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Happy Science invade o Brasil

Conhecido como “laboratório religioso”, o Japão dos antigos samurais e imperadores-deuses tem sido palco do surgimento de diversos grupos religiosos sincréticos, com raízes no Xintoísmo, Budismo e Cristianismo. Com o término da Segunda Guerra Mundial e a promulgação da Constituição Pacifista, em 1947, o Japão deixa de ter uma religião oficial – o Xintoísmo – ao proclamar a liberdade religiosa em todo o país. Antigas religiões até então oprimidas, como a Tenrikyo, Konkokyo, Oomotokyo e a Hitonomichi (atual Perfect Liberty), saíram das sombras do governo imperial para conquistar o arquipélago e outras regiões do mundo. Do encontro com a religiosidade ocidental também ganhariam destaque a Seicho-no-iê, de Masaharu Taniguchi (1930), e a Igreja Messiânica Mundial, de Mokiti Okada (1945).

A religiosidade japonesa também seria marcada, nas décadas seguintes, pelo surgimento de grupos fundamentalistas, como a Pana – Wave – grupo religioso fundado em 1977 por Yuko Chino, a partir de uma experiência com um grupo religioso conhecido como “A Verdadeira Lei de Chino”. Entre as décadas de 80 e 90 esteve envolvida em uma série de polêmicas no Japão, como previsões de que o país seria varrido por ondas eletromagnéticas e mudanças climáticas catastróficas. Em 1995, outro grupo religioso fundamentalista ganharia notoriedade internacional após promover um ataque terrorista ao metrô de Tóquio, quando pelo menos 6 mil pessoas foram expostas ao gás sarin, causando a morte de doze. Fundada em 1984 por Shoko Asahara – que afirma ser a reencarnação de Shiva, divindade hindu, Buda e Jesus – a Verdade Suprema passou a fazer parte de uma lista de grupos que colaboram com o terrorismo.

Na esteira de grupos religiosos fundamentalistas um novo movimento começa a se desenvolver a partir de 1986, por meio de Ryuho Okawa. Formado em Finanças Internacionais pelo Centro de Graduação da Universidade de Nova York, Okawa aponta o mês de março de 1981 como a data de seu “despertamento divino”. Segundo ele, revelações de grandes mestres budistas falecidos, como Nikko (1246-1333) e Nichiren (1222-1282), o descreviam como a reencarnação de El Cantare que, no passado, teria vivido na pele de La Mu, Thoth, Rient Arl Croud, Buda, Hermes e Ophealis. Okawa seria uma espécie de “núcleo da consciência de El Cantare”, cujo nome significa “o maravilhoso mundo de luz, terra”. Ele é, segundo acreditam seus discípulos, o deus de amor, a fonte de toda vida que envolve a humanidade e a Terra.

Autor de mais de 800 livros em 18 idiomas – e com mais de 100 milhões de cópias vendidas -, Okawa também ministra palestras em diversos países, tendo pelo menos 1400 palestras gravadas e disponíveis em DVD. Afirma ter como objetivo trazer felicidade à humanidade e em suas palestras ministra temas como prosperidade, as leis do Sol, o poder da mente, descubra o pensamento vencedor. Também é protagonista de polêmicas, como a ideia de que a Coreia do Norte pretende dominar o Japão e que o anjo Gabriel vai reaparecer em Bangkok, em 50 anos. Em 2009 fundou o Partido para a Realização da Felicidade, do qual é o atual presidente, por acreditar que os dois principais partidos do Japão não têm definido uma política clara em relação às ameaças da Coreia do Norte.

Dos três principais livros de Ryuho Okawa, dentre os quais um em que descreve o fim do mundo com o avanço do poderio militar norte-coreano e o aparecimento (ou renascimento) de Buda, foi adaptado ao cinema com títulos como o “Juízo Final” e o “Reaparecimento de Buda” – este último disponível integralmente no YouTube. Embora tenha se manifestado publicamente contra o atentado terrorista promovido pelo grupo de Shoko Asahara, em 1995, e tenham se enfrentado por diversas vezes em meios de comunicação do Japão, com frequência a imprensa local estabelece semelhanças entre os dois grupos. Na Uganda, há quatro meses, Okawa reuniu pelo menos 10 mil pessoas no estádio Nelson Mandela com transmissão ao vivo via 3 canais de televisão e teve a reprovação de evangélicos nacionais que protestaram contra o que chamaram de “abominação”.

