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Silas Malafaia: salvador ou estrategista?

O número de evangélicos no Brasil - segundo último levantamento feito pelo IBGE, em 2010 - gira em torno de 42,3 milhões. Apesar de expressivo, o crescimento da igreja evangélica brasileira tem sido acompanhado pela ausência de unidade e de uma liderança nacional, por denúncias de corrupção, e, principalmente, por uma crescente ameaça oriunda de organizações lideradas por ateus e defensores da causa homossexual (LGBT). 

Para combater os abusos e fazer frente às ameaças seria necessário o surgimento de um líder que consiga reunir as várias vertentes do Protestantismo e que seja, ao mesmo tempo, isento de qualquer suspeita. Essa seria a fórmula, segundo alguns, para que o movimento evangélico possa dialogar com todos os organismos e segmentos da sociedade.

Várias tentativas foram e estão sendo tomadas por líderes como Edir Macedo e Marcos Feliciano, mas a existência de barreiras entre neopentecostais e pentecostais e o apelo político de figuras como de Feliciano são impeditivos que dificultam qualquer articulação. As divisões – e também disputas de poder – existentes em algumas igrejas evangélicas pentecostais, como nas Assembleias de Deus, também são reais impeditivos.

Consciente da fragilidade, o pastor e apresentador Silas Malafaia vem investindo na valorização de sua imagem, com promoção de congressos para pastores, incentivo ao diálogo interdenominacional e combate ao movimento LGBT. Na verdade, o apresentador elegeu o combate aos grupos homossexuais como seu cavalo de troia.

Na campanha a prefeito de São Paulo Malafaia assume uma posição de “liderança” ao afirmar que “Fernando Haddad não receberá nenhum voto evangélico”. A oposição ao petista se deve ao fato de que Haddad, quando ministro da Educação, aprovou a distribuição do chamado “kit anti-homofobia” - popularmente conhecido como kit-gay - nas escolas.

Estrategista

A aposição a Haddad e as constantes declarações de apoio a José Serra são parte de uma estratégia pré-definida, criada com o intuito de preencher a ausência de uma liderança nacional. A estratégia vem sendo colocada em prática há alguns anos, e possui semelhança com o que é feito pela Igreja da Unificação – o atual crescimento da IU tem como base sua estratégia de influência política – religiosa e sua crescente oposição ao comunismo.

De forma semelhante, Silas Malafaia promove encontros – com tudo pago, inclusive viagem e hospedagem – para pastores das mais diferentes denominações, onde expõem suas ideias e comercializa os produtos da Editora Central Gospel. Ao mesmo tempo, procura consolidar sua influência no movimento evangélico brasileiro ao se apresentar como uma alternativa.

A oposição ao PT e a crescente onda homossexual tem objetivos puramente estratégicos, dado o fato de que, assim como na IU em relação ao comunismo, o homossexualismo apresenta-se hoje como um dos maiores inimigos dos evangélicos – as severas críticas dirigidas por lideranças gays às igrejas evangélicas são uns dos indicativos.

Apesar da existência de um sentimento de moralidade e o fato de possuir raízes evangélicas conservadoras, Silas Malafaia segue uma lógica estrategista. No entanto, seu passado desqualifica-o como líder máximo dos evangélicos dada as suas constantes mudanças de opiniões. Antes crítico do Neopentecostalismo, do Modelo de Bogotá (ou igrejas em células) e do conjunto A voz da Verdade, hoje compartilha púlpitos e eventos com lideranças dos três movimentos, além de defendê-los abertamente.

A aproximação com José Serra, que, à semelhança de Haddad, também possui relações com grupos homossexuais e até chegou a participar, ao lado de Kassab, de uma das edições da Parada Gay, também pode indicar uma nova reconfiguração política. A impressão que se tem das articulações e movimentações são interesses puramente econômicos e estrategistas. A relação de empresas moonistas com empresários da Coreia do Norte é um exemplo de que o que prevalece, ao final, são interesses que vão além de ideologias e oposições. O mesmo parece ocorrer, embora em situação e ambiente diferente, com relação a inconstância de opiniões e de relações de Silas Malafaia.



