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Qual é o segredo da Igreja Mundial?

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A Igreja Mundial do Poder de Deus completará, em março de 2012, 14 anos de existência. De um grupo de 16 fieis, em pouco tempo a IMPD se transformou em uma multinacional da fé, com igrejas em quase todas as cidades do Brasil e em pelo menos treze outros países, dentre os quais Estados Unidos, Suíça, África do Sul, Filipinas e Japão.

Fundada em 1998 pelo ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Valdomiro Santiago, a IMPD possui hoje um vasto império, que conta com emissoras de rádio, TV a cabo, jornais e revistas. Seu maior investimento, entretanto, foi batizado de “Cidade Mundial” – uma área de 240 mil metros quadrados, localizada em Guarulhos, Grande São Paulo, e que conta com um galpão com capacidade para 100 mil pessoas sentadas. Para receber os visitantes, foi desenvolvida uma ampla estrutura que conta com um restaurante, hotel e lojas de conveniências.

Concebida como um local de concentração de fieis, a “Cidade Mundial” é um protótipo para outras cidades a serem instaladas em locais estratégicos do Brasil e exterior. Além da de Guarulhos, outra esta sendo erguida no Setor 66, Goiânia, Goiás e terá capacidade para 12 mil pessoas. Quase que ao mesmo tempo, a IMPD esta construindo um mega-templo que abrigará a sede do setor de Santo Amaro e que também poderá ser usada como ponto de encontro de obreiros e realização de vigílias.

Como uma igreja de 16 membros se transformou em uma organização com tamanha dimensão? E o mais importante: como conseguiu fundos para sustentar semelhante crescimento? É o que perguntam os estudiosos do movimento. Com pouco mais de 100 anos de existência, a Assembleia de Deus ainda não conseguiu desenvolver um programa significativo na área de comunicação de massa.

Apesar do crescimento financeiro e estrutural das igrejas neopentecostais, não se pode falar em número de membros. O principal motivo é que as igrejas neopentecostais, e a IMPD é um exemplo, não possui rol de membros e as pessoas que para seus templos convergem partilham outras confissões de fé. O que não se pode negar, entretanto, é a sua capacidade de alcance, sua estratégia de crescimento que envolve métodos de marketing e sugestões psicológicas.


Das igrejas neopentecostais brasileiras, a IMPD é a que mais vem despertando atenção por parte da mídia e do meio acadêmico em geral. Quais são os seus segredos? De que maneira ela se distingue de outras igrejas concorrentes? Para compreendermos tal dimensão religiosa, é preciso voltar ao princípio, compreender de que maneira o bispo Valdomiro Santiago organizou seu pequeno império.

Março de 1998

No pequeno salão da Rua São Paulo, na interiorana Sorocaba, o ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus dava inicio ao seu próprio grupo religioso. Era o mês de março. Pelo menos 16 pessoas participavam da primeira reunião da que seria a Igreja Mundial do Poder de Deus. Um sonho que começou com 16 fieis – ressalta a revista Mundial Sem Limites, ano V, setembro de 2011. A revista exibe fotos dos primeiros fieis, relatos dos que foram testemunhas oculares do surgimento da IMPD. Dona Rhute, uma das pioneiras da igreja, mostra um folheto que o ministério usava para evangelizar. O folheto, cujo título “Meu projeto de prosperidade”, dava os primeiros sinais de quais seriam as estratégias usadas pela nova igreja. A cura “milagrosa” de enfermos também já era uma realidade e seria o combustível para a expansão da IMPD.

Tamanho foi o impacto das campanhas milagrosas da Igreja Mundial, que em apenas dez anos já contava com mais de 1.000 igrejas no Brasil e exterior. De Sorocaba a sede se estabeleceu na Rua Camaleão, 439, Brás, São Paulo, num galpão com capacidade para mais de dez mil pessoas. Devido à proximidade com residências e as más condições técnicas do galpão, a IMPD enfrentou processos judiciais e teve seu templo fechado por várias vezes entre 2009 e 2011. Apesar de algumas dificuldades, a IMPD continua crescendo por todo o Brasil e o mundo. Fruto das arrecadações, Valdomiro e sua mulher exibem um estilo de vida diferente do de 13 anos atrás.

O homem que gosta de cultivar a fama de matuto mora em um condomínio de luxo em Barueri, na Grande São Paulo, e tem na garagem três carros importados blindados – uma Land Rover, um Toyota e um Peugeot. Motoristas e seguranças particulares estão sempre à sua disposição. Helicópteros e um jato particular também. A Igreja Mundial, por sua vez, tem inaugurado um novo templo por semana e honra, mensalmente, uma despesa em torno de R$ 40 milhões, revela Rodrigo Cardoso e João Loes na matéria “O homem que multiplica fieis”. [1]

O “sucesso” de Valdomiro se deve a uma série de fatores, como sua experiência como bispo e homem de confiança da Igreja Universal do Reino de Deus, sua ênfase em “cura divina” e Teologia da Prosperidade. Outra receita é o seu investimento maciço em meios de comunicação de massa, herança de sua experiência como apresentador de programas da IURD na Rede Record. Sua presença na mídia televisiva passou a ser uma realidade a partir de 2008, quando aluga 22 horas da Rede 21, propriedade do Grupo Bandeirantes. Um ano depois adquire espaço no horário nobre da Rede TV, e em 2011 assumiria o espaço antes cedido ao programa Vitória em Cristo, exibido nas madrugas de sábado na Band. Na CNT, um novo episódio: paga mais e tira do ar seu concorrente, o missionário R.R. Soares.

Problemas

O “sucesso” da Igreja Mundial do Poder de Deus seria completo não fosse alguns problemas, como a crise envolvendo seu templo do Brás com a Prefeitura de São Paulo, a dissidência de bispos, denúncias de lavagem de dinheiro e a suspeita de envolvimento (de alguns bispos) com o narcotráfico. A suspeita ganhou força com a prisão, em março de 2010, de três bispos da IMPD que ao retornar de Corumbá (MS) foram surpreendidos por uma operação da Polícia Rodoviária Federal. Abordados na cidade de Mirandia (MS), foram encontradas sete armas de fogo, de fabricação norteamericana, num fundo falso das portas dianteira e traseira de um veiculo que dois dos três bispos conduziam. Um terceiro bispo seria preso horas depois, em sua residência no bairro Nova Bandeirantes. O destino da quadrilha seria Niterói (RJ), de onde as armas seriam distribuídas para traficantes da região. Questionado, Valdomiro Santiago disse não "conhecer os envolvidos."

