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O Brasil está livre da ameaça nazista?

Chamado por Dave Hunt de "quase-anticristo", Adolf Hitler abalou o mundo pós-primeira guerra mundial com sua doutrina e ideologia nazista. Os líderes nazistas estavam todos convictos de que o nacional-socialismo era uma nova religião destinada a governar o mundo e estabelecer uma nova era. Hitler disse: "Quem quiser ver somente um movimento político no nacional-socialismo sabe pouco a seu respeito... vamos eliminar o verniz cristão e produzir uma religião peculiar à nossa raça". O Dr. Ley, chefe da Frente de Trabalho Nazista, declarou: "Nossa fé é o nacional-socialismo, e essa fé religiosa não tolera qualquer outra jé junto com ela". [1] Com tais premissas Hitler dirigiu seu furor contra judeus, testemunhas de Jeová, ciganos, negros e homossexuais. Seu conceito de domínio era de que o governo deveria exercer controle total, submeter tudo e todos às suas diretrizes. Além dos seis milhões de judeus mortos nos campos de concentração, as infames SS torturam e assassinaram dezenas de outros civis dentro e fora da Alemanha.

Ambição mundial

Hitler não visava apenas à reestruturação política e social da Alemanha, mas ambicionava estender seu domínio para todos os países do mundo, num projeto que ficou conhecido como "Nova Ordem". Utilizando o conceito de guerra - relâmpago (Blitzkrieg, em alemão), em pouco tempo a Alemanha nazista estendeu seu domínio para diversos países europeus, encontrando resistência apenas por parte dos britânicos. Conquistada a Europa, Hitler se concentraria no domínio do Novo Mundo.

Em um discurso proferido em 1928, Hitler demonstrou seu interesse de conquista dos EUA. Também ambicionava estender seu domínio à Argentina, de onde submeteria os demais países da América do Sul. No livro Crônica de uma Guerra Secreta, Sergio Correa da Costa revela que a Argentina planejava expandir seu domínio sobre terras brasileiras com o apoio do Nazismo. Correa teve acesso à informação durante a década de 30, período em que serviu o Brasil como cônsul para a Argentina.

Prejudicada pela resistência britânica e a entrada dos EUA e a URSS na Segunda Guerra Mundial, aos poucos a Alemanha viu seu plano de conquista do mundo desfeito. A batalha de Stalingrado marcou o início da queda do Império Nazista, que veria sua última resistência cair com o avanço das tropas soviéticas sobre Berlim. A sete de maio de 1945 a URSS conquistava o último reduto nazista, pondo fim ao 3º. Reich. Cercado, Hitler e sua mulher cometem suicídio.



O Neonazismo no Brasil

Antes da derrota nazista e a prisão de membros importantes do 3º Reich, a presença do Nazismo em terras brasileiras já era uma realidade. Visando os mais de 100 mil alemães residentes no Brasil, fora os quase um milhão de descentes, em 1928 o Partido Nazista abriu sua primeira seção na cidade de Timbó, Santa Catarina. Não chegou a ser um partido organizado, com representação política, mas conseguiu agregar 2.822 alemães de dezessete estados da Federação. A imparcialidade de Getulio Vargas (que tinha interesses comerciais com a Alemanha) permitiu que o Nazismo atuasse livremente no Brasil. Em 1937, com a declaração do Estado Novo, Vargas colocou na ilegalidade todos os partidos políticos e perseguiu os que se recusavam a aceitar o novo modelo de governo – o que incluía a seção nazista.

Com a fuga de altos oficiais nazistas para a América do Sul (principalmente para o Brasil e Argentina) após a derrota da Alemanha frente ao exército soviético, um novo modelo de nazismo começou a ser difundido – o neonazismo. No Brasil, o neonazismo inicialmente ficou restrito às colônias alemãs, mas com o tempo passou a ganhar novos adeptos. Presentes principalmente na região sul (especialmente Santa Catarina e Rio G. do Sul) e São Paulo, o Neonazismo passou a incorporar características locais, como a oposição aos nordestinos. Embora não se intitulem racistas, os neonazistas têm sido protagonistas de uma série de atentados contra negros e homossexuais, mas também tem sua atenção voltada para os judeus.

Terror urbano

No Brasil, gangues como a Resistência Nacional, Ultradefesa, White Power, Carecas do Brasil e Kombat RAC promovem um verdadeiro terror urbano. Somente na capital paulista existem 25 gangues que espalham terror pela cidade. No site da Universidade de São Paulo (USP), a revista de História apresenta um boletim detalhado e em ordem cronológica dos principais incidentes envolvendo gangues de ideologia nazista contra grupos opositores, como os punks, e outras “raças inferiores”. A seguir destacamos alguns dados apresentados pela USP.

