influências externas, e, ao mesmo tempo, sob seu domínio. O extremo centralismo administrativo na IPDA e as constantes disciplinas (e até mesmo processos judiciais) impostas a membros é algo no mínimo preocupante.

Um problema generalizado

A IPDA não é a única a sofrer com acusações de lavagem de dinheiro e associação com o narcotráfico. No dia 11 de março de 2010 a Igreja Mundial do Poder de Deus teve seu nome estampado nos principais jornais após a prisão de três de seus pastores acusados de tráfico de armas. Detidos em Miranda, Mato Grosso do Sul, com os pastores teriam sido encontrados sete fuzis modelo M15 de uso exclusivo do exército. Em depoimento, os religiosos declararam que as armas seriam levadas para Niterói e depois entregues a traficantes de morros do Rio de Janeiro. A Igreja Universal do Reino de Deus também seria alvo de acusações, sendo uma das primeiras direcionadas por Caio Fábio, que, em um vídeo distribuído a partir do YouTube, declara que pessoas próximas a Edir Macedo teriam viajado para Cali, na Colômbia, de onde teriam trazido recursos para a fundação da IURD. Três anos depois, Carlos Magno de Miranda – um ex-bispo da Igreja Universal e que por dez anos esteve ao lado do fundador – declarou, em entrevista ao blogueiro Vini Silva, que a Rede Record de Televisão teria sido comprada com verbas oriundas do narcotráfico. A crise também teria atingido, recentemente, um dos mais destacados pastores do Rio de Janeiro. Líder da Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias, Marcos Pereira – conhecido por seu trabalho na recuperação de drogados e traficantes -, virou alvo de inquérito policial após denúncias do líder do AfroReggae, José Júnior. Segundo o denunciante, o líder da IADUD teria sido um dos principais mentores dos ataques no Rio, em 2006, logo após a eleição de Sérgio Cabral para governador do estado. José Júnior, que entre 2006 e 2007 trabalhou ao lado de Marcos Pereira, também deu detalhes da participação do pastor com o narcotráfico, de possíveis abusos sexuais cometidos contra crianças e mulheres, de encenações de curas e de seu temor de que poderia ser assassinado. Em nota, a IADUD classificou como levianas as acusações e lamentou pelo fato de que o assunto tenha sido levado ao conhecimento público.



Johnny Bernardo

é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de religiões, seitas e heresias, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e seitas do mal.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.


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Doutrina da Igreja Templária de Cristo na Terra pode causar confusão aos evangélicos, diz apologista cristão

A Igreja Templária de Cristo na Terra (ITCT) está sendo apontada como mais uma igreja que se assemelha à igreja evangélica e que pode confundir a população evangélica por pregar doutrina que mistura elementos do Cristianismo com outros princípios de outras religiões.

Segundo o apologista Johnny Bernardo, do Instituto de Pesquisas Religiosas ( INPR) no Brasil, a Igreja Templária, que usa elementos evangélicos, como o uso de louvores e pregações comuns aos evangélicos, é “sem dúvida, um movimento sectário”.

“Não é uma seita no sentido original do termo (um grupo religioso surgido a partir de um grupo maior), mas um movimento com características contrárias ao cristianismo bíblico. Diria que está um passo além das igrejas neopentecostais - grupos potencialmente passíveis de distorções bíblicas, como, por exemplo, a IURD”, escreveu Bernardo ao The Christian Post.

A igreja possui um púlpito no formato da Cruz Templária e há figuras de budas, faraós e santos católicos. Segundo Bernardo, nas reuniões, os louvores são inspirados nas igrejas neopentecostais onde multidões entram em transes espirituais.

O credo doutrinário da igreja é caracterizado pela “maldição hereditária”, “reencarnação”, “espiritualismo” e outras crenças oriundas do Cristianismo. Algumas regras como não ingerir café, carne ou açúcar ( com exceção do mascavo) são impostas aos adeptos.

Segundo Bernardo, a presença de elementos do Protestantismo nas reuniões da ITCT é um “chamariz para crentes menos preparados biblicamente”. A falta de experiência bíblica, assim, poderia facilmente levar o crente a ser atraído por tais ensinos.