Happy Science

Fundada em 1986 por Ryuho Okawa, a Happy Science (Ciência da Felicidade) logo alcançou países como Coreia do Sul, Austrália, China, Uganda, Inglaterra, Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá e Brasil. Inaugurado em maio de 2010, o templo da Shoshinkan do Brasil, situado na Rua Domingos de Moraes, 1154, na Vila Mariana, São Paulo, SP, passou a ser a base, de fato, de operação da Happy Science no Brasil que conta ainda com outras três sucursais na capital paulista, uma em Santos, Jundiaí, Sorocaba e fora do Estado, no Rio de Janeiro – a sucursal de Jundiaí teria sido a primeira aberta no Brasil. Com direção do monge Carlos de Melo, a Happy Science do Brasil promove diversos eventos por todo o país, como uma conferência para 500 pessoas no Hotel Parque Balneário, em Santos, em 2008, e, 2 anos depois, uma rodada de cinco palestras ministradas por Ryuho Okawa no Estado de São Paulo.

Não há estatísticas oficiais do número de seguidores, mas a Happy Science afirma ser uma “religião universal” que congrega e convida pessoas de diferentes denominações religiosas para participarem de suas palestras. “A Ciência da Felicidade é uma religião universal aberta para pessoas de todas as origens, sejam cristãs, budistas, hinduístas ou muçulmanas. Na qualidade de membros, todos estudam junto à doutrina universal da Verdade. Para o ingresso, há um formulário de inscrição e uma breve cerimônia de boas-vindas, na qual lhe perguntam, ‘Você acredita no Senhor El Cantare?’ Todos recebem o livro de orações, Darma do Correto Coração”. A IRH Press é a editora responsável pela publicação dos livros de Okawa no Brasil e da revista Happy Science. Hoje, 30, entre às 16 e 20h, na livraria Saraiva do Shopping Ibirapuera, promove uma palestra e o lançamento do livro As Leis da Imortalidade, de Okawa.


Johnny Bernardo

é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos dedica-se ao estudo de religiões e crenças, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e movimentos destrutivos.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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A Igreja Local e o confronto com The God-Man

Idealizado por Watchman Nee e Witness Lee, o modelo da Igreja Local chegou ao Brasil em 1959. Dezesseis anos depois Dong Yu Lan passou a responder, desde então, pelas atividades da IL na América do Sul. No mesmo ano, fundou a Editora Árvore da Vida e, nos anos seguintes, o jornal Árvore da Vida, a Estância Árvore da Vida – localizada em Sumaré, São Paulo, e que possui um auditório com capacidade para 10 mil pessoas – e a Expolivro Árvore da Vida – um ônibus – livraria que percorre o Brasil e países vizinhos divulgando as doutrinas da Igreja Local.

Após sua visita ao Brasil, em 1984, Witness Lee participou de uma reunião nos EUA onde apresentou um breve relatório do crescimento do modelo de igreja no país. Segundo ele, apesar de mais de 25 anos de atividade no Brasil, as igrejas possuíam não mais que mil frequentadores. Lee associou o baixo crescimento ao livro The God-Man (1981), onde Neil T. Duddy faz duras críticas ao modelo da Igreja Local, acusando-a de manipular financeiramente seus seguidores, incitar confrontos contra cristãos, perseguir ex-adeptos etc.

Segundo ex-seguidores de Witness Lee, seu esforço “evangelístico” consiste em enviar equipes para cidades circunvizinhas e contatar pessoas em abordagens diretas em praças ou de porta em porta. A IL também promove encontros mensais na Estância Árvore da Vida, além de reuniões nos BooKafés – mistura de livraria com cafeteria onde os seguidores se reúnem para estudar os livros de Witness Lee. Atualmente o número de seguidores da IL no Brasil gira em torno de 20 mil, havendo – segundo informações da IL – mil igrejas em todo o país, denominadas de acordo com a cidade em que está situada, como a Igreja em São Paulo, a Igreja no Rio de Janeiro, a Igreja em Belo Horizonte, a Igreja em Brasilia etc.