Nota

1. ISTOÉ, edição 2151, janeiro de 2011


Johnny Bernardo

é apologista, escritor, jornalista, colaborador da revista Apologética Cristã e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de seitas e heresias, sendo um dos seus campos de atuação a fenomenologia religiosa e religiosidade brasileira.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

Contato

pesquisasreligiosas@gmail.com
johnnypublicidade@yahoo.com.br




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Igreja que prega "cura de gays" na TV deve ser punida, diz Jean Wyllys

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O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), ganhador do Big Brother de 2005, afirmou em entrevista ao UOL e à Folha que padres e pastores devem ser sancionados por atacarem homossexuais em seus programas de TV e rádio e por promoverem programas de "recuperação" ou "cura" da homossexualidade. Segundo ele, a punição deve ser estabelecida em lei.

"A afirmação de que homossexualidade é uma doença gera sofrimento psíquico para a pessoa homossexual e para a família dessa pessoa", disse.

"Eu acho que tem que haver uma sanção. Eu quero que a gente compare, simplesmente, com outros grupos vulneráveis para saber se é bacana. Alguém que chegue e incite violência contra mulheres e contra negros, ou contra crianças ne sse país... Vai ser bem aceito?".

Jean Wyllys falou sobre o assunto no programa "Poder e Política - Entrevista", conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O projeto é uma parceria do UOL e da Folha.

O deputado afirmou que os religiosos "são livres para dizerem no púlpito de suas igrejas que a homossexualidade é pecado". O problema seria o uso de concessões públicas para "demonizar e desumanizar uma comunidade inteira, como é a comunidade homossexual".

Wyllys também criticou mudanças feitas pela senadora Marta Suplicy (PT-SP) à ao Projeto de Lei 122 de 2006, que propõe tornar crime atitudes homofóbicas -como já ocorre com o racismo no Brasil. Segundo ele, o texto apresentado por Marta "foi redigido pelo senador Demóstenes Torres [DEM-GO], que não é homossexual e, muito pelo contrário, não tem muita simpatia pela comunidade homossexual".

Assista a entrevista do deputado Jean Wyllys à Folha e ao UOL, aqui.

Comentário de Johnny Bernardo

O movimento LGBT quer mesmo colocar uma mordaça na boca dos evangélicos. Não sou a favor de qualquer que seja o tipo de discriminação, agressão ou qualquer outra forma de injúria. No entanto, a própria Constituição de 1988 nos garante liberdade de expressão. Em outra ocasião afirmei que o homossexualismo - salvo algumas exceções, como a questão genética - é uma opção de vida. Sendo uma opção, uma escolha, o homossexualismo é passível de análise e oposição. Se os movimentos sociais, religiosos, sindicais etc. são passíveis de critica, por que não o homossexualismo?

A declaração do deputado Jean Wyllys, de que as igrejas evangélicas - e respectivamente seus pastores - estão erradas ao financiar programas de recuperação de homossexuais, fere a liberdade de expressão. O capitalismo - e especialmente o americano - prega constantemente os erros do socialismo e até financia programas de difusão do neoliberalismo, opondo-se claramente aos programas sociais. Por que não podemos financiar programas de recuperação de homossexuais, quando a Bíblia claramente se opõe ao homossexualismo? Outro ponto que o deputado defende é a liberdade de demonstração de afeto (homossexual) em locais públicos, que igualmente deve receber nossa oposição e protesto.

Questionado sobre os "direitos fundamentais", o deputado Wyllys demonstrou claramente sua preocupação com a realização de um plebiscito e apontou a frente parlamentar cristã (especialmente a evangélica) como uma das maiores oposições ao direito homossexual. Wyllys, ao comentar sobre o ex - deputado Clodivil Hernandes (1937 - 2009), ressaltou que ele possuía uma aversão ao movimento Gay e que por várias vezes declarou ser contra as passeatas promovidas pelo LGBT.






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Qual é a melhor maneira para evangelizar um sectário?

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A coisa mais importante que nós podemos fazer por aqueles que estão envolvidos em seitas ou falsas religiões é orar por eles. Nós devemos orar pedindo que Deus mude os seus corações e abra os seus olhos (2 Coríntios 4:4). Nós devemos orar pedindo que Deus convença-os da sua necessidade de salvação através de Jesus Cristo (João 3:16). Sem o poder de Deus e a convicção do Espírito Santo, jamais teremos sucesso em convencer alguém sobre a verdade (João 16:7-11).

Nós também devemos viver uma reta vida cristã na frente deles, para que eles vejam a mudança que Deus realizou nas nossas próprias vidas (1 Pedro 3:1-2). Nós devemos orar pedindo sabedoria para sabermos como iremos ministrar a eles de forma poderosa (Tiago 1:5). Depois de tudo isso, devemos estar dispostos e à vontade no nosso compartilhar do Evangelho. Nós devemos proclamar a mensagem da salvação através de Jesus Cristo (Romanos 10:9-10). Nós devemos sempre estar preparados para defender a nossa fé (1 Pedro 3:15), mas devemos fazê-lo de forma gentil e respeitosa. Eu tive um encontro com alguns membros de uma seita certa vez, e um amigo que estava comigo proclamou a verdade, porém ele não o vez de forma gentil e respeitosa. De fato, os membros da seita eram muito mais “como Cristo” nas suas atitudes e maneiras do que o meu amigo. Nós poderíamos ter ganho a batalha pela verdade, mas nós perdemos a guerra pelas almas daqueles que nós buscávamos alcançar.

Finalmente, nós devemos deixar para Deus a salvação daqueles a quem testemunhamos. É o poder e a graça de Deus que salva as pessoas, não os nossos esforços. Mesmo que seja bom e sábio estar preparado para apresentar uma defesa vigorosa e ter conhecimento sobre as falsas crenças com as quais nos confrontamos - nenhuma dessas coisas irá resultar na conversão daqueles que estão presos nas mentiras das seitas e das falsas religiões. O melhor e o máximo que nós podemos fazer é orar por essas pessoas, testemunhar a elas e viver uma vida cristã na frente delas – confiando que o Espírito Santo irá fazer o trabalho de chamá-las, convencê-las e convertê-las.






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Igreja Dividida: as fragmentações do catolicismo romano

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É domingo, faz 24 graus em Itapecerica da Serra (SP), o Pe. Osmar de Carvalho atravessa a nave da Igreja com um incensário nas mãos, sobe ao altar e pede que os fieis se levantem para a prece inicial. Juntamente com o pároco, os 200 participantes pedem a Deus perdão por seus pecados e em seguida cantam Glória a Deus nas alturas. Após a primeira e a segunda leitura de trechos da Bíblia, os fieis são conduzidos ao altar para a celebração da Eucaristia. Homens, mulheres, adolescentes participam do pão e do vinho. Por fim, o padre invoca as bênçãos de Deus e despede-se da assembleia.