Recentemente, o líder fundador da igreja, Walter Sandro se autointilou “apóstolo”. Ele revelou à revista Carta Capital que fundou a igreja por revelações diretas do “Arcanjo Miguel”. As pregações de base sincrética de Walter falam de Jesus Cristo, e enfatizam a graça, buscando não falar dos pecados, pois, segundo ele, Cristo já venceu os pecados na cruz.

A igreja assim, é vista como um movimento que pode trazer confusão espiritual àqueles que acreditam estarem seguindo o Cristianismo.

Mas não se trata somente dessa igreja quando se fala dos perigos de uma confusão espiritual. Os movimentos inspirados no Neopentecostalismo são os “mais perigosas”, diz o apologista, “porque possuem o potencial de atrair ainda mais simpatizantes”.

“Portanto, concluímos que esse tipo de crença pode causar confusão na população evangélica - em especial novos convertidos e crentes com pouca frequência nas igrejas evangélicas (nominais)”.

Bernardo afirma que é de responsabilidade da liderança evangélica de alertar as “ovelhas” quanto ao perigo de tais distorções bíblicas.

“A igreja, de um modo geral, deve permanecer em alerta e seguir as orientações de sua liderança.”


Fonte: The Christian Post




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O novo apóstolo do Brasil


Vira e mexe um novo apóstolo surge no Brasil. O mais novo nasceu em Pernambuco, mas foi na Rua Leais Paulistanos, no Ipiranga (SP) que Walter Sandro Pereira da Silva encontrou o caminho do sucesso. Filho de um mestre de obras e mais velho de três irmãos, Walter Sandro fundou a Igreja Templária de Cristo na Terra 26 anos após um “encontro” com o Arcanjo Miguel.

Foi em uma igreja “evangélica” - por ocasião de uma visita a sua terra natal, em 1985, aos 13 anos – que o arcanjo lhe apareceu e revelou sua chamada. Acabou se convertendo. Nos dez anos seguintes se dedicou ao trabalho, desenvolvendo habilidades que anos mais tarde utilizaria em sua empreitada da fé. Na Rádio Mundial e em diversas palestras em São Paulo, Walter chamava a atenção de centenas de ouvintes com palestras motivacionais, com temas que iam desde os perigos do tabagismo a conquista de um novo amor. Ficou conhecido.

Apesar da fama, o pernambucano nascido em Pesqueira dizia ouvir do Arcanjo Miguel que lhe faltava algo. Ouvia com atenção. Assim continuou pelos anos seguintes. Ao mesmo tempo em que se dedicava a Psicologia, Walter dava início aos estudos esotéricos. Reiki. Ioga. Sessões espíritas. Sociedades Secretas. Uma mistura de crenças e práticas reunidas em um mesmo caldeirão. Em 2010, adere à política. Concorre ao cargo de Deputado Federal pelo PSB, recebendo 6.879 votos. Não foi eleito. Um ano depois, enquanto se preparava para entrar no ar pelo canal 58 UHF, tem um novo encontro com o Arcanjo Miguel. “O Arcanjo Miguel materializou-se e disse para eu abrir a igreja. Foi tão forte que tive uma crise de cálculo renal. Fui ao banheiro e ele veio e disse pra botar a mão na urina. Eu pus. E saiu uma pedra do tamanho de meio grão de feijão”, declarou Walter Sandro ao jornalista Willian Viera, da Carta Capital. Segundo Viera, à meia-noite o programa foi ao ar já com o nome de Igreja Templária.