Intimidação

Semelhante à Cientologia, a Igreja Local recorre ao Judiciário na tentativa de intimidar supostos “difamadores” de suas crenças e práticas. Dois dos mais conhecidos processos judiciais – abertos por representantes de Witness Lee nos Estados Unidos – foram movidos contra os pesquisadores John Ankerberg e John Weldon e o autor de The God-Man. Dois anos depois de sua publicação em inglês, The God-Man foi traduzido para o alemão, dando início a uma nova corrida judicial.

Com a introdução, em 1999, na Enciclopédia de Seitas e Novas Religiões, publicação da Harveste House, de uma nota sobre a IL, um novo processo foi aberto no Texas, EUA e rejeitado pelo mesmo tribunal sete anos depois. Não satisfeitos, os representantes legais da IL entraram com uma petição no Supremo Tribunal Federal dos EUA, sendo novamente rejeitada em junho de 2007.

Exemplo da ofensiva da Igreja Local foi a declaração – feita por Witness Lee, em Anaheim, EUA, em 1984 – de que o livro “maligno” de Neil T. Duddy deveria ser destruído e retirado do mercado de todos os países – confira parte da reunião e declaração no YouTube.



Johnny Bernardo

é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos dedica-se ao estudo de religiões e crenças, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e movimentos destrutivos.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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Fé e tráfico de drogas

Fundada por Ezequiel Gamonal, na década de 60, a Associação Evangélica da Missão Israelita do Novo Pacto Universal (AEMINPU), de caráter sincretista, há pelo menos 5 anos virou alvo de uma investigação federal. Motivo: membros de comunidades instaladas ao longo do Rio Javari, na fronteira do Brasil com a Colômbia e Peru, teriam participação no plantio e refino de cocaína. A denúncia, veiculada no programa Fantástico (2/12), trouxe à tona uma questão: até que ponto denominações religiosas teriam envolvimento com o crime organizado?

A polêmica em torno da AEMINPU seria apenas mais um caso de sobrevivência, consequência da falta de recursos financeiros na selva amazônica? Embora seja verdade que boa parte das comunidades situadas na fronteira com o Brasil, o que inclui Colômbia, Bolívia e Peru, tenham na plantação da folha de coca uma das poucas opções de sobrevivência, em muitos casos o envolvimento parece ir um pouco mais além, como o refino e transporte de cocaína. Em agosto de 2000, segundo informações da Folha de S. Paulo, a polícia colombiana apreendeu uma escopeta, cinco revólveres, duas pistolas, três rádios transmissores e farta munição no barco em que viajava o então líder da seita, Ezequiel Jonas Ataucusi, irmão de Ezequiel Gamonal.

O deslocamento, há mais de duas décadas, de comunidades inteiras de discípulos dos irmãos Gamonal para a região fronteiriça com o Brasil, chamou a atenção da PF após suspeitas de que o deslocamento teria como objetivo explorar a mão de obra dos fieis no plantio da folha de coca. A migração para a planície da floresta amazônica peruana coincide com o começo do cultivo da folha na região. Há décadas cultivada nas regiões mais elevadas dos Andes, as planícies sempre foram vistas como impróprias para o cultivo. Segundo o Wall Street Journal, novas técnicas possibilitaram à Cushillococha, aldeia da tribo Tucuna às margens do trecho peruano do Amazonas, a criação de uma das maiores plantações de matéria-prima de cocaína do mundo.

Com sede em Lima, Peru, a Associação Evangélica da Missão Israelita do Novo Pacto Universal está presente em pelo menos 8 países da América do Sul, 4 da América Central, Estados Unidos e Espanha. Registrada no Brasil há 15 anos, a AEMINPU possui templos em Manaus, Belém, Boa Vista e São Paulo – seu primeiro templo no país teria sido construído em Tabatinga, Amazonas. São Paulo é a principal base de atuação da seita, sendo o missionário Antônio Marin o responsável pelas atividades da seita no Brasil.

Extensão

O suposto envolvimento de membros da AEMINPU com o tráfico de drogas não é um fato isolado. No Brasil, pelo menos três grandes denominações tiveram seus nomes envolvidos em denúncias e investigações por associação com o crime organizado: Mundial do Poder de Deus, Universal do Reino de Deus e Pentecostal Deus é Amor. No dia 11 de março de 2010 a IMPD teve seu nome estampado nos principais jornais após a prisão de três de seus pastores acusados de tráfico de armas. A IURD também seria alvo de acusações, como a do ex-bispo Carlos Magno de Miranda que, em entrevista ao blogueiro Vini Silva, revelou que a Rede Record de Televisão teria sido comprada com dinheiro do Cartel de Cali. Denúncias de um ex-tesoureiro da IPDA e investigações feitas pela PF a partir de 1996, revelaram que membros do alto escalão da Deus é Amor teriam participação em esquemas de lavagem de dinheiro do narcotráfico.