Essa poderia ser uma missa católica tradicional, não fosse o fato de que a Capela de São Miguel e Todos os Santos estivesse localizada no complexo da Fundação Centro Teosófico Raja (uma espécie de "Gnose Cristã") e fizesse parte também da Igreja Católica Liberal. Dirigida pelo Monsenhor Marcelo Rezende, a ICL foi fundada em 1916 (Londres) e afirma ser uma extensão da Igreja Vétero-Católica da Holonda, a qual se separou de Roma no século XIX por discordar da promulgação do dogma da Infabilidade Papal. No site da ICL Brasil, encontramos a seguinte informação.

"Pontos essenciais sobre a Igreja Católica Liberal

- Ela é uma Igreja Cristã, uma Comunidade de clérigos e fieis fundada em 1916 cuja sucessão apostólica, válida e reconhecida, deriva-se da Igreja Velho Católica da Holanda.

- Não é uma Obediência da Sé Romana nem uma Igreja Protestante, sendo autônoma e auto-governada.

- Reconhece a existência da Sabedoria Divina, a Teosofia, a pré-existência da Alma e sua evolução por meio de manifestações cíclicas no mundo, regidas pela lei de harmonia e justiça divinas..."

A ICL é apenas uma das milhares de denominações católicas independentes (cismáticas) existentes no mundo. No Brasil, pelo menos 70 denominações se dizem independentes administrativa e teologicamente da Igreja Católica Apostólica Romana.

A existência de igrejas e associações independentes do Vaticano (e isso sem mencionar as disputas internas, como as conhecidas entre tradicionais e carismáticos, adeptos do Opus Dei e jesuítas, conservadores contra liberais) põe em cheque uma vez por todas a teoria de que a ICAR seria "una" e a "verdadeira” Igreja de Cristo. Na verdade, é a ICAR a que mais possui placas e grupos cismáticos no mundo. Neste artigo veremos quem são, como e por que surgiram inúmeros grupos cismáticos a partir do Catolicismo Romano. Antes disso, convém conhecermos um pouco sobre a história da ICAR e os primeiros problemas enfrentados após 385 d.C.

Os primórdios da Igreja Católica Apostólica Romana

A ICAR cita o ano de 33 d.C. como a data de sua fundação. Isso se deve a ideia de que Pedro teria sido o "primeiro" papa a quem Jesus “entregou” as chaves dos céus e da terra. É a sucessão apostólica, invocada tanto pela Igreja Romana, como pelas igrejas católicas cismáticas. No prefácio do livro Crenças, religiões, igrejas & seitas: quem são? de Estevão Tavares Bittencourt, o Dom Antonio Afonso de Miranda faz a seguinte observação.

"Deus, sapientíssimo, não pode ser o autor de tantas religiões ou crenças. No mínimo, são ilusões ou enganos de interpretação da fé. Tendo Ele se revelado na "plenitude dos tempos" (Gl 4,4) em seu Filho Jesus Cristo, só o que Cristo transmitiu aos apóstolos e o que se herdou destes numa sucessão ininterrupta Igreja Católica tem foros de verdade revelada, portanto digna de fé". [1]

No mesmo prefácio, o autor faz uso também do cremos católico para validar a ideia de que a ICAR é a "verdadeira" e "única" Igreja de Cristo.

"8. Nossa fé católica tem, assim, um ponto fundamental de apoio: a sucessão apostólica. Para validade do ministério humano-divino exercido dentro da Igreja instituída por Cristo, deve haver um elo histórico de sucessão aos apóstolos; onde se rompeu este elo, cessou o ministério legítimo e a ligação com o Senhor que salva. É o caso das nossas irmãs igrejas ditas "cristãs", porém não-católicas, porque não são apostólicas.

9. Por isso, cremos que a união à Igreja Católica, efetivamente somente através da sucessão dos apóstolos, é garantia ordinária de remissão dos pecados, de vida em graça e penhor de salvação". [2]


Diferente do que afirma o Catolicismo Romano, a Igreja fundada por Jesus e posteriormente difundida por seus discípulos e apóstolos, jamais fez parte do catolicismo ou de qualquer outra ramificação posterior. Ou seja, é impossível estabelecermos qualquer conexão entre a ICAR (pelo menos na forma como se apresenta hoje) com a Igreja fundada por Jesus. Na verdade, não existe uma data específica que poderíamos indicar como o ponto inicial da ICAR, mas, sim, um processo gradual de paganização que culminaria com a formulação do que hoje conhecemos como Igreja Católica Apostólica Romana. No entanto, alguns autores propõem o ano de 385 d.C. como a data em que a Igreja começa a caminhar para o secularismo e paganismo. Nesse ano, o bispo Teodósio decretou o cristianismo como a religião "oficial" do Império Romano e ordenou que todos os pagãos se convertessem à nova religião. Como consequência, a Igreja (até então pura e cristã) entra em um processo acelerado de paganização, com a introdução de elementos do culto e das crenças pagãs e mitológicas.

A origem do termo "católica", aplicado à Igreja Romana

Sete anos antes do decreto de Teodósio, os bispos que se reuniram para o Primeiro Concílio de Constantinopla (381 d.C) deram à religião que se desenvolvia a designação de "católica". De origem grega, a palavra católica (καθολικος, lê-se katholikos) significa "geral" ou "universal". Era essa a primeira tentativa de "unificar" o cristianismo em torno de um organismo central.

Segundo um verbete da Wikipedia, o termo catolicismo é "usado geralmente para uma experiência específica do cristianismo compartilhada por cristãos que vivem em comunhão com a Igreja de Roma." É a partir do Primeiro Concílio de Constantinopla que começa a ser difundido o conceito de que a Igreja Católica é indivisível, ou seja, para ser cristão é necessário estar em comunhão com a Igreja de Roma. No Credo Niceno-Constantinopolitano ou Símbolo Niceno-Constantinopolitano, encontramos a seguinte confissão de fé:

"Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica."

Para os católicos romanos, essa quádrupla descrição da Igreja a distingue de qualquer outra religião do mundo - porque, segundo creem, ela teve origem com Jesus e os primeiros apóstolos.