1. OESP, p. 2, Cidades 19/10/92 - Em Copacabana, briga entre duas gangues provoca tumulto entre os banhistas. Segundo o comandante do 19° Batalhão da PM,"há indícios de que a gangue dos Carecas, os mesmos que destruíram a casa de espetáculos Canecão no show dos Ramones no mês passado, queria expulsar as gangues dos morros da praia". Duas pessoas ficaram feridas na briga.

2. FSP, p. 1-7, 23/11/92 - Aécio Cândido dos Santos, gráfico, negro, 32 anos, foi surrado por 8 Skinheads, quando estava sentado num banco da praça Trianon, na av. Paulista, Durante a surra, os agressores diziam "negros, judeus e nordestinos lêm que morrer". Segundo a nota da imprensa, um dos Carecas, Adriano, de 16 anos, declarou que"os judeus querem ter poder, eles se infiltram nos lugares para fazer pressão e dominar todas as situações". Os oito rapazes foram detidos pela polícia militar e levados ao 78° D.P, Foram apreendidos com o grupo um revólver 38, um garfo e duas chaves de fenda. Segundo a versão dos rapazes, Santos teria tentado assaltar um deles e eles teriam reagido.

3. JB, 4/04/93 - Um grupo de 15 jovens neonazistas, levando bandeiras com a suástica, chutava carros de luxo em frente a um clube de elite, em Manaus. O cearense Severino Oliveira da Costa, 37, foi espancado e xingado de"rato e sub-raça". Severino registrou queixa contra a agressão, confirmada por motoristas de táxi.

4. FSP, p. 1-12,06/06/93 - Integrantes de gangues neonazistas foram indiciados pela polícia Federal, acusados de fazer propaganda racista através de revistas (fanzines) e meios de comunicação (programa Documento Especial, SBT, setembro de 1993), Os indiciados são Ivan Guidi Ferreira, André Luiz Ribeiro Sterckele, Christian Geltonogoff de Souza, Ranulfo Tales Dias de Macedo Soares, Nelson Ronaldo Ferreira, Cláudio Rossi, Luciano Castanho Xavier Rabello e Rodrigo Martinelli. Segundo o delegado da P. F. João Côncio Pereira, eles podem ser condenados por racismo e formação de quadrilha, com penas que vão de três a oito anos de prisão.

5. 12/03/94 - Carta anônima, endereçada ao Cônsul Geral dos EUA, defende as ações dos nazistas contra os judeus na segunda guerra, porque"os judeus fizeram alguma coisa para isto...". Acusa os judeus, entre outras coisas, pela alta do custo de vida no Brasil e pelo tráfico de cocaína. Segundo a missiva, que repete velhos chavões anti-semitas, o objetivo dos judeus seria de corromper o mundo para tomar o poder e subjugar as outras raças. Não sou racista nem anti-semita, diz o autor anônimo, que termina a carta afirmando:"hoje os judeus, mandam e desmandam no mundo... Hoje o mundo é só depravações e corrupções e podridões".

O boletim de ocorrências transcrito pela USP vai de outubro de 1992 a fevereiro de 1994 e revela um dado preocupante: o neonazismo está crescendo no Brasil e ficando cada vez mais radical e perigoso. Para combater os crimes, em 1993 foi inaugurada, em São Paulo, a Delegacia Especializada em Crimes Raciais (DECRADI) que nos seus dezoito anos de existência vem prendendo e desmantelando diversas quadrinhas formadas por neonazistas e colaborando com informações para diversos órgãos do governo e meios de comunicação.

Perseguição aos judeus

Com base em um relatório de mais de 100 páginas publicado pela Universidade de Tel – Aviv com respeito ao neonazismo no Brasil, a revista de História da USP estabelece a década de 80 como o período de reaparecimento do anti-semitismo no Brasil.

No Brasil o anti-semitismo reemergiu no final dos anos oitenta. Ele iniciou-se com negações da existência do holocausto e o aparecimento dos Skinheads brasileiros. Estes Skinheads são ativos especialmente nos estados ricos do Sul, como São Paulo. Eles não aluam apenas contra judeus. Os membros destes grupos enfatizam que são superiores porque pertencem a raça branca e assim eles também atacam aos migrantes pobres provenientes dos estados empobrecidos do nordeste.