Seis meses após sua fundação, a Igreja Templária de Cristo na Terra já conta com dez igrejas, cinco das quais no Estado de São Paulo, duas no Rio de Janeiro, uma em Belo Horizonte e outra em Recife. O número de adeptos (ou “templários”) gira em torno de 10 mil, segundo informação da ITCT. A sede mundial (uma megaigreja com capacidade para 5 mil pessoas, e composta por 44 salas e 2 auditórios) exemplifica a diversidade de credos professados pelos fieis. Além do púlpito, no formato da Cruz Templária, há figuras de budas, faraós e santos católicos. No escritório do fundador, um quadro e imagem do Arcanjo Miguel destacam-se em meio às mobílias. Nas reuniões conduzidas por Walter Sandro e equipe de obreiros, louvores evangélicos e campanhas inspiradas nas igrejas neopentecostais imergem multidões em transes espirituais. Na campanha do Vale de Sal, adeptos enfileirados passam por cima de toneladas de sal onde recebem orações e passes do apóstolo, muitos dos quais acabam “exorcizados”. Ao realizar um exorcismo, Walter faz sucessivos sinais da cruz, que, segundo ele, livra a vítima da possessão. O credo doutrinário da Igreja Templária é composto por crenças como “maldição hereditária”, “reencarnação”, “espiritualismo,” além de crenças oriundas do cristianismo. Os adeptos são incentivados a não ingerir café, carne ou açúcar (com exceção de mascavo).

Nas igrejas e nos meios de comunicação, Walter Sandro conclama fieis a aderirem ao “Carnê da Gratidão”, através do qual podem contribuir com o valor de R$ 33,00. A contribuição destina-se, segundo o site oficial da Igreja Templária, a manutenção dos programas televisivos, estrutura da Igreja e ao cuidado dos animais tirados das ruas – sim, a ITCT afirma ter como principal missão resgatar e cuidar de animais em estado de abandono. No “solo sagrado” do apóstolo (sua residência em São Bernardo do Campo), sua mãe e nove apóstolos cuidam de 80 cães e gatos. No Carnê da Gratidão, além de uma foto do fundador e uma cruz templária, ao fundo destacam-se dois golfinhos. Mas os animais não são os únicos alvos da Igreja. Na sede mundial e nas demais igrejas da ITCT, “hospitais de cura” oferecem tratamento espiritual a enfermos.

Ao jornalista da Carta Capital, Walter Sandro confessou sofrer constantemente ameaças de morte. “Já cansei de sofrer ameaça de morte, por telefone, pela internet.” Embora indiretamente, o apóstolo templário – antes de sua consagração nacional como fundador da ITCT – teve sua passagem pela justiça. No dia 24 de março de 2004, Walter Sandro Pereira da Silva foi acusado de Estelionato e Outras Fraudes (Arts. 171 e 179, do CP), pela Justiça Pública. Concluído o processo, Walter Sandro foi absolvido das acusações. Segundo certidão emitida por ocasião de seu registro como candidato a Deputado Federal, em 2010, nada que desabone sua conduta foi encontrada. Os dados aqui apresentados foram fornecidos pela Justiça Federal e divulgados no blog do jornalista Fernando Rodriguez, do UOL. Acesse a ficha de Walter Sandro e as certidões criminais aqui.



Johnny Bernardo

é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de religiões, seitas e heresias, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e seitas do mal.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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Afinal, o que está errado com a teologia da prosperidade?

Apesar de até o presente só ter melhorado a vida dos seus pregadores e fracassado em fazer o mesmo com a vida dos seus seguidores, a teologia da prosperidade continua a influenciar as igrejas evangélicas no Brasil.

Uma das razões pela qual os evangélicos têm dificuldade em perceber o que está errado com a teologia da prosperidade é que ela é diferente das heresias clássicas, aquelas defendidas pelos mórmons e "testemunhas de Jeová" sobre a pessoa de Cristo, por exemplo. A teologia da prosperidade é um tipo diferente de erro teológico. Ela não nega diretamente nenhuma das verdades fundamentais do Cristianismo. A questão é de ênfase. O problema não é o que a teologia da prosperidade diz, e sim o que ela não diz. 


Ela está certa quando diz que Deus tem prazer em abençoar seus filhos com bênçãos materiais, mas erra quando deixa de dizer que qualquer bênção vinda de Deus é graça e não um direito que nós temos e que podemos revindicar ou exigir dele.


  • Ela acerta quando diz que podemos pedir a Deus bênçãos materiais, mas erra quando deixa de dizer que Deus tem o direito de negá-las quando achar por bem, sem que isto seja por falta de fé ou fidelidade de nossa parte. 