Características comuns (destrutivas) são facilmente percebidas entre as denominações com a seita peruana, como técnicas de controle psicológico, uso de temas apocalípticos como forma de coação (IURD – AEMINPU), regras rígidas de comportamento e de usos e costumes (IPDA – AEMINPU) e militância política (IURD – AEMINPU). A presença de uma figura messiânica, centralizadora e arregimentadora é outra característica comum quando comparamos as denominações com a seita peruana e outras seitas destrutivas, como o Templo dos Povos. Há sempre uma mensagem de libertação, de entrega física e espiritual, de combate às forças do mal, de isolamento psicológico e social, de rompimento com pessoas que possam atrapalhar nossa conexão com o divino, de entrega à causa ou ideologia. É parte da programação, da manipulação que centenas de adeptos são submetidos diariamente e em todo o mundo.


Johnny Bernardo 


é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos dedica-se ao estudo de religiões e crenças, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e movimentos destrutivos.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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Próximo papa poderá ser um cardeal brasileiro

Há fortes indícios de que o próximo papa poderá ser um cardeal brasileiro. Com a eleição do polonês Karol Wojtyla, em 1978, tinha fim uma hegemonia italiana de 458 anos – desde 1520 apenas cardeais italianos ocuparam a presidência mundial do Catolicismo Romano. Em 2005, foi a vez do alemão Joseph Ratzinger ser eleito papa. Conhecido como Bento XVI, Ratzinger colocou em prática seu conservadorismo, chamando a atenção para a importância do matrimônio heterossexual, o combate ao aborto e os métodos anticonceptivos. Ao mesmo tempo, deu sequência ao diálogo ecumênico, iniciado com o Concílio Vaticano II e colocado em prática pelo papa João Paulo II. 

A ruptura na hegemonia italiana e as mudanças advindas do Vaticano II abriram espaço para novas perspectivas com relação à sucessão papal. Por outro lado, o conservadorismo – característica comum dos antecessores de Bento XVI – é um aspecto que deve ser mantido no próximo Conclave, apesar de pressões internas e externas por abertura litúrgica e doutrinária. Por certo, os 115 cardeais com direito a voto tomarão este e outros aspectos, como a idade limite – que é de 80 anos –, histórico eclesiástico e intelectual como base para a eleição do novo papa, após o anúncio da renúncia de Bento XVI, marcada para o próximo dia 28 de fevereiro. É um fato novo para a cúria romana.

Possibilidades reais

Não obstante o cardeal italiano Ângelo Scola, 72, reúna características essenciais para assumir o comando mundial da Igreja Católica, há possibilidades reais de que o próximo papa poderá ser um brasileiro. Dos vinte principais candidatos em 2005, metade já ultrapassou a idade limite para participação na eleição, dentre os quais dois africanos: os cardeais Francis Arinze, 81, e Bernardin Gantin, 91, afastando a possibilidade de um africano ser eleito papa.

Apesar de desfavorável ao Brasil, a distribuição de cardeais por país e continente – dos 117 cardeais com direito a voto 63 são europeus, dos quais 23 italianos – poderá sofrer uma alteração com a entrada do arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, elevando o número de cardeais brasileiros com direito a voto para seis, ultrapassando a Índia – com cinco cardeais – e se igualando a Espanha e a Alemanha - o último sendo o país de origem do atual papa Bento XVI, eleito com a mesma quantidade de cardeais do Brasil.

Levando em conta o número de representantes latino-americanos, africanos, asiáticos e da Oceania – que somam trinta e sete cardeais -, a disputa com os representantes europeus e norte-americanos possui certo equilíbrio. Poderá ser um fator de vantagem aos postulantes brasileiros. Dos cinco cardeais – representantes do Brasil, dom João Braz de Aviz, 66, é um dos mais cotados para assumir o cargo. Dom Cláudio Hummes, 78, é quem possuiria as melhores condições, não fosse a renuncia, em 2010, ao cargo de prefeito da Congregação para o Clero, mesmo cargo ocupado por Joseph Ratzinger antes de sua eleição a papa.