Os primeiros cismas na Igreja

Pouco tempo depois da formulação do Credo Niceno-Constantinopolitano, que dava a Igreja de Roma exclusividade na condução dos fieis, começam a surgir às primeiras cismas (divisões) na Igreja. Antes da divisão ocorrida em 1054, que veremos adiante e com mais detalhes, a Igreja se viu diante das primeiras contestações ao seu governo e/ou patriarcado, pondo por terra o conceito até então difundido de que a Igreja é "una".

Nestorianos

Encabeçado por Nestório (patriarca de Constantinopla de 428 a 431 d.C), os seguidores da doutrina segundo a qual afirmava que em Jesus havia dois "eus" ou "duas" pessoas: uma divina, com a sua natureza divina, e outra, humana, com a sua natureza humana, se rebelaram contra a Igreja após o Concílio de Éfeso (431 d.C)), formando o que seria o primeiro grupo cismático conhecido.

Boa parte das ideias de Nestório foram tomadas de Teodoro de Mopsuéstia, quando de seus estudos na Escola de Antioquia. Condenado em 431 por defender, entre outras coisas, que Maria não era mãe de Deus ("Cristotokos" mãe de Cristo, em oposição ao "Theotókos", mãe de Deus, na visão católica tradicional), se refugiou em um mosteiro onde viveu o resto da vida. Com o tempo, o Nestorianismo passou a ser a posição oficial da Igreja do Oriente. Apesar de alguns terem regressado à fé católica, um pequeno número de seguidores resistem em países como China, Índia, Irã e Estados Unidos. A Igreja Assíria do Oriente é a principal das remanescentes nestorianas.

Monofisistas

Alguns anos mais tarde, Eutyches de Alexandria propôs uma doutrina contrária à defendida por Nestório. Segundo ele, em Jesus haveria um só "eu" e uma só natureza (a divina), uma vez que a humanidade teria sido absorvida pela divindade. Enquanto seu oponente defendia a distinção das naturezas humana e divina (sendo duas naturezas e/ou pessoas diferentes) Eutyches afirmava a completa união das naturezas - daí a origem do termo "Monofisismo" (do grego μονο = único).
A ICAR concluiu que a doutrina de Eutyches seria ainda mais perigosa do que a de Nestório. Condenado como herege pelo bispo Eusébio de Dorileia e, posteriormente, pelo Concílio de Calcedônia (451), Eutyches enviou cartas a alguns dos principais bispos da Igreja e ao Papa Leão I, nas quais pedia ajuda. No entanto, a excomunhão lançada sobre ele foi considerada irrevogável.

Após a morte de Eutyches (em 456), a Imperatriz Eudóxia Aelia aderiu ao monofisismo e o fez conhecido na Pérsia. Outro que contribuiu para a divulgação da doutrina foi Jacob Baradaeus, que no século 6 incentivou a união das várias vertentes monofisistas, culminando com a criação da Igreja Ortodoxa Siríaca. Grupos similares existem ainda hoje no Egito, Etiópia, Síria e Armênia, constituindo uma massa de quase 5 milhões de adeptos.

Valdenses

No século XII, um movimento denominado "Valdense" (fundado por Pedro Valdo, comerciante de Lyon) foi perseguido pela Igreja por defender o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua. Por essa mesma época havia sido estabelecida - no Concílio de Verona (1186) - a "Santa Inquisição", razão pela qual os valdenses se reuniam em grutas ou na casa dos familiares.
Quando começou (por volta de 1180), Pedro Valdo vendeu seus bens, deu o dinheiro aos pobres e passou a viajar e pregar a Palavra. O que o inspirou à busca do conhecimento e da salvação em Cristo, foi a leitura de Mateus 19.21, texto esse apresentado por um teólogo que havia sido chamado às pressas para auxiliá-lo em sua busca da verdade.

Encantado com a mensagem do Evangelho e sabedor de que a ICAR determinava que a Bíblia fosse lida apenas em Latim, Pedro Valdo encomendou uma tradução da Bíblia para a linguagem popular. Acabou excomungado, mas suas ideias se espalharam: não jurar, recusar a pena de morte, a hierarquia da Igreja e a crença em purgatório, indulgências e veneração dos santos etc. [3]

Boa parte das ideias defendidas por Valdo foram reunidas na Confissão de 1120, considerada como a "mais antiga confissão de fé protestante". Apesar de algumas diferenças com os credos de Lutero e Calvino, a confissão valdense fazia uma explícita condenação da liturgia católica (artgs. 10 e 11), bem como os sacramentos (art. 8). Os valdenses consideravam como válidos apenas os sacramentos do batismo e ceia do Senhor.

Albigenses

Também conhecido como "Catarismo", o movimento dos albigenses surgiu por volta do século XII, em Albi (sul da França) e pregava a existência de um deus do bem, criador da alma, e de um deus do mal, criador do corpo. Proibia o casamento, para evitar a procriação e legitimava o suicídio.

Considerados como hereges pelo Concílio de Tours (1163), os albigenses foram duramente perseguidos pela Igreja. Em Minerva, 140 discípulos foram condenados à fogueira porque rejeitaram o catolicismo como religião “una” e “verdadeira”. Pelo menos 50 mil albigenses foram torturados e mortos pela cruzada conclamada pelo Papa Inocêncio III.

Orientais Ortodoxos: o grande cisma de 1054

A maior crise enfrentada pela ICAR se deu em 1054, ano em que a Igreja perdeu parte de seu domínio no Oriente. Por obra de Miguel Cerulário - que se tornou patriarca de Constantinopla em 1043 -, foi lançada sobre Roma a excomunhão. Isso ocorreu após a visita do cardeal Humberto, enviado a Constantinopla pelo Papa Leão IX, para resolver a polêmica da filioque – doutrina criada pelo Catolicismo Romano para descrever a relação do Espirito Santo com o Pai e o Filho, e que tinha a desaprovação de Cerulário. Ao tomar conhecimento da situação e vendo que não havia possibilidade de acordo, Humberto solicitou a excomunhão de Cerulário e de toda a Igreja Bizantina, que passou a ser conhecida como “Igreja Ortodoxa”.

As raízes do problema

O cisma entre ocidentais e orientais não ocorreu de maneira definitiva em 1054, mas vinha se arrastando desde 395 d.C. data em que o Império Romano se dividiu em dois: o romano, com sede em Roma, e o Oriental, com sede em Constantinopla (atual Istambul, Turquia). A partir de então, ocidentais e orientais iniciaram um processo gradual de afastamento, onde qualquer incidente – por mais insignificante que fosse – poderia ocasionar na ruptura defintiva dos impérios. Mesmo após a divisão do Império, os cristãos continuaram unidos pelos laços do catolicismo – embora que, na prática, existissem inúmeras diferenças entre as duas confissões. Apesar do esforço de alguns para manter a unidade – como no caso do teólogo Justiniano, que procurou unir o mundo oriental e ocidental pela religião - as diferenças aumentaram e, com elas, as suspeitas de ambos os lados. O que culminou com a ruptura definitiva.