Johnny Bernardo

é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de religiões, seitas e heresias, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e seitas do mal.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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As raízes do neopentecostalismo brasileiro

Em maio de 2010 surgia a mais nova denominação neopentecostal brasileira: a Igreja Mundial Renovada. Também conhecida como Igreja Renovada da Fé em Jesus Cristo, a IMR surgiu um mês após a saída do Bispo Roberto Damásio da Igreja Mundial do Poder de Deus. Membro da cúpula da IMPD (à época, terceiro no poder após o Bispo Josivaldo Batista), Roberto Damásio anunciou a sua saída no dia 20 de abril, sem revelar os reais motivos. No mês seguinte, a IMR estreia seu primeiro programa na NGT. Passados quase dois anos (completou no último dia 29 de maio), a Igreja Mundial Renovada já possui diversas filiais pelo Brasil e chegou à África. Sua presença nos meios de comunicação continua ativa e em fase de crescimento, com participação nas tardes e madrugadas da Rede TV, além de diversos programas radiofônicos.

O rápido crescimento da IMR e de outras denominações neopentecostais se explica em parte pela ofensiva de sua liderança e pelo espírito mercantilista que caracteriza suas atividades. O poder da comunicação e a ênfase nas campanhas de cura e libertação são características comuns do Neopentecostalismo. Quando falamos por Neopentecostalismo, estamos nos referindo aos grupos cuja origem remonta aos movimentos de confissão positiva dos EUA, através de líderes como Essek William Kenyon e Kenneth Hagin. No Brasil, apesar de estabelecida a década de 70 como o período em que começa a se desenvolver o que Paul Freston chama de “terceira onda pentecostal”, o Neopentecostalismo surge a partir de um conjunto de elementos característicos da “segunda onda pentecostal”, como o uso da mídia audiovisual na difusão doutrinária, o liberalismo, o combate às religiões de possessão e as campanhas de prosperidade.

A Igreja do Evangelho Quadrangular e a Igreja Cristã de Nova Vida foram os celeiros de onde o atual movimento neopentecostal surgiu e se estruturou. Harold William e Raymond Boatrigtht, atores e missionários enviados ao Brasil pela Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular, romperam com o tradicionalismo pentecostal brasileiro ao introduzir no país o pentecostalismo de costumes liberais. Começando por São João da Boa Vista (SP), em 1951, a IIEQ alcançou a capital do Estado em 1954, daí se espalhando por todo o país. À IIEQ se aliaram diversos lideres e membros das igrejas pentecostais e das igrejas históricas, atraídos pela mensagem de cura divina, propagadas a partir de São Paulo e tendo como ponto de apoio os programas radiofônicos.

Do Canadá, veio o Bispo Walter Robert MacAlister, que, a convite da IIEQ, pregou no Rio de Janeiro e em outros estados do Brasil, atraindo um grande número de seguidores. Depois de passar pelas Filipinas, Taiwan, Hong Kong e Paris, MacAlister decidiu se estabelecer no Brasil, morando primeiro em São Paulo e depois no Rio de Janeiro. Era o ano de 1959 quando MacAlister, sua esposa e filhos decidem se mudar para o Brasil. Dos filhos do casal (eles tiveram dois), Walter Robert MacAlister Jr. sucederia o pai na direção da Igreja Cristã de Nova Vida, algumas décadas depois. Estabelecido no bairro do Bonsucesso, em 1964, o primeiro templo da ICNV serviu de base para a inauguração, em 1971, do templo sede em Botafogo. A existência da ICNV está associada às campanhas de cura e libertação, promovidas pelo Bispo MacAlister, primeiro na Rádio Copacabana, em 1960, e depois com o programa Coisas da Vida, na extinta TV Tupi, a partir de 1978. No começo da década de 80, MacAlister abdica da pregação televisiva ao afirmar que a “televisão cria monstros” - talvez em referência ao Bispo Edir Macedo, que, à época, dava seus primeiros passos na telinha, em um programa intitulado “O Despertar da Fé”, também veiculado pela TV Tupi, canal 6.

O pai do neopentecostalismo brasileiro

Natural do Rio de Janeiro, Edir Macedo abandonou o curso universitário sem o concluir. Dizia ser uma pessoa deprimida. Procurou alívio no Catolicismo, não encontrando. Fez-se então adepto do espiritismo, sofrendo nova decepção. Depois de algum tempo se converteu ao pentecostalismo, ingressando na Igreja Cristã de Nova Vida. Da convivência com os irmãos, conhece seu futuro genro e parceiro de ministério, Romildo Soares – mais tarde Missionário R.R. Soares. Era 1968. Quatro anos depois deixam, juntamente com Roberto Augusto Alves e os irmãos Samuel e Fidelis Coutinho, a ICNV, quando, no mesmo ano, fundam a Igreja Cruzada do Caminho Eterno. Em 1977, após a saída dos irmãos Coutinho da ICCE, Edir Macedo, Romildo Soares e Roberto Augusto mudam o nome da denominação para Igreja Universal do Reino de Deus, começando na Abolição (zona norte do Rio de Janeiro) - Roberto Alves, que sagrou Edir Macedo como pastor e recebeu deste também o ordenamento, regressou à ICNV. Descontente com a prepotência e o espírito mercantilista de Edir Macedo, Romildo Soares deixa também a IURD para fundar, em 1980, a Igreja Internacional da Graça de Deus.