O Brasil é um país conhecido por sua tolerância racial e harmonia, embora esta descrição idílica não seja precisa. O Brasil foi no passado um país de escravidão e, embora os negros sejam aceitos na sociedade e desfrutem de tolerância, não estão em situação de lotai igualdade. A emergência dos Skinheads e sua organização põem fim ao mito da tolerância. Os Carecas não deixam de efetuar violências contra negros ou mulatos dos estados nordestinos. Violência foi também utilizada contra judeus. [2]

As várias frentes do neonazismo

No Rio G. do Sul, a descoberta de um novo grupo neonazista pela polícia civil revelou a maneira como eles se organizam. Chamado de Neuland (nova terra em alemão), o grupo teria surgido em 1991 e descoberto um ano depois após a prisão de seu líder, um gaúcho de 21 anos, natural de Teutônio (RS), que teria assassinado um casal neonazista de um grupo rival. Segundo a polícia, o grupo se divide em três seguimentos: político, propaganda e paramilitar. O terceiro teria a obrigação de selecionar soldados, que seriam encarregados de preparar bombas e explodi-las em locais específicos. Sinagogas e passeatas de homossexuais seriam os principais alvos do grupo. [2]

Encarregados da difusão política e ideológica, membros intelectuais do neonazismo teriam como objetivo se infiltrar em governos através de candidatos simpáticos ao movimento ou diretamente associados a ele. Três políticos em especial são mencionados como “ligados” ao neonazismo: Jair Bosonaro (PP), Kátia Abreu e Demóstenes Torres (ambos do DEM). Bosonaro é tido como um dos mais atuantes, tendo recentemente se envolvido em disputas contra políticos favoráveis ao movimento gay e em recente pronunciamento no qual chama a presidente Dilma de homossexual. Em abril de 2011 neonazistas iniciaram uma manifestação de apoio ao deputado Bosonaro e convocaram via Internet militantes para um “ato cívico” a ser realizado no dia 9, às 11 horas, no vão da Masp, em São Paulo.

Segundo apurou o UOL, a convocatório, publicada por um membro do movimento neonazista “White Pride World Wide” no fórum “Stormfront.org”, denominado “Erick White”, diz: “Vamos dar o nosso apoio ao único Deputado que bate de frente com esses libertinos e Comunistas!!! Será um manifesto cívico, portanto, levem a família, esposa, filhos e amigos... (sic).” O autor finaliza a mensagem com os números “14/88”, simbologia nazista que faz referência a Hitler e ao nacionalista norteamericano David Lane, defensor do mito da supremacia branca. [3]

Disponível na Internet, o site do Partido Nacional-Socialista Brasileiro 88 (PNSB), na página principal traz a seguinte frase: “Quem jura pela Suástica deve renunciar a qualquer outra lealdade (sic)”. A que “outra lealdade” se refere o PNSB 88? A toda forma de governo, ideologia e credo religioso que contrarie seus ideais nazistas. São cinco os objetivos do PNSB 88 (1) Difusão e esclarecimento doutrinário; (2) Formação e qualificação da militância; (3) Denúncia da infiltração sionista nas esferas do poder; (4) Lançamento das bases de um movimento nacional-socialista estruturado e com perspectivas futuras; e (5) Atuação como um núcleo de resistência civil.

Denominados “Eixos da Militância NS”, o PNSB 88 apresenta sete principais frentes de atuação do militante nacional-socialista. Tais eixos revelam a forma como o neonazismo se articula no Brasil e como podemos identificá-lo no dia-a-dia.

1. Divulgação


“Definitivamente a principal frente de ativismo. Cada militante deve ter a consciência de que deve trabalhar como um agente de divulgação da Doutrina NS. Mas como? Espalhando material doutrinário em diversos ambientes e promovendo o despertar crítico daqueles que ainda não conhecem a nossa versão da História, principalmente através da Internet nosso principal espaço de atuação... Fora do meio virtual, ainda, há a possibilidade de que distribuam pequenos panfletos ou outros materiais sobre o nosso ideal (de forma segura, bem planejada e com conteúdo lícito) em bibliotecas, sebos, universidades, passeatas, manifestações, clubes e demais locais de concentração popular; lembrando que vale mais focar nas camadas sociais de maior capacidade intelectual, especialmente a classe estudantil, que naturalmente possui inclinação ao debate político e são mais receptíveis a idéias contestadoras)...