Os principais motivos que levaram ao cisma

Além das disputas em torno do filioque, pelo menos três outros fatores contribuiram para o afastamento.

  1. Estevão Tavares Bettencourt cita como um dos principais motivos do afastamento, a distância entre as duas igrejas. “Além disso, falavam uns o grego e outros o latim; os costumes litúrgicos e a disciplina iam se diferenciando aos poucos. Ora, isso causou mal-entendidos e rivalidades crescentes entre cristãos bizantinos e cristãos latinos...” [4]
  2. A oposição dos papas ao cesaropapismo, ou seja, a intervenção do Estado (no caso, dos países orientais) nos negócios da Igreja. O termo “cesaropapismo” foi criado pelo jurista alemão Justus H. Boehmer (1674-1747)
  3. Em 726, Leão III, imperador do Oriente, preocupado com o avanço do islamismo, publicou um édito no qual proibia a adoração de imagens nas igrejas do oriente. A resposta de Roma viria pouco tempo depois. Em 23 de outubro de 787, a ICAR convocou o Segundo Concílio de Niceia, no qual foi definido que: “como a venerável e vivificante cruz, fossem levantadas as veneráveis e santas imagens… Quer dizer, as imagens do nosso Deus e salvador Jesus Cristo, da imaculada mãe de Deus, dos anjos principais, e de todos os santos e homens bons. Que essas imagens seriam tratadas como memórias santas, adoradas, beijadas, mas sem especial adoração que é reservada ao Eterno. Qualquer que violar esta provada tradição imemorial da igreja e procurar remover qualquer imagem à força, ou por astúcia, será deposto e excomungado, se for eclesiástico; se for monge ou leigo será excomungado”.

Divergências doutrinárias

Para que possamos compreender o foço existente entre cristãos bizantinos e latinos, é necessário conhecermos as treze principais divergências doutrinárias que caracterizam as confissões.

Igreja Católica

1. Defende a supremacia do Papa;

2. No Concílio Vaticano I (1870) foi aprovada a infabilidade papal, segundo a qual o Papa é infalível em matéria de fé e moral;

3. O Espírito Santo procede do Pai e
do Filho (Filioque);

4. O purgatório é um lugar de purificação e/ou um lugar onde os pecados são purgados;

5. Defende a “imaculada” concepção de Maria, ou seja, que ela foi concebida sem pecado;

6. Após cumprir sua missão na terra,
Maria ascendeu aos céus;

7. A tradição é mais importante
que as Escrituras Sagradas.

Igreja Ortodoxa

1. É contra a supremacia do Papa, sendo um dos motivos da cisma em 1054;

2. Declara que o Papa não é
infalível em matéria alguma;

3. O Espírito Santo procede apenas do Pai;

4. Desde 1232 rejeita o dogma
do purgatório póstumo;

5. Embora reconheça a pureza de Maria, declara que ela foi concebida em estado de pecado original;

6. Nega a ascenção de Maria;

7. A tradição e as Escrituras Sagradas possuem o mesmo valor como fonte de revelação.

Outros reformadores medievais

Além dos movimentos surgidos a partir do Catolicismo Romano, também merecem destaque alguns líderes que, apesar de não terem constituído um grande número de seguidores, contribuíram sobremaneira com a defesa do Evangelho de Cristo e combate aos erros da ICAR. São eles:

Tanchelme da Antuérpia

Quem foi: As poucas informações disponíveis sobre Tanchelm revelam que ele - antes de ser conhecido como reformador religioso do século XII - serviu como monge ao lado do conde Roberto II, de Flandres e, posteriormente, com o duque Godofredo de Bulhão, na Palestina. Deixou as atividades sacerdotais para se dedicar à pregação do Evangelho, começando em Antuérpia, mas também ficou conhecido em Brahant, Flandres e Zelândia. Foi assassinado em Antuérpia por um padre fanático, quando estava em um bote com alguns dos seus discípulos.

Mensagem: Em suas pregações, Tanchelme condenava a Igreja Católica, a nulidade de todas as dignidades hierárquicas da Igreja, do Papa até o mais baixo clero, que a eucaristia estava contaminada por mãos indignas e que os dízimos não deviam ser pagos. [5]

Pedro de Bruys

Quem foi: Também conhecido como Pierre de Bruys e Peter Bruis, não se sabe ao certo quando e onde nasceu. No entanto, para alguns pesquisadores ele teria nascido por volta de 1095 em Canton Rosans ou em Pelvoux (Hautes Alpes, França). Outros apontam Bruys como sendo à cidade natal de Pedro. Serviu por alguns anos como sacerdote na diocese de Embrun, mas teria sido afastado de sua função e excomungado da Igreja por causa de sua oposição ao clero. Começando pela cidade de Yallonire (por volta de 1106), por quase vinte anos se dedicaria à pregação e combate aos erros da Igreja. Foi perseguido pelos prelados de Embrun, Gap e Die, quando teve que fugir para Gasgone (um principado no sudoeste da França). Por volta de 1126 foi preso e queimado em Saint Gilles.

Mensagem: Condenou o batismo infantil, a missa, as orações pelos mortos, as autoridades da Igreja, a veneração da cruz e boa parte da Bíblia (principalmente o Antigo Testamento)

Henry de Lausanne

Quem foi: Como os demais reformadores dos séculos XI e XII, são poucas as informações disponíveis sobre Henry de Lausanne, exceto que ele teria sido ordenado a monge na Abadia de Cluny (Borgonha, França) e exercido a função em Lausanne. Por volta de 1116 teria abandonado a vida monástica e incitado o povo contra o clero superior de Le Mans. É provável que Henry tivesse sido influenciado pelas ideias de Pedro de Bruys.

Mensagem: Não reconhecia a autoridade dos sacerdotes, a ordem monástica, o batismo infantil, o pecado original e a invocação dos santos.

Arnaldo de Brescia

Quem foi: Arnaldo nasceu na cidade de Brescia, norte da Itália, por volta de 1105 e morreu em 1155, em Roma. Estudou aos pés de Abelardo, na França, e recebeu as duas primeiras ordens eclesiásticas aos trinta anos de idade. Serviu no mosteiro de Mônaco. Após suas primeiras contestações ao catolicismo, foi perseguido e considerado como cismático pela ICAR. Também é provável que Arnaldo tivesse sido influenciado pelas ideias de Pedro de Bruys.

