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Jesus celebrou a Páscoa em uma quarta-feira?

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Para satisfação dos sabatistas, mas sem qualquer respaldo bíblico, o professor Colin Humphreys anunciou à Reuters (18) que a última ceia se deu em uma quarta-feira. Professor da Universidade de Cambridge, Humphreys se dedica ao estudo da “última semana” desde 1983 e teve apoio de um astronauta para reconstruir o calendário pré-exílico que, segundo ele, o levou ao dia 10 de abril do ano 33 d.C. Nessa data - que o pesquisador chama de “um dia perdido” (referindo - se a quarta - feira) - Jesus celebrou a última ceia.

“Eu estava intrigado com as histórias bíblicas sobre a última semana de Jesus, nas quais ninguém consegue encontrar nenhuma menção de quarta-feira. É chamado de um dia perdido".

A credibilidade de Humphreys é posta a prova diante do fato de que o relato que temos nos evangelhos é inversamente outro. A cronologia oferecida por Marcos não nos deixa em dúvida.

“E, no primeiro dia dos pães ázimos, quando sacrificavam a páscoa, disseram-lhe os discípulos: Aonde queres que vamos fazer os preparativos para comer a páscoa?” (Mc. 14. 12)

“E, logo ao amanhecer, os principais dos sacerdotes, com os anciões, e os escribas, e todo o Sinédrio, tiveram conselho; e, ligando Jesus, o levaram e entregaram a Pilatos”. (Mc 15.1)

“E, chegada à tarde, porquanto era o dia da preparação, isto é, a véspera do sábado” (Mc. 15. 42)

“E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulso sete demônios” (Mc. 15.9).

Na descrição de Marcos temos uma cronologia precisa, que começa com a celebração da Páscoa (em uma noite de quinta-feira), o julgamento ao amanhecer (veja que a virada da quinta para a sexta-feira é explicita em 15.1), a crucificação a véspera do sábado e a ressurreição no primeiro dia da semana (domingo). Somente a menção ao primeiro dia da semana serve como prova cabal de que a ressurreição se deu no domingo, e não no sábado como afirmam os adventistas.

O argumento sabatista - de que Jesus ressuscitou em um sábado - se baseia em Mateus 12.40. Na passagem, Jesus associa sua morte e ressurreição aos três dias e três noites em que Jonas esteve no ventre da baleia. Acreditando serem três dias literais (que totalizariam 72 horas corridas) os adventistas chegaram à conclusão de que a quarta-feira seria a data - início das 72 horas mencionadas por Jesus. Logo, segundo eles creem, Jesus somente poderia ter ressuscitado no sábado. Tal interpretação não resiste à exegese bíblica.

Não é possível dizer, por exemplo, que Jonas permaneceu exatas 72 horas no ventre da baleia. Do mesmo modo, não podemos interpretar Marcos 8.31 como sendo 72 horas corridas. De acordo com a Mishnah Judaica, uma parte do dia é a totalidade dele. Josh McDowell acrescenta:

“Mesmo hoje, muitas vezes usamos o mesmo princípio com referência ao tempo. Por exemplo, muitos casais esperam que seus filhos nasçam antes da meia – noite de 31 de dezembro. Se nascida às 23h59, a criança será tratada, para efeito de imposto de renda, como tendo nascida há 365 dias e 365 noites daquela data. E isto é verdade, mesmo que 99,9% do ano já se tenha passado” (As Evidências da Ressurreição de Cristo)”.

Assim, de acordo com a lei judaica e com base em textos de autores renomados da atualidade, compreendemos o significado de Mateus 12.40. Mesmo que tomássemos os três e três noites de Mateus 12.40 como sendo 72 horas exatas, como poderíamos conciliar com o fato de que Jesus ressuscitou na manhã do primeiro dia (sendo ainda escuro, acrescenta João)? Ademais, temos como apoio a evidência de que o Judaísmo considera como primeiro dia da semana o domingo, e não a segunda, como no calendário solar (romano).

Portanto, seria forçar por – de – mais o texto de João – que afirma que Jesus celebrou a páscoa (Jo. 13.1) – como tendo ocorrido no dia 10 de abril, em uma quarta – feira. Primeiro, porque não há consenso entre os especialistas quanto à data correta da páscoa mencionada nos evangelhos. Segundo, porque não há um dia especifico da semana para celebração da Páscoa; o que há é uma referência ao dia 14 de Nisã. A cada ano, a Páscoa é celebrada em um dia diferente, como vemos na retrospectiva abaixo.

Ano 5762 (2001-2002) - Quinta-feira, 28 mar: Pessach
Ano 5763 (2002-2003) - Terça-feira 6 abril: Pessach
Ano 5765 (2004-2005) - Domingo, 24 de abril: Pessach
Ano 5766 (2005-2006) - Quinta - feira, 13 de abril: Pessach
Ano 5767 (2006-2007) - Terça - feira, 3 de abril: Pessach
Ano 5768 (2007-2008) - Domingo, 20 de abril: Pessach
Ano 5769 (2008-2009) - Quinta - feira, 9 de abril: Pessach
Ano 5770 (2009-2010) - Terça-feira, 30 de março: Pessach
Ano 5771 (2010-2011) - Terça-feira, 19 abril: Pessach

Com base na retrospectiva acima – e há projeções para além de 2050 – a possibilidade da Páscoa (do hebraico “Pessach”) descrita nos evangelhos ter acontecido em uma quarta-feira é mínima e, concordemos, difícil de estabelecer. Acrescenta-se ainda o fato de que nem mesmo há uniformidade de mês, podendo variar de março a abril – dependendo, obviamente, das fases lunares. O mais provável é que a páscoa teria começado em uma quinta – feira, porque então não faria sentido Marcos (e também João) mencionar o primeiro dia da semana como sendo a data em que Jesus teria ressuscitado – sabendo, como já provamos, que os judeus consideram como primeiro dia da semana o domingo.



por Johnny T. Bernardo
do INPR Brasil






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Neopentecostalismo (ou Cristandade?) Cartoon

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Os três primeiros textos desta série foram extremamente produtivos para mim. Foram crônicas que me levaram a reflexão profunda sobre os problemas mais evidentes do movimento Neopentecostal, mas que serviram para uma reflexão geral sobre a cristandade.