Único no poder, Edir Macedo coloca em prática parte de sua experiência e aprendizagem na Igreja Cristã de Nova Vida e associa está ao liberalismo da Quadrangular, criando em pouco tempo um império que, três anos depois, alcança os EUA, ao fundar a primeira IURD no exterior, na cidade de Monte Vermont, Nova York. Nove anos depois chega a Portugal, e em 1996 funda a primeira IURD no Japão. Segundo Campos, o sucesso da Igreja Universal pode ser medido ainda pelo número de templos abertos até 1995: 2.014 no Brasil e 236 em 65 países, nos quais são atendidos cerca de quatro milhões de pessoas, que participam dos “cultos”, “correntes de fé” e “campanhas de fé”. (Lusotopie, 1999, p. 355)

Embora discordante de alguns pontos defendidos por MacAlister, Edir Macedo se apropria de parte de sua mensagem, que envolvia cura divina e prosperidade por meio da fé. Deu prosseguimento, também, ao trabalho nos meios de comunicação, elegendo a televisão como seu cavalo de Tróia. Até então explorada por pentecostais, como a Assembleia de Deus, e igrejas históricas, como a Batista e a Presbiteriana, a televisão passa a ser palco, nos anos seguintes, do trabalho de convencimento e propaganda da Igreja Universal e da Igreja Internacional da Graça de Deus e, futuramente, da Igreja Mundial do Poder de Deus. As pentecostais e históricas ocupariam uma pequena parcela de horários, com exceção do programa “Vitória em Cristo”, antes sem denominação oficial, mas a partir de 2010 ancorada na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, sendo Silas Malafaia o presidente eleito.

Da IURD à Mundial Renovada

Da Igreja Universal do Reino de Deus surgiriam inúmeras outras igrejas neopentecostais, com exceção da Renascer em Cristo (de origem pentecostal – seus fundadores eram membros da Igreja Pentecostal da Bíblia, Jabaquara, SP), da Igreja Evangélica Cristo Vive (fundada pelo ex-pastor da Igreja Cristã de Nova Vida, o angolano Miguel Ângelo) e de grupos minoritários, como a Bola de Neve (fundada pelo Apóstolo Rina, ex-pastor da Renascer em Cristo) e Sara Nossa Terra (fundada pelos bispos Robson e Maria Rodovalho, de origem presbiteriana). Da Igreja Universal surgiria, ainda por fins da década de 70, uma dissidência organizada pelos irmãos Coutinho. As duas maiores dissidências da IURD, entretanto, surgiriam nas décadas seguintes: a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980) e a Igreja Mundial do Poder de Deus, do Apóstolo Valdomiro Santiago (1998).

Da IIGD não se conhece nenhuma dissidência, mas da IMPD surgiriam, entre 2010 e 2011, quatro igrejas: a Igreja Mundial Renovada (05/2010), Igreja Missionária do Amor (08/2010), o Templo Mundial Resgate da Fé (09/2010) e a Igreja Evangélica Celeiro de Deus (10/2011). Das igrejas dissidentes, três foram fundadas por aliados de Valdomiro Santiago: Givanildo de Souza (segundo na cúpula da IMPD e fundador da IMA), Roberto Damásio (terceiro na ordem e fundador da IMR) e Sebastian de Almeida (homem de confiança da IMPD e fundador do TMRF). Do quadro original de dirigentes e apresentados em matéria publicada pela revista Época, apenas Francileia de Oliveira (esposa de Valdomiro Santiago) e Ronaldo Didini (ex-homem de confiança de Edir Macedo, e consultor de mídia da IMPD) permanecem ao lado do fundador. Para às igrejas dissidentes também seguiriam, em grande número, outros bispos da IMPD. Novos líderes e igrejas dissidentes surgirão nos próximos anos. Aguarde!



Johnny Bernardo

é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de religiões, seitas e heresias, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e seitas do mal.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.


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