Mensagem: Pregava que a Igreja não deveria ter posses temporais, nem jurisdição; que a Igreja deveria voltar à simplicidade primitiva; rejeitava os sacramentos (exceto batismo e ceia do Senhor), a adoração aos mortos, o sacrifício na missa (transubstanciação) e defendia um Estado laico (sem interferência da Igreja no Estado e vice-versa).

A Igreja e os grandes desafios do século XXI

Após as crises enfrentadas durante a Idade Média, Moderna e início da Contemporânea, a ICAR mais uma vez se vê diante de um novo dilema: como conter o avanço das igrejas católicas cismáticas? Embora não se saiba ao certo o número de igrejas independentes, o que se tem de concreto é que a Igreja está passando por um processo acelerado de desfragmentação. A ideia de que a ICAR é “una” e que são os evangélicos os que possuem inúmeras denominações e grupos cismáticos, já não mais pode ser sustentada diante dos fatos que chegam todos os dias da América, Europa e África.

O fantasma que persegue a Igreja hoje não é mais o mesmo da era medieval, quando o Tribunal da Inquisição tinha plenos poderes para julgar e condenar os “hereges”. Os inimigos mais temidos pela Igreja não provém do Oriente Médio ou África, mas sim do seu próprio seio. A cada dia surgem novas igrejas e associações lideradas por padres casados e que foram proibidos de exercer o sacerdócio por discordarem de certas posturas do Vaticano, como o celibato obrigatório, as campanhas contra o aborto e a eutanásia, o direito da mulher de exercer cargo na Igreja, a infabilidade papal etc. Algo que também tem gerado conflito são as denúncias de abuso sexual e homossexualismo no clero e a proteção dada pela Igreja aos infratores.

Movimentos de Reforma

Movimentos como “Manifestação da Igreja” (com sede na Suíça) e Nós Somos Igreja (com sede em Roma) realizam constantemente protestos contra o Papa e pedem a liberalização da ICAR. Esses movimentos não visam criar novas igrejas, mas reformar a Igreja de dentro para fora. Querem uma nova Igreja, mas não uma nova placa. Vejamos, por exemplo, o que diz o Movimento Internacional Nós Somos Igreja.

“O Movimento Internacional Nós Somos Igreja, fundada em Roma em 1996, está empenhada na renovação da Igreja Católica Romana a partir do Concílio Vaticano II (1962 – 1965) e do espírito teológico desenvolvido a partir dele.

Nós Somos Igreja evoluiu do referendo Igreja na Áustria em 1995, iniciada após o escândalo de pedofilia em torno do cardeal Viena Groer. Estamos presentes em mais de vinte países.
Como os estudos de renomados sociólogos internacionais têm provado, Nós Somos Igreja é um movimento de reforma dentro da Igreja como a “voz do povo nos bancos...”

Tal é o objetivo do movimento Manifestação da Igreja, que no dia 8 de março de 2009 reuniu cerca de 1.500 pessoas em um protesto pelas ruas de Lucerna, Suíça, cujo lema “Entrar, em vez de sair” dirigiu-se a uma “Igreja dogmática, estreita, autoritária e estranha ao mundo”.

Movimentos Independentes

Outras não menos carismáticas partiram para a guerra total contra a IACR, como as Redes de Missões Católicas, a Igreja Católica Brasileira, a Igreja Católica Americana, a Igreja Católica Polonesa etc. que afirmam serem movimentos independentes de Roma, mas que “possuem” a validade apostólica.

Declarações

Vejamos algumas declarações que provam de maneira enfática o que estamos tentando provar aqui.

Igreja Católica Brasileira

“A Igreja Católica Brasileira é uma instituição religiosa, cismática (discordância de opiniões) da Igreja Católica Apostólica Romana, fundada em 6 de julho de 1945, por Dom Carlos Duarte Costa”.

Rede de Missões Católicas

“É um movimento da fusão de alguns grupos católicos não romanos, iniciado em 1980 e que unia padres e missionários de várias igrejas e até de alguns evangélicos. O mais conhecido deste movimento é o padre Jair Pereira. Tornou-se famoso pelo programa de rádio e TV “Hora da Eucaristia”.

Igreja Católica Americana

“Não estamos sob a jurisdição da Igreja Católica Romana e, como tal, não estamos sujeitos às suas leis e regulamentos”.

Igreja Católica Breakaway

“Os católicos não em comunhão com Roma.. embora conscientemente abrace a tradição católica, tem optado por se separar de Roma”.

Igreja Mariavete

“É uma organização independente cristã que surgiu da Igreja Católica da Polônia, na virada do século 20”.

Essas são apenas algumas das inúmeras igrejas e associações não – romanas, ou seja, não submetidas ao Vaticano. Poderíamos citar outras, tais como:

a) Com sede no Brasil. Igreja Católica Apostólica Carismática, Igreja Católica Apostólica Cristã, Igreja Católica Apostólica de Jerusalém, Igreja Católica Apostólica Ecumênica Contemporânea, Igreja Católica Apostólica Nacional, Igreja Católica Apostólica Tributária, Igreja Católica Ecumênica Renovada, Igreja Católica Apostólica Heterodoxa etc.

b) Com sede nos Estados Unidos: Paróquia Católica Nacional, Santa Perpétua y Felicidad Iglesia Católica, Divino Niño Santuário de Jesus, Igreja Rey de Reyes, Igreja Cristã Apostólica norte-americana, Igreja Católica de Cristo, Igreja Católica Ecumênica Americana.

c) Com sede no México: Igreja Católica Mexicana, Igreja Mexicana de Jesus, Igreja Católica de Nosso Senhor Jesus Cristo, Igreja Católica Apostólica Santo de Melo, Igreja Católica Apostólica Santo do México

A Maria Legio

No oeste do Quênia existe um movimento conhecido como Maria Legio (do latim “Legião de Maria”), fundado pela profetisa Luo Gaudencia Aoko e pelo profeta messiânico Blasio Simeo Malkio Ondetto. Segundo a Wikipédia em inglês, ambos foram excomungados pela Igreja Católica Romana em 1960 (eles pertenciam à diocese de Kissi, no distrito de South Nyanza).

Quando começou (em 1963), a Maria Legio possuía em torno de 90 mil adeptos. Em 1980 o número chegou a 248.000 mil. Segundo estimativas do governo queniano, atualmente existem cerca de 400.000 mil seguidores da Maria Legio. A sede fica na aldeia de Got Kwer, localizada a 15 km de Migori, Nyanza. Possui estrutura eclesiástica própria e o seu atual papa é o queniano Raphael Tito Otieno.