Crescimento evangélico no Brasil poderá influenciar o próximo Conclave

O crescimento do movimento evangélico brasileiro poderá influenciar os rumos do próximo Conclave. Na eleição de 2005 o tema serviu de base para especulações jornalísticas e por parte de autoridades católicas, motivando a indicação, um ano depois, de dom Cláudio Hummes ao cargo de prefeito da Congregação para o Clero. A abertura de pelo menos 70 processos de beatificação ou canonização – atualmente existem 2 “santos” e quatorze beatos brasileiros – também é vista como uma tentativa de frear o avanço dos evangélicos. Mesmo que não eleito um cardeal brasileiro, também há a possibilidade de que o novo papa poderá surgir da América do Norte – os EUA é o segundo país com maior número de cardeais no Vaticano e o Canadá possui o nome do cardeal Marc Oullet, 68, atual prefeito da Congregação para os Bispos.



Johnny Bernardo

é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos dedica-se ao estudo de religiões e crenças, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e movimentos destrutivos.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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A fórmula neopentecostal

O aparente sucesso do Neopentecostalismo está sendo acompanhado por grupos religiosos que buscam uma melhor colocação no mercado religioso. Recursos audiovisuais, campanhas de cura e libertação, palavras de poder e marketing pessoal são mecanismos amplamente utilizados por líderes neopentecostais. Da experiência surgiu uma fórmula, um mecanismo, adaptável por qualquer organização religiosa.

Mesmo diante de um crescimento considerável nos últimos anos, a Renovação Católica Carismática (RCC) aos poucos parece ceder à fórmula neopentecostal. O surgimento de padres jovens e midiáticos, o uso de espaços não tradicionais – como a capela inaugurada pelo Pe. Marcelo Rossi, em Santo Amaro –, e a criação de uma liturgia participativa são evidências de que o movimento está se reconfigurando.

Surgida de uma experiência "pentecostal", na Universidade de Duquesne em Pittsburgh, Pensilvânia, EUA, em 1967, a Renovação Católica Carismática chegou ao Brasil no ano seguinte com a proposta de "reavivamento" do catolicismo nacional e ser uma opção às cruzadas evangelísticas da Segunda Onda Pentecostal Brasileira. No entanto, com o surgimento de igrejas como a Universal do Reino de Deus, no final dos anos 70, a RCC passou a enfrentar uma nova modalidade de "pentecostalismo" centrada em campanhas de cura e libertação e apoiada no uso maciço de meios de comunicação, começando pela extinta TV Tupi.

Apesar da ameaça, a RCC somente despertaria para a nova realidade no começo dos anos 90, quando cria a figura do padre pop star e passa a combater de forma mais dura o movimento neopentecostal. Ao mesmo tempo, investe em programas televisivos e autoriza a realização de missas de cura e libertação, como as conduzidas pelos padres Vanderlei Nunes (da Igreja Nossa Senhora das Graças, de Santo André, São Paulo) e Jader Pereira (do Santuário do Bom Jesus, na Mooca, também São Paulo).

Do Neopentecostalismo também seria adotada a doutrina da Maldição Hereditária. De acordo com MARIANO (1999) e depois SIEPIERSKI (2001), a MH teria sido usada pela primeira vez no IX Cenáculo de Maria da RCC de São Sebastião – SP, em que uma pregadora, vinda da diocese de Lorena (mesma diocese da Canção Nova) discursou: "Vamos orar para expulsar o espírito da pobreza, o espírito de Satanás, para tirar a maldição que colocaram na sua vida. Vamos todos orar: eu renuncio a toda depressão, a toda opressão maligna, vamos orar em línguas, eu rejeito toda miséria, eu rejeito toda maldição hereditária, toda feitiçaria (...)" (ALVES, 2005)

A MH também é mencionada, com certa frequência, em discursos do Pe. Marcelo Rossi e consta no livro do também carismático, Pe. Jonas Abib (ABIB, 2005: 20). Juntamente com a MH, também encontramos claras referências à Teologia da Prosperidade e da Saúde. Em um testemunho dado por uma fiel no IX Cenáculo de Maria, são perceptíveis às semelhanças com o Neopentecostalismo: "O capeta tem tirado a saúde dos servos do Senhor; o demônio tem prejudicado a situação financeira dos servos do Senhor, nós (aponta para o marido) não tínhamos dinheiro nem para pagar o ônibus do nosso filho. Eu tenho que dizer "eu quero esse carro" e confiar no Senhor" (ALVES, 2005).

