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Michael Jackson: depois de um ano, a polêmica continua

Há exatamente um ano morria Michael Joseph Jackson, ou apenas Michael Jackson, como preferirem, aos 50 anos de idade. Fiquei pensando muito nesta data, primeiro por perceber como o tempo passa rápido... e depois por ver que, talvez, o cantor tenha sido mais adorado em sua morte do que nos últimos anos de vida.

Porém, nessas breves linhas, quero refletir sobre uma polêmica que, 365 dias depois da passagem do artista “dessa para melhor” (tenho lá minhas dúvidas se foi para melhor mesmo), ainda alimenta os blogs de vários ex-Tj’s e a mente de testemunhas ativas:

Michael Jackson era ou não Testemunha de Jeová?

A coisa é mais complicada do que parece, porém a resposta é mais simples do que imaginam. Primeiramente, temos que lembrar que a Organização das Testemunhas de Jeová, cujo braço legal é a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, nos Estados Unidos, e a Associação das Testemunhas Cristãs de Jeová (ATCJ), no Brasil, caracteriza-se pela inconstância doutrinal, que eu chamo de “fluidez teocrática”: assim como a água toma a forma do objeto que a contém, da mesma maneira os ensinos das testemunhas se adaptam aos tempos e às conveniências sociais, culturais e, principalmente, econômicas. Em outro artigo prometo explicar essa minha teoria melhor, mas desde já quero dizer que, pela contagem de nosso irmão Fernando Galli, apologista de primeira (visitem: http://iacs33.blogspot.com), já mudaram de ensino 315 vezes até o começo de 2010.

Pois bem, até os fins da década de 1980, ser publicador (pessoa que vai à pregação, ao serviço de campo) era a coisa mais fácil que havia. Bastava estar estudando a Bíblia há algumas semanas, se arrumar bonitinho com sua melhor roupa domingueira, colocar uma bolsa ou pasta com a Bíblia dentro e alguns tratados (panfletos) ou revistas A Sentinela para distribuir, e aparecer na reunião de saída de serviço de campo. Aí você seria escalado para sair com alguém de sua família, se fossem TJ’s, ou com seu instrutor (pessoa que realiza o estudo da pessoa) ou mesmo um ancião (líder). Você seria contado como publicador não batizado quando entregasse à congregação o seu primeiro relatório de campo, ou seja, a compilação mensal de seu trabalho na pregação, em que se deve especificar a quantidade de horas gastas, os livros e revistas distribuídos e estudos realizados. A partir daí, seria aberto uma ficha em seu nome, que ficaria nos arquivos da congregação, com a sua “ficha corrida” de serviço, e você seria contado como membro efetivo. Para todos os efeitos, sua atividade seria enviada para “Betel” (o escritório nacional, em São Paulo), e nas estatísticas anuais você seria contado normalmente como uma das milhões de testemunhas ativas no mundo.

O fato de a pessoa sair ao serviço de campo, falar com as pessoas sobre Jeová de maneira oficial, possuindo o cartão de publicador, a identificavam, e até hoje é assim, como uma Testemunha de Jeová. A única coisa que mudou a partir do início dos anos 90 foi que, a partir de então, para ser contado como publicador não batizado, seria necessária uma reunião com alguns anciãos para formalizar sua entrada no rol dos pregadores. Lembro-me que, em 1994, quando me tornei publicador não batizado, a norma já havia mudado, e os anciãos foram em minha casa com meu instrutor fazer uma pequena sabatina para saber se eu me habilitava para ir ao serviço de campo. No final da palestra, eles enfatizaram isto: apesar de eu não ser batizado ainda, mesmo assim, aos olhos da comunidade, eu seria uma Testemunha de Jeová.

Que dizer então de Michael Jackson? Ele pregava com sua família lá na década de 70, antes de os procedimentos de aceitação como publicador mudarem. Por isso, fato incontestável é que ele saía ao serviço de campo com a mãe e os irmãos.



por Cleber Tourinho

ex-testemunha de Jeová, professor, linguista, revisor de textos, orientador em Medotodologia da Pesquisa Científica e está mestrando em Letras e Linguística pela Universidade Federal da Bahia





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