Ainda segundo a Wikipédia, a Maria Legio não é a única Igreja cismática do Quênia. Somente em 1966 foi registrada a existência de 160 igrejas independentes e com cerca de 600.000 mil seguidores.

O movimento dos padres casados

Uma das principais razões do surgimento de inúmeras igrejas cismáticas ao redor do mundo é o número cada vez maior de sacerdotes que saem ou são expulsos da ICAR por defenderem a não-obrigatoriedade do celibato. Segundo a Confederação Internacional de Padres casados, há pelo menos 150.000 padres casados nos cinco continentes. No Brasil, são em torno de 5 mil. A Associação Rumos é a principal representante da categoria no Brasil. Ela se define da seguinte maneira:

“A Associação Rumos foi fundada em 16 de Agosto de 1986, na cidade de Brasília, Distrito Federal, para congregar os padres, oriundos do clero da Igreja Católica Romana no Brasil, que deixaram o exercício do ministério sacerdotal para casar. É uma sociedade civil de direito privado, de âmbito nacional, com finalidades assistenciais, filantrópicas, culturais e educacionais, sem fins lucrativos, com sede e foro em Brasília.

Representa os mais de cinco mil padres casados do Brasil e suas famílias, que formam o Movimento das Famílias dos Padres Casados (MFPC). A Associação Rumos foi criada para servir ao MFPC como personalidade jurídica, estrutura e objetivos determinados, de acordo com as exigências legais do país.

Sendo assim, a Associação Rumos tem como objetivo ser o suporte jurídico e financeiro do Movimento das Famílias dos Padres Casados – MFPC, além de promover a mútua ajuda entre os associados, contribuindo para a sua realização pessoal, familiar, profissional e religiosa, cultivando a amizade entre os padres egressos do ministério e suas famílias.” [10]

Assim como a Rumos, inúmeras outras associações atuam em diversas partes do mundo na defesa da não - obrigatoriedade do celibato e são apoiadas por igrejas como a Igreja Católica Americana, a Igreja Católica Polaca e movimentos de reforma da ICAR. Entre as associações mais conhecidas, destacamos quatro.

1. Associação dos sacerdotes e suas esposas (Alemanha)
2. Movimento Pró-Celibato Opcional (Espanha)
3. Ora ET Labora (Itália)
4. Associação Fraternitas Movimento (Portugal)

O caso do Padre Oprah

Nos Estados Unidos, o padre Alberto Cutié – popularmente conhecido como Padre Oprah -, desligou-se da Igreja Católica Romana e passou a exercer o sacerdócio na Igreja Episcopal após ter sido pego com uma mulher. Segundo o New York Times, fotografias divulgadas em um tablóide de língua espanhola revelaram um sacerdote de 40 anos, deitado ao lado de uma mulher de cabelos escuros em uma praia da Flórida. O caso serviu para que reacendesse o debate em torno do celibato obrigatório. [7]

Autor de vários livros e apresentador do programa “Padre Alberto”, Cutié ficou conhecido como “Padre Oprah” por causa de seus conselhos sobre amor e relacionamento. Em entrevista a uma emissora de TV de Miami, defendeu que os padres deveriam se casar por ser essa uma opção mais saudável. De origem porto-riquenha, mas criado em Miami, Cutié optou pela vida sacerdotal aos 18 anos de idade.

Uma Igreja e várias faces

Pelo o que vimos e provamos no texto acima, a Igreja Católica Apostólica Romana não é nenhum exemplo de “unidade” e/ou “comunhão” de irmãos. Contrariando o Credo Niceno-Constantinopolitano, a Igreja está dividida em inúmeras ramificações e enfrenta movimentos de reforma em seu próprio seio, que podem resultar em novas igrejas ou movimentos independentes.

As denúncias de pedofília e homossexualismo no clero, somado ao crescente número de padres que são expulsos da Igreja por optarem pela não-obrigatoriedade do celibato, são também exemplos de que a ICAR não é nem de longe um movimento “sadio” ou “unificado”.

Também há os casos de brigas internas, como acontece entre jesuítas e adeptos do Opus Dei. Na década de 1940, alguns jesuítas, liderados pelo teólogo Angel Carrilo de Albornoz, denunciaram o Opus Dei por “ensinar uma nova heresia”. Daí em diante, tradicionalistas e conservadores seguiram o exemplo ao denunciar o avanço do movimento carismático e da Teologia da Libertação. São alguns exemplos do que acontece por trás daquela que se diz a “única” e “verdadeira” Igreja de Cristo.

Referências Bibliográficas

1. Crenças, religiões, igrejas & seitas: quem são? Estevão Tavares Bittencourt, pág. 11
2. Ibidem, pág. 12
3. Toda a História, José Jobson de Arruda e Nelson Piletti, pág. 115, Ed. Ática
4. Crenças, religiões, igrejas & seitas: quem são? Estevão Tavares Bittencourt, pág. 16
5. Investigando os Arquivos secretos da Inquisição
6. fratresinunum.com
7. http://www.nytimes.com/2009/05/07/us/07priest.html?ref=us



Johnny T. Bernardo

é apologista, escritor, jornalista, colaborador da revista Apologética Cristã e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de seitas e heresias, sendo um dos seus campos de atuação a fenomenologia religiosa e religiosidade brasileira.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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À igreja que esta em sua casa

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Cresce no Brasil e no mundo um movimento conhecido como “crentes nominais”. Somente no Brasil existe perto de quatro milhões de evangélicos que dizem não precisar frequentar uma igreja para serem salvos. Olhando os fatos pela ótica da razão e da compreensão bíblica, concluímos que a posição dos crentes nominais pode estar correta. De fato não precisamos pertencer a uma igreja (diga-se denominação religiosa) para sermos salvos. A Igreja é parte do Reino de Deus e não a sua totalidade. Quando desenvolvemos tal compreensão entendemos que frequentar uma igreja evangélica não significa, necessariamente, que somos salvos ou que fazemos parte do Reino de Deus.

A igreja é um local de reunião, um local em que os crentes se reúnem para prestar culto de adoração a Deus. A adoração coletiva é apenas uma das formas pelas quais podemos nos aproximar de Deus. A Igreja (local de reunião) deve ser uma extensão de nossa comunhão diária. Tal significa dizer que a vida cristã transcende as barreiras físicas da Igreja. Jesus disse: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt. 18. 20). De acordo com Jesus, a igreja pode ser reconhecida em qualquer lugar em que estiver, como em uma reunião informal em uma empresa, faculdade, comércio, escola etc.