  • Ela acerta quando diz que devemos sempre declarar e confessar de maneira positiva que Deus é bom, justo e poderoso para nos dar tudo o que precisamos, mas erra quando deixa de dizer que estas declarações positivas não têm poder algum em si mesmas para fazer com que Deus nos abençoe materialmente. 
  • Ela acerta quando diz que devemos dar o dízimo e ofertas, mas erra quando deixa de dizer que isto não obriga Deus a pagá-los de volta. 
  • Ela acerta quando diz que Deus faz milagres e multiplica o azeite da viúva, mas erra quando deixa de dizer que nem sempre Deus está disposto, em sua sabedoria insondável, a fazer milagres para atender nossas necessidades, e que na maioria das vezes ele quer nos abençoar materialmente através do nosso trabalho duro, honesto e constante. 
  • Ela acerta quando identifica os poderes malignos e demônicos por detrás da opressão humana, mas erra quando deixa de identificar outros fatores como a corrupção, a desonestidade, a ganância, a mentira e a injustiça, os quais se combatem, não com expulsão de demônios, mas com ações concretas no âmbito social, político e econômico.
  • Ela acerta quando diz que Deus costuma recompensar a fidelidade mas erra quando deixa de dizer que por vezes Deus permite que os fiéis sofram muito aqui neste mundo.
  • Ela está certa quando diz que podemos pedir e orar e buscar prosperidade, mas erra quando deixa de dizer que um não de Deus a estas orações não significa que Ele está irado conosco.
  • Ela acerta quando cita textos da Bíblia que ensinam que Deus recompensa com bênçãos materiais aqueles que o amam, mas erra quando deixa de mostrar aquelas outras passagens que registram o sofrimento, pobreza, dor, prisão e angústia dos servos fiéis de Deus. 
  • Ela acerta quando destaca a importância e o poder da fé, mas erra quando deixa de dizer que o critério final para as respostas positivas de oração não é a fé do homem mas a vontade soberana de Deus. 
  • Ela acerta quando nos encoraja a buscar uma vida melhor, mas erra quando deixa de dizer que a pobreza não é sinal de infidelidade e nem a riqueza é sinal de aprovação da parte de Deus. 
  • Ela acerta quando nos encoraja a buscar a Deus, mas erra quando induz os crentes a buscá-lo em primeiro lugar por aquelas coisas que a Bíblia constantemente considera como secundárias, passageiras e provisórias, como bens materiais e saúde. 

A teologia da prosperidade, à semelhança da teologia da libertação e do movimento de batalha espiritual, identifica um ponto biblicamente correto, abstrai-o do contexto maior das Escrituras e o utiliza como lente para reler toda a revelação, excluindo todas aquelas passagens que não se encaixam. Ao final, o que temos é uma religião tão diferente do Cristianismo bíblico que dificilmente poderia ser considerada como tal. Estou com saudades da época em que falso mestre era aquele que batia no portão da nossa casa para oferecer um exemplar do livro de Mórmon ou da Torre de Vigia...


por Augustus Nicodemuns
de O Tempora, O Moraes para o INPR Brasil





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Mormonismo avança no Brasil

Com inauguração prevista para o próximo dia 10 de junho, o sexto templo mórmon, em Manaus - os outros cinco estão localizados em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Campinas e Recife -, revela que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias está em pleno crescimento no Brasil. Segundo comunicado oficial, o próximo templo será construído em Fortaleza.

De acordo com o Almanaque da Igreja Mórmon, seus primeiros membros no Brasil foram os imigrantes alemães Augusta Kuhlmann Lippelt e seus quatro filhos, que chegaram ao Brasil em 1923. O marido, Roberto, foi batizado vários anos mais tarde. Em Manaus, os trabalhos da Igreja iniciaram em 1967 e no ano de 1978, foi organizada a primeira congregação dos santos dos últimos dias. O crescimento contínuo levou a organização à primeira estaca - um grupo de congregações semelhante a uma diocese - em 1988.

O anúncio da construção do primeiro templo mórmon, na região norte do Brasil, se deu em 23/5/2007. Atualmente o número de membros no Brasil ultrapassa 1,1 mihão, que se reúnem em duas mil congregações espalhadas pelo país.


Johnny Bernardo


é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de religiões, seitas e heresias, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e seitas do mal.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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O Neopentecostalismo e a ética cristã


“Crédito ou débito? - Quem pergunta é o pastor da Igreja Internacional da Graça de Deus que recolhe o dízimo e outras doações munido da máquina para registrar operação com cartão de crédito."

