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Programados para testemunhar

Todos os dias centenas de pessoas saem às ruas do Brasil para testemunhar sua fé em Deus. Com sorriso no rosto, boa dicção e um farto material informativo, abordam quem passa pela rua para oferecer uma mensagem bíblica. Parecem tranquilas, felizes. Não se sentem constrangidas diante das adversidades. Acreditam que seu trabalho lhes renderá vida eterna. Quem as ouve testemunhar percebe sua capacidade de explanação, sua convicção doutrinária. Eles fazem parte de um exército de mais de oito milhões de testemunhas que seguem fielmente – e sem questionar – as diretrizes do “Escravo Fiel e Discreto” - termo que se atribuí à Torre de Vigia, Qg das Testemunhas de Jeová com sede no Brooklin, Nova York, EUA. 

Por trás da aparente tranquilidade de uma testemunha de Jeová existe algo desconhecido dos iníquos (termo utilizado pela Torre de Vigia para descrever quem está fora da Organização das Testemunhas de Jeová). Quem as recepciona em casa ou em uma conversa ocasional na rua ou em uma praça, não sabe que elas são programadas para testemunhar. Há um rigoroso processo de preparo de uma testemunha de Jeová que envolve encenação teatral nos Salões do Reino e cursos de preparação para o ministério de campo. Um verdadeiro preparo psicológico acompanha suas reuniões.

O Manual da Escola do Ministério Teocrático é uma prova de que Sociedade Torre de Vigia recorre a técnicas de controle psicológico na programação dos adeptos e no preparo destes para que exerçam o ministério de campo. A maneira como nos dirigimos às pessoas, a gramática, os gestos, e a maneira como impomos nossa voz é, para eles, de fundamental importância no trabalho de convencimento. A testemunha é orientada a focar a mente do ouvinte, mais do que o coração.

O instrutor hábil das boas novas pode transmitir conhecimento à mente dos ouvintes. Em pouco tempo, o estudante ou o ouvinte é capaz de repetir e explicar ele mesmo o ensino (...) a mente precisa absorver e assimilar informações. Ela é a sede do intelecto, o centro de processamento do conhecimento. Ela reúne informações, e, pelo processo do raciocínio e da lógica, chega a certas conclusões (MEMT, 1992, pp.73,74).

O manual também instrui como a testemunha deve implantar uma ideia na mente do ouvinte. “O tipo sumário da repetição é especialmente útil no caso dos discursos que envolvem o raciocínio e a lógica, e o tempo decorrido entre a consideração e a breve recapitulação ajuda a incutir as ideias mais a fundo na mente dos ouvintes” (p. 129).

Além do MEMT, outra base de estudos e manipulação psicológica é o livro Raciocínio à Base das Escrituras. Com base no modelo pergunta – resposta, o RBE oferece aos estudantes das Escrituras as mais diferentes respostas às dúvidas, questionamentos e oposições surgidas no trabalho de campo. Também são oferecidas sugestões de temas para contatos iniciais, como questões ligadas ao crime, segurança, emprego, moradia, família e, obviamente, temas associados à Bíblia e ao fim do mundo.

É uma satisfação encontrá-lo (a) em casa. Estou falando com os meus vizinhos sobre um ponto da Bíblia (ou, das Escrituras Sagradas) que é animador... Já se perguntou...? (faça uma pergunta que o leve ao tópico que está considerando) (RBE, 1989, p. 10)

Muitas pessoas estão preocupadas com o Armagedom. Ouviram líderes mundiais usar esse termo com referência a uma guerra nuclear total. Que acha que significara o Armagedom para a humanidade? Realmente, o nome Armagedom é tirado da Bíblia, e significa algo bem diferente do sentido que comumente se dá à palavra. (p. 10)

Um movimento com fortes tendências destrutivas

A organização fundada por Charles Taze Russell (1875) caracteriza-se pela existência de fortes tendências destrutivas. A programação das testemunhas inclui desde submissão às autoridades da STV– à qual não economizam elogios – até restrições como não participação em práticas esportivas, desincentivo a educação superior – considerada pela STV como “perigosa” -, proibição de contato com ex-adeptos e familiares que não façam parte da Organização, proibição de que os adeptos frequentem ou celebrem festas de aniversário, páscoa e natal.

A STV também restringe o acesso a livros como Crise de Consciência, do ex-membro da cúpula das Testemunhas de Jeová, Raymund Franz. Sites e fóruns de discussão mantidos por ex-adeptos também são vetados pela Organização. Ao mesmo tempo, incentivam as testemunhas a dedicarem o máximo de tempo possível na divulgação das doutrinas e materiais desenvolvidos pelo Escravo Fiel e Discreto, além de fazerem uso de textos apocalípticos como forma de alienação e controle psicológico – estratégia seguida por outros grupos destrutivos, como o Ramo Davidiano, Templo dos Povos, Ordem do Templo Solar etc. e que ocasionaram a destruição de centenas de vidas e famílias por todo o mundo.

Atualmente, no Brasil, a Igreja Cristã Maranata, a Universal do Reino de Deus, a Pentecostal Deus é Amor, a Igreja Sinos de Belém Missão das Primícias e a Comunidade Figueira (de Trigueirinho) desenvolvem algo semelhante ao seguido pelas seitas destrutivas dos EUA e da Europa – sendo, portanto, fortes candidatas a movimentos destrutivos. Na Igreja Pentecostal Deus é Amor, por exemplo, os membros são submetidos a regras de comportamento semelhantes as que são impostas pela STV às testemunhas, perseguição – e até mesmo processos judiciais – contra ex-membros.



Johnny Bernardo

é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos dedica-se ao estudo de religiões e crenças, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e movimentos destrutivos.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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