Somos seres comunitários e por isso precisamos viver em comunidade. Daí surge a ideia de ajuntamento, de assembleia de santos. Nenhum cristão deve se privar da adoração coletiva, em um templo ou em qualquer outro local em que um grupo de crentes se reúna. O problema esta na idolatria, no confinamento que algumas denominações submetem seus membros. Para ser direto: existe hoje uma verdadeira “idolatria” por templos. A vida cristã, na maioria das igrejas evangélicas, se resume a um programa infindável de cultos – muitos dos quais rotineiros e carregados de exortações. Uma das queixas dos crentes nominais é a falta de amor nas igrejas evangélicas. O púlpito tem sido usado, segundo eles, como um local de crítica aos que não frequentam diariamente a igreja e não entregam o dízimo.

É fato que a igreja precisa passar por uma reforma, que o programa de culto é cansativo e que não atende ao anseio dos mais necessitados. A igreja, e especialmente os pastores, precisa se mobilizar pela defesa de um culto sadio que permita o retorno dos que saíram para praticar um culto particular ou mesmo os que deixaram a vida cristã por completo. Também devemos ampliar a discussão em torno do conceito de igreja e seu relacionamento com o Reino de Deus.


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Johnny T. Bernardo

é apologista, escritor, jornalista, colaborador da revista Apologética Cristã e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de seitas e heresias, sendo um dos seus campos de atuação a fenomenologia religiosa e religiosidade brasileira.

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A estranha aliança da família Ferreira com o Rev. Moon

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A denúncia de que o pastor Manoel Ferreira teria se reunido com o Rev. Moon (fundador da Igreja da Unificação) e de que teria participado de uma das reuniões de iniciação da seita, caiu como que uma bomba no meio evangélico nacional. Ao ceder espaço para representantes da Igreja da Unificação, dentre os quais o filho do Rev. Moon, primeiro em uma reunião no Brás e no mês de outubro na Assembleia de Deus de Brasília, o relacionamento Moon - Ferreira ganhou um novo formato e dimensão. A celebração do "Festival Global pela Paz", realizado na AD de Brasília, teve como objetivo apresentar Moon como o novo Messias e ampliar a sua presença no meio evangélico nacional. Enquanto alguns se posicionam contra a aliança, outros afirmam que tudo não passa de uma armadilha de Satanás contra os "ungidos" pastores.

O Rev. Moon é conhecido por suas palestras e campanhas anti-comunismo. Uma de suas mais controvertidas declarações, entretanto, é a de que ele veio "completar" a obra iniciada por Jesus. De acordo com Moon, Jesus apareceu a ele (em visão, aos 16 anos de idade) e disse não ter conseguido completar a obra de redenção e que Moon seria o único no mundo capaz de completar a obra que Ele havia começado.

Entre outras revelações e doutrinas defendidas pelo fundador, está a ideia de que a Bíblia não é a verdade, mas um livro de textos com ensinos da verdade; afirma que como uma família se constitui de pai, mãe e filhos, assim o Pai é Deus, a mãe é o Espirito Santo; nega a deidade absoluta de Jesus e sua ressurreição gloriosa etc.

No livro "O Império Moon, os bastidores de uma seita impiedosa" (editora Globo), o jornalista francês Jean-François Boyer revela algumas das polêmicas que envolvem as organizações do Rev. Moon, como as denunciadas pelo governo francês e países latinos. Também merecem destaque as campanhas de recrutamento de jovens (hoje são em torno de 100.000 militantes em tempo integral) e a "estratégia da Aranhã" - estratégia que Moon desenvolve a nível mundial para reunir em seu projeto as elites da imprensa e da política.

Apesar das reiteradas declarações de que não conhece o Rev. Moon, três fatos pesam contra o presidente da CONAMAD:

1. Juntamente com João Campos e o Apóstolo Doriel de Oliveira, o Pr. Manoel Ferreira participou da Conferência Global da Paz (fundada pelo Rev. Moon), que aconteceu em Washington, EUA, de 8 a 11 de agosto de 2008;

2. Um pouco antes, no dia 24 de abril do mesmo ano, o Pr. Manoel Ferreira também se fez presente na Conferência Internacional de Liderança promovida pela Federação para a Paz Universal (UPF) no Hotel Nacional, em Brasília. Foi durante esse evento que houve a aproximação entre o Pr. Ferreira com o filho de Moon, Hyun Jin Moon. Tamanha foi a influência exercida sobre o presidente da CONAMAD, que este declarou no plenário do Congresso Nacional em 6 de outubro de 2008:

"Gostaríamos de mais uma vez exaltar o magnífico trabalho realizado pela Federação para a Paz Universal, a grande aliança global que se vem firmando em torno da construção de um mundo de paz e harmonia, fraternalmente unido em nome de Deus. A Federação para a Paz Universal é uma instituição ligada à ONU, com sede em Nova York, Estados Unidos. A Federação para a Paz Universal busca estabelecer laços cada vez mais consistentes entre as diversas religiões cristãs, para um dia alcançar o sonho maior da Igreja da Unificação. Por outro lado, vem trabalhando incessantemente em favor do diálogo entre todas as crenças, na certeza de que o poder e o amor de Deus transcendem denominações, culturas e credos, e devem constituir a busca primordial de todas as civilizações. É com muita alegria e fé, pois, que assistimos ao sucesso crescente das atividades da Federação, ao redor do globo".

Ainda segundo ele:

"O objetivo [da UPF] é a construção de uma rede global de líderes, que representem a diversidade étnica e religiosa da grande família humana, tendo em vista a superação de barreiras, conflitos e preconceitos, e a consolidação de uma nova era de paz entre todos os povos".

3. O anúncio - feito pelo filho do Rev. Moon na sede em São Paulo - de que a Association pour la défense de la famille et de I'indial (Associação pela Unificação do Cristianismo mundial) havia "fisgado" um peixe grande e que esse seria o Pr. Manoel Ferreira mostra que, de fato, o referido pastor mentiu ao afirmar que não conhece Moon.


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A igreja brasileira está preparada para ser uma potência mundial?

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Apesar de o último censo apontar que os evangélicos tiveram um retrocesso em seu crescimento e que o ateísmo cresceu em certas regiões do Brasil, a igreja evangélica deverá ter um crescimento vertiginoso nos próximos anos. Indicativos mostram que até 2025 os evangélicos representarão 50% do total da população brasileira. Entretanto, existem inúmeras dificuldades que tornam a igreja evangélica brasileira frágil e que