O trecho acima introduz a matéria Templo é dinheiro, da jornalista Sarah Corazza, da revista paranaense Ideias. A matéria é resultado de um mês de visitas a templos neopentecostais de Curitiba, quando a autora constatou que os “neopentecostais fazem sucesso de público e de bilheteria.” Segundo Corazza, houve um tempo em que Curitiba era conhecida como a “cidade das farmácias”, dada a quantidade de farmácias por metro quadro. Hoje a realidade é outra: são os templos neopentecostais que chamam atenção.

Presentes na capital paranaense desde pelo menos o começo dos anos 80, uma das que mais se destacam é a IURD, que, segundo a reportagem, adquiriu a antiga fábrica Matte Leão para abrigar o seu rebanho que não para de crescer. A jornalista atribuí tal façanha ao crescimento desenfreado e ambicioso dos cofres da instituição.

“Logo se vê que as neopentecostais fazem sucesso não apenas de público, mas também de bilheteria. É incalculável o que arrecadam diariamente. O suficiente para abrir templos e também para financiar o proselitismo eletrônico que ocupa boa parte do horário televisivo e radiofônico. Isso custa dinheiro. Muito dinheiro. Tanto que a Universal do Reino de Deus, do financista e bispo Edir Macedo, comprou a sua própria rede de televisão.” [1]

O que vemos em Curitiba se perpetua por todo o país e atravessa as fronteiras, com adeptos nos EUA, Europa e também nos países abaixo do Saara. Não apenas a IURD, mas também boa parte das igrejas neopentecostais vivem o bom da ignorância de milhares de brasileiros que diariamente peregrinam para seus templos em busca de cura e prosperidade. São massas sem doutrina que orbitam em torno de crendices populares e sessões de descarrego da Igreja Universal, passando pelas campanhas do sabonete ungido da Graça de Deus e do lenço abençoado do Valdomiro. Isaltino Gomes Coelho completa.

“As igrejas neopentecostais, e a IURD é o maior exemplo, não são compostas de pessoas envolvidas em uma Koiononia cristã. A maior parte não se conhece. Não há um projeto eclesiástico comum aos frequentadores, que são apenas clientes que buscam uma resposta mágica para seus problemas”. [2]

Essas igrejas, diria Antonio Gouveia Mendonça em sua obra “O Neopentecostalismo, Excerto de Estudos da Religião”, são controladas por pessoas ou por grupos sem dever para com os clientes, a não ser passar-lhes um produto, normalmente sob contribuição financeira. São usuários sem os direitos e sem um procon ao qual recorrerem. Consomem o produto, mas não têm poder de ingerir no sistema.

De acordo com o sociólogo Ricardo Mariano, autor de “Neopentecostais – Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil” -, “a preocupação dos neopentecostais é com esta vida. O que interessa é o aqui e o agora”. Essa citação consta da matéria “Evangélicos, quem são eles, por que crescem tanto e o que essa expansão significa para o Brasil e para o mundo”, publicada em fevereiro de 2004 pela revista Super Interessante. Nela, o jornalista Sérgio Gwevman faz uma análise do crescimento dos evangélicos brasileiros e atribui ao Neopentecostalismo um papel central nessa expansão. Uma das características do proselitismo praticado pela IURD, segundo Gwevman, é a atribuição aos demônios boa parte dos males que atingem os fieis.

“Para os neopentecostais, os homens não são responsáveis pelos atos de maldade que cometem: é o Diabo que os leva a pecar. Numa sessão de descarrego da Igreja Universal, o pastor explicou que, se o fiel enfrenta um problema há mais de três meses, é provável que esteja carregando um encosto. ‘Se a dificuldade completar um ano, daí não há dúvida: a culpa é do demônio’, disse a congregação. Ele não se referia só a entraves financeiros ou comportamentais. A receita vale para tudo, inclusive para doenças incuráveis. Assim, expulsar o demônio do corpo é a receita única para todos os males, de casamento infeliz até câncer no pulmão”. [3]

Wemerson Marinho, em sua análise “Pontos Discutíveis do Movimento Neopentecostal” levanta estas e outras questões relacionadas ao sistema litúrgico e isolamento espiritual que são submetidos os frequentadores das igrejas neopentecostais. Ele cita, entre outras coisas, a falta de uma liturgia eclesiástica e a pouca atenção dada às Escrituras Sagradas como a única regra de fé e conduta.