Adaptações

Outras adaptações – ou semelhanças – são perceptíveis em pelo menos duas outras organizações religiosas: A Igreja Templária de Cristo na Terra e a Catedral Mundial dos Orixás. Na primeira, fundada pelo pernambucano Walter Pereira da Silva, em 2011, e que tem sua base na Rua Leais Paulistanos, 643, no Ipiranga, São Paulo, nota-se um sincretismo de crenças que envolvem elementos do catolicismo popular, sociedades secretas, religiões orientais e do neopentecostalismo.

Nas reuniões da Igreja Templária, além da presença de símbolos de sociedades secretas e imagens de "santos" católicos, louvores de autoria evangélica e campanhas inspiradas no Neopentecostalismo imergem multidões em transes "espirituais". Na campanha do Vale de Sal, adeptos enfileirados passam por cima de toneladas de sal enquanto recebem orações e passes do "apóstolo", muitos dos quais acabam "exorcizados". À semelhança das igrejas neopentecostais, a ITCT também mantém programas radiofônicos e televisivos onde conclama fieis a aderirem ao "Carnê da Gratidão".

Walter Sandro, que antes de iniciar sua empreitada de fé foi vendedor de seguros, radialista e palestrante motivacional, tem sido alvo de denúncias de estelionato por vítimas do chamado "Clube de Investimento". Mesmo em meio a várias denúncias e processos judiciais, o líder religioso continua oferecendo assistência e promovendo campanhas na sede mundial da Igreja Templária de Cristo na Terra e em outras dez filiais da denominação.

A Catedral Mundial dos Orixás Palácio de Ogum ou Centro Espírita Ylê Axé, com sede na Travessa Damião de Aguiar, nº 49, Maria das Graças, zona norte do Rio de Janeiro, é, certamente, a de maior interesse e curiosidade por misturar elementos do candomblé com características típicas do Neopentecostalismo, como palavras de poder e o uso de técnicas de Marketing – como propagandas em outdoors, onde expressões como "Pare de sofrer Agora" demonstra inspiração no Neopentecostalismo.

Recentemente operando a partir de uma filial na vila Formosa, São Paulo, a CMOPO vem ampliando sua presença na mídia. Na rádio Metropolitana AM e TV NGT, são veiculados depoimentos (escute um dos vários aqui) de "cura" e utilizadas frases típicas de pastores neopentecostais, como "através de sua fé", "auxílio espiritual", "romper todos os obstáculos", "não se entregar", "equipe de fé" etc. Ao mesmo tempo, insere os adeptos no submundo dos orixás africanos, com consultas de tarô e de búzios.

Assim como o fundador da Igreja Templária, o organizador da Catedral Mundial dos Orixás, Donizete Souza Braga – mais conhecido como Geremias de Ogum - também teve sua passagem pela justiça. Acusado de falsidade ideológica, foi preso em flagrante em 13/07/2005. Segundo a Conjur, o investigado teria feito se passar por padre em São Paulo e pastor em Santa Catarina, além de aplicar golpes em agências bancárias do Rio de Janeiro. Um ano depois, segundo o Espaço Vital, deixou a cadeia após liberação de um habeas-corpus.


Bibliografia

  • ABIB, Pe. Jonas. Reinflama o Carisma; São Paulo: Loyola; Cachoeira Paulista: Editora Canção Nova; 2004; 14ª ed; 
  • ALVES, Sônia Cantão; Testemunho dado no IX Cenáculo de Maria da RCC de São Sebastião, SP em 09/10/2005; 
  • MARIANO, Ricardo. Neopentecostalismo; sociologia do novo pentecostalismo no Brasil; São Paulo: Loyola; 1999; 
  • SIEPIERSKI, Carlos Tadeu; "De bem com a vida": O sagrado num mundo em transformação; Tese apresentada ao Departamento de Antropologia Social da FFLCH ; São Paulo; 2001.

Johnny Bernardo


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