É fato que já repeti: os problemas estão mais evidentes no neopentecostalismo, mas infelizmente não se limitam a ele.

A crônica que farei neste texto procura lançar o alerta contra um conceito terrível que se infiltrou na igreja (como um todo) ao longo de anos recentes. Enquanto uma turma por aí se mobiliza contra todo e qualquer modo ‘institucionalizado’ de igreja, outros fazem da igreja algo como de propriedade particular. E o problema gerado pelo segundo grupo é, na maioria dos casos, o álibi do primeiro grupo.

Falarei desta vez a respeito das atitudes dominadoras que tomaram parte do cotidiano da igreja. E antes que pensem que sou um revolucionário libertino, já vou avisando: amo a igreja e luto pela igreja; sonho com a igreja santa e limpa, qualitativa e quiçá quantitativa. Sou contra o rebanho sem pastor, mas sou arbitrariamente contra o pastor e líder eclesiástico (seja em que nível for) que se julga dono da igreja ou do rebanho.

O Caminho para El Dorado

Definitivamente, não acho que este cartoon seja apropriado aos pequenos. Não pela estória em si, mas pelos elementos exagerados retratados no mesmo, com rituais e sensualismo, algo que não deveria estar presente num desenho que terá como maior parcela de público as crianças. Enfim, permita-me fixar no que encontrei de paralelo com a eclesiologia de alguns grupos por esse mundão a fora.

O desenho ‘O Caminho para El Dorado’ é uma animação dos estúdios DreamWorks, realizado em 2000, dirigido por Bibo Bergeron, Will Finn, Don Paul e David Silverman.

Conta a estória de Tulio e Miguel, dois trambiqueiros que levam a vida à custa de pequenos golpes. Neste contexto, conseguem o mapa para a cidade perdida de El Dorado, conhecida como cidade do ouro. A dupla acaba presa no navio do explorador Cortez, e após fugirem da prisão acabam encontrando El Dorado.

O povo desta cidade é extremamente místico, e julgam que o aparecimento da dupla é o cumprir de uma antiga profecia. Tulio e Miguel acabam sendo considerados deuses pelo povo de El Dorado. Entendendo que manter esta mentira renderia bons frutos, a dupla passa a manipular a população, que cegamente continua acreditando que estes são deuses de fato, os servido e seguindo a sua vontade.

Percebe-se que a estratégia do domínio é nosso foco comparativo.

Dominadores

Triste é constatar que no meio eclesiástico existe uma grande confusão entre o zelo e cuidado pastoral com o domínio e imposição. Assim como os personagens do desenho em questão, constatamos dia após dia nas mais diversas denominações, pastores, presbíteros, diáconos, líderes, que confundem a vocação de condução de um grupo de pessoas com propriedade. Agem como se o povo de Deus fosse posse sua.

Os últimos anos mostram quão trágica tem sido essa postura. Uma avalanche de livros, sites e blogs mostram como as pessoas se cansaram de ser usadas como fantoches e objetos dentro de igrejas.

E o que as Escrituras dizem a respeito dessa postura? Creio que não há texto mais claro que traga uma advertência tão pesada (e tão negligenciada) aos líderes eclesiásticos (em todo e qualquer nível) e que seja uma luz de alerta tão intensa. Confira:

“Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1 Pedro 5.2-4).

Assim como a dupla do cartoon em questão, existe uma turba de líderes que agem de modo ganancioso e dominador com o povo. Atente-se sobre a maneira como seus líderes tem pastoreado o rebanho, se de modo torpe ou de modo exemplar, como determina a Escritura.

Gostei muito como William MacDonald, homem que deixou um legado na área de Ensino Bíblico sadio, expõem esta passagem dando um remédio para este problema:

“Os presbíteros devem ser modelos, e não ditadores. Devem caminhar à frente do rebanho, e não empurrá-los por trás. Não devem tratar o rebanho como se fossem seus donos. Eis uma condenação explícita ao autoritarismo!"

Muitos abusos que ocorrem nos meios cristãos seriam eliminados se os líderes seguissem as três instruções dos versículos 2-3. A primeira acabaria com toda relutância. A segunda eliminaria o mercantilismo. A terceira daria cabo do oficialismo.” [1]

Parece que este texto foi arrancado de algumas bíblias por aí.

A esperança que move meu coração, dentre tantas coisas, é ver muitos cristãos abandonando o pensamento de cega submissão que reinou no povo de El Dorado, e vivam a liberdade em Cristo conforme o povo de Beréia (Atos 17.11).

Cristianismo não é centralização em homens que usam o Evangelho para lucrar e dominar. Cristianismo é Evangelho. Mudemos nossa postura e sejamos influenciadores para o bem da igreja nestes dias tão avessos à sã doutrina. Não caia no erro de endeusar pessoas. Viva o sacerdócio universal dos santos!

Toda honra e glória ao Senhor!


Nota

[1] MACDONALD, William. Comentário popular do Novo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. p.934



por João Rodrigo Weronka
do NAPEC para o INPR Brasil





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