“Os neopentecostais afirmam que a Bíblia é a Palavra de Deus e, com isto, nós concordamos. Mas para eles, a palavra dos “profetas”, dos visionários, também é a Palavra de Deus. E, por isto, baseiam suas vidas e suas doutrinas também em visões, ‘novas revelações’ e em experiências místicas.” [4]

Esse é o ponto “x” da questão colocada pela maioria dos estudiosos do movimento, ou seja, a falta de uma doutrina sólida acompanhada de um discipulado sistêmico e bíblico. Há casos de indivíduos que se deixam batizar por mais de cinco vezes nos templos da IURD por acreditar que tal prática irá “purificá-lo por completo” (sic) como se as águas batismais possuíssem qualquer poder a não ser o simbolismo que proporciona aos verdadeiros nascidos da água e do Espírito.



É a falta de uma hermenêutica sadia a causa da maioria das crenças e práticas impuras praticadas pela liderança da IURD, segundo conclui o dossiê “Análise da Teologia e Práxis da Igreja Universal do Reino de Deus” publicado pela Igreja Presbiteriana do Brasil e que se encontra disponível no livro “Igreja Universal do Reino de Deus – Sua doutrina e prática” (S. Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997 p. 28). O documento faz a seguinte afirmação com relação à maneira como os líderes da IURD interpretam as Escrituras.

“O método de interpretação das Escrituras utilizado por bispos e pastores da IURD consiste em geral numa atualização ou transposição das experiências religiosas de personagens bíblicas para os dias atuais. Isto ocorre em virtude do que entendem ser a Bíblia. Macedo não parece ver a Bíblia como a revelação proporcional de Deus, mas como um livro de experiências religiosas, que começa com Israel no Velho Testamento e termina com a humanidade em Apocalipse, experiências estas que podem ser repetidas nos mesmos moldes, nos dias atuais.

Assim, a repetição ou re-encenação de episódios e eventos bíblicos é utilizada como ferramenta que lhes permite usar as Escrituras como base de sua prática... Por exemplo, assim como Noé fez uma aliança com Deus, podemos nós também fazê-la. Assim como Josué cercou as muralhas de Jericó e ao som de trombetas elas caíram, assim podemos cercar as muralhas das dificuldades e problemas e derrubá-los em nome de Jesus (usando uma trombeta de plástico e uma muralha de isopor). A vara que Moisés usou, o cajado de Jacó, os aventais de Paulo – todas estas coisas, e muitas outras tiradas das histórias bíblicas, se tornam tipos da utilização de apetrechos semelhantes, aos quais é atribuída (apesar das negações em contrário) algum valor espiritual na resolução de problemas”. [5]

Leonildo Campos, usado como referência pelo dossiê, faz coro ao dizer que a Bíblia é muito mais que um depósito de símbolos, alegorias e de cenas dramáticas ou até um amuleto para exorcizar demônios e curar enfermos do que a Palavra de Deus, encarada por outros protestantes como “regra de fé e prática”, e para os fundamentais, a “regra infalível”. Campos é autor do livro “Teatro, Templo e Mercado” (S. Paulo: Simpósio Editora, 1999, p. 82) onde faz uma análise do uso da fé como instrumento de riqueza pelas igrejas neopentecostais e demais grupos positivistas.

Superficialidade e engodo psicológico

Devido à ênfase na liturgia envolvente, curas e exorcismos, os neopentecostais são na sua maioria superficiais na fé e no conhecimento das Escrituras, segundo expõe Marinho em “Pontos Discutíveis do Movimento Neopentecostal”. Não somente isso, mas também a falta de uma doutrina bíblica e discipulado fazem com que os indivíduos que recorrem aos templos neopentecostais permaneçam ignorantes em suas crendices e continuem a praticá-las. Nesse ponto, a IURD se assemelha ao catolicismo ao incorporar todo tipo de religiosidade oferecendo-lhe valores cristãos, ao mesmo tempo em que libera seus dizimistas para que frequentem outros locais de culto e não tenham que se submeter aos princípios bíblicos e cristãos.