2. Produção


Dentro da proposta do estabelecimento de uma forte base doutrinária, não basta que apena reproduzamos o material pronto que outros já tenham elaborado; devemos trabalhar incessantemente na produção de material novo e de qualidade... Aqueles com bons conhecimentos em idiomas (principalmente inglês e alemão) tem a responsabilidade em concentrar seu ativismo nessa área de traduções.

3. Captação

Destacamos um problema que, mais de uma vez identificado, parece ser recorrente em nosso meio: a perda da "memória" de outros momentos da cena NS e conseqüente perda de material. Devemos procurar manter back-ups e arquivar tudo (de forma segura; por exemplo, o material eletrônico cabe perfeitamente em uma mídia de DVD, que pode ser facilmente guardada em local seguro). A idéia de captação não se restringe a isso, devendo ser entendida como um trabalho constante de colhimento de material, com posterior circulação. Uma coisa que pode parecer muito trivial, mas de resultados surpreendentes é a gravação do endereços eletrônicos (links) nos seus favoritos e posterior arquivamento em local seguro, através da criação de uma lista de sites de interesse.

4. Controvérsia


Promova a discussão sempre que possível; seja uma agente da controvérsia, de forma que possa "marcar uma posição" e fazer frente aos valores dominantes. Numa roda entre amigos, na apresentação de um seminário, num debate, sempre que possível questione, ainda que indiretamente, o poder estabelecido. Afronte o Sistema. Não necessariamente através da exposição de opiniões declaradamente NS, mas um ataque "pelos flancos".

5. Articulação


Ao mesmo tempo em que uma importantíssima meta do movimento (aglutinar a forças nacional-socialistas), a articulação entre os militantes é também a maior fenda na nossa segurança. Devemos promover a integração entre as diversas células, com o intuito de cooperação, mas de forma inteligente. Sempre que possível procure se aproximar de pessoas com idéias similares. Promova o contato entre grupos que estejam separados, mas que você eventualmente conheça. Informe-se a respeito de outros grupos nacionalistas que atuem na sua região e procure por nacional-socialistas em potencial.

6. Infiltração


Num projeto de longo prazo, tenha como objetivo ocupar posições sociais de destaque que lhe dêem a possibilidade de influir no seu grupo social. Uma forma de fragilizar o Sistema é através da infiltração de nossos militantes em variados segmentos, desde setores públicos, liderança de organizações diversas, grupos de estudo e pesquisa, empresas privadas, até quaisquer outros em que possamos difundir nossa visão de mundo.

7. Planejamento


A arte de conspirar, resistir contra o poder estabelecido, é algo que se aperfeiçoa com a prática. Procure sempre planejar o futuro do seu grupo, analisando as perspectivas do movimento. Reúna-se regularmente com sua célula e faça o Planejamento Estratégico das ações (daí a preferência a grupos pequenos, em torno de 4 pessoas). Analisem as ações passadas, façam uma leitura do momento atual e tracem metas futuras; tudo de forma objetiva, mediante a concordância e comprometimento de todos e com mecanismos de controle de resultados. O ativismo eficaz não se limita a agir cegamente seguindo orientações alheias. Pratique a discussão interna no seu grupo e tenha a iniciativa de propor novas frentes de atuação. [5]

Conclusão

Conquanto afirme respeitar e reconhecer as diferenças entre os seres humanos e a convivência pacífica com outros povos, o Nacional-Socialismo se diz uma doutrina Ariana. Um fato relevante revelado nas estratégias do PNSB 88 é a existência de “células nazistas” (há em torno de seis) em atividade no Brasil e a presença de seus militantes em diversas esferas da sociedade, embora o próprio PNSB 88 reconheça que tais ideais tenham como objetivo a divulgação intelectual (teórica) dado que não existem perspectivas atuais de uma atuação ostensiva. As diversas vertentes do neonazismo no Brasil, o aumento da violência e a constante formação intelectual de seus quadros são sinais de que o Brasil não está livre da ameaça nazista, apesar do esforço empreendido pelo Governo Federal e delegacias de combate ao racismo na tentativa de inibir tais movimentos e desmantelar suas organizações.

Notas

1. Hitler, o quase-anticristo, Dave Hunt, Chamada da Meia Noite, págs. 9 - 10
2. Revista de História, Boletim de informação do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo e da Comissão Teotônio Vilela, versão online
3. Jornal Zero Hora, março de 1992, versão online
4. UOL Notícias, 06/04/2011
5. nacional-socialismo.com/index.htm



Johnny Bernardo

é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de religiões, seitas e heresias, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e seitas do mal.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

Contato

pesquisasreligiosas@gmail.com
johnnypublicidade@yahoo.com.br




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