Por outro lado, existe uma tentativa de “isolamento” desses indivíduos, tirando-lhes sua capacidade de discernimento e/ou compreensão dos fatos que ocorrem em seu entorno. Um exemplo disso é o uso da psicanálise nas reuniões da IURD, como revela o artigo A ciência dos transes (Época, 28 de abril, 2003) que compara as práticas neopetencostais aos princípios psicológicos defendidos por Emile Durkhein (autor do estudo sobre a função dos transes nas sociedades primitivas) e o neurologista Jean-Martin Charcot (que mostrou como as técnicas de hipnose induzem as incorporações de “espíritos”). Na matéria, a revista cita uma declaração de uma ex-fiel da Igreja Universal que revela como os bispos e seus auxiliares aprendem a induzir o transe.

“Quando a pessoa está tonta, fica mais aberta para manifestar os demônios”, diz a obreira Aparecida Santos, ex-fiel da Igreja Universal, atualmente na Igreja Internacional da Graça de deus. Ela costuma pôr a mão na cabeça dos fieis e fazê-la rodar. Outro recurso que funciona é tocar músicas altas no teclado, com acordes bem tenebrosos. ‘Porque o demônio não gosta de silêncio’, explica a obreira. Aparecida aprendeu as técnicas do exorcismo na Universal, onde passou cinco anos como auxiliar de pastores.” [6]

Outro recurso utilizado pela IURD é o chamado “Jejum dos 21 dias” período em que os fieis devem se concentrar nos discursos da igreja e se isolar do mundo externo, sendo proibidas de ter acesso a qualquer tipo de informação, seja por meio de jornais, sites, rádio ou televisão. “O Bispo Romualdo e os pastores têm sugerido acessar apenas o blog do Bispo Macedo onde haverá textos para meditação nesse período de Jejum”, revela o frequentador Alexandre Fernandes em uma página da web.

O objetivo do “jejum da separação”, segundo os líderes da IURD, é a busca de uma vida espiritual equilibrada. No site IURD.pt encontramos a seguinte afirmação.

“O jejum, para muitos, indica apenas o abster-se da bebida e da comida, e esse é o jejum normal. Já o santo jejum não está relacionado só com isso. E o que é que o/a impede de estar em espírito? Por exemplo, ler livros ou revistas que não falem de Deus, ouvir músicas ou notícias que não falem de Deus, ou seja, que não o/a conectem a Ele e não alimentem o seu espírito.

Iremos fazer um jejum que inclui não assistir televisão, não usar a Internet, não ler revistas e livros, etc. Vamos orar três vezes por dia, de manhã, à tarde e à noite, e você vai fazê-lo e vai-se santificar, fortalecer e investir no seu espírito, para que seja cheia d’Ele”

Apesar do objetivo aparentemente louvável da Igreja Universal, existe por trás um engodo psicológico perigoso e que nos remete aos grupos conhecidos como “seitas destrutivas”. Tais segmentos recrutam novos discípulos com promessas de cura, prosperidade e encontro com Deus. Uma vez fisgado, o indivíduo é convidado a se juntar à igreja e se afastar de tudo que possa impedi-lo de desenvolver sua espiritualidade, como familiares e amigos próximos. A partir de então ele passa a pertencer à comunidade, isolando-se física e psicologicamente do mundo exterior. Nestas condições, a manipulação ou lavagem cerebral torna-se fácil, fazendo com que o novo discípulo concorde em entregar suas economias e se dedicar exclusivamente à comunidade religiosa, desenvolvendo atividades que beiram ao “escravismo”. É o caso da Seita do Rev. Moon, a Família (antiga Meninos de Deus), o Templo dos Povos etc.

A Igreja Deus é Amor, com toda sua ritualística e imposição doutrinária, promove algo semelhante ao submeter seus membros a um fanatismo cego e quase doentio, proibindo-lhes de assistir televisão, participar de festas ou mesmo ir à praia. O motivo pelo qual não há uma modernização nos padrões doutrinários da Igreja deve-se ao fato de que submetidos ao manto do fanatismo seus membros continuarão a ofertar e seguir fielmente os desmandos de seu líder máximo, o missionário David Miranda.

Na IURD, apesar da não-obrigatoriedade de se desenvolver uma vida religiosa pautada em usos e costumes, há problemas sérios relacionados às campanhas de prosperidade, como a fogueira santa que todos os anos arrecada milhões de reais e deixa famílias desamparadas, com a entrega quase que total de suas propriedades. Sendo não poucos os casos de ex-fieis que recorrem à justiça para reaver seus bens, com a alegação de indução ao erro.

Ausência da ética cristã

O maior problema relacionado às igrejas neopentecostais, e a IURD é o principal exemplo, é a ausência da ética cristã. Ela compreende diversos aspectos, desde a questão doutrinária até princípios morais defendidos pelo cristianismo bíblico. Augustus Nicodemos define a ética cristã nos seguintes termos:

“A ética cristã, em resumo, é o conjunto de valores morais total e unicamente baseado nas Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve regular sua conduta neste mundo, diante de Deus, do próximo e de si mesmo. Não é um conjunto de regras pelas quais os homens poderão chegar a Deus – mas é a norma de conduta pela qual poderá agradar a Deus que já o redimiu. Por ser baseada na revelação divina, acredita em valores morais absolutos, que são à vontade de Deus para todos os homens, de todas as culturas e em todas as épocas.”

A ética cristã pressupõe defesa dos bons costumes, da moral e de uma vida pautada nas Escrituras Sagradas. Aí temos a questão da defesa da vida, da família e da sociedade como pertencentes a Deus. Questões como o casamento e o aborto são uma das problemáticas quando comparamos a IURD a outras denominações cristãs. Com base em fatos puramente comerciais (digo “comerciais” no sentido literal da expressão), a IURD deixou de ver a vida como elemento máximo das decisões humanas, para transformá-la em uma oportunidade de negócio. A defesa do aborto nada mais é do que uma estratégia, um meio encontrado pela igreja para atrair católicos descontentes com sua religião. É com base em tais parâmetros que a Igreja Universal se define, delineando para o mundo que tipo de indivíduos frequentam seus templos.

São esses mesmos indivíduos que traem seus cônjuges, segundo pesquisa realizada pelo BEPEC – Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã. De acordo com o estudo, a porcentagem de neopentecostais que afirmam terem alguma vez praticado infidelidade conjugal é de 26,51%, contra os 21,43% de pentecostais. Os dados revelados pela pesquisa comprovam que a ausência de um discipulado eficiente e ética cristã nas igrejas neopentecostais, resultam em uma massa crua e sem vida composta por indivíduos das mais diferentes confissões religiosas que procuram seus templos atraídos pela propaganda de prosperidade e cura divina. Uma nova reforma se faz mais que urgente.

Notas


1. CORAZZA, S. Templo é Dinheiro, Curitiba. Revista Ideias, maio de 2011
2. COELHO, I.G. Neopentecostalismo, Campinas – SP. Palestra ministrada em abril de 2004 na Faculdade Teológica de Campinas.
3. MARIANO, R. Evangélicos, quem são eles, por que crescem tanto e o que essa expansão significa para o Brasil e para o mundo. São Paulo – SP. Revista Super Interessante, fevereiro de 2004, pág. 55
4. MARINHO. W. Pontos Discutíveis do Movimento Neopentecosta. Ipatinga – MG.
5. Comissão Permanente de Doutrina da Igreja Presbiteriana do Brasil. Igreja Universal do Reino de Deus – Sua Teologia e Sua Prática. S. Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997, p. 28
6. A Ciência dos Transes. São Paulo – SP. Época, abril de 2003 págs. 73 e 74
7. NICODEMOS A. Ética Cristã. São Paulo – SP. O Tempora, O Moraes, 2010.


Johnny Bernardo

é pesquisador, escritor, jornalista, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético de Pesquisa e Ensino Cristão), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de religiões, seitas e heresias, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e seitas do mal.


É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

Contato

pesquisasreligiosas@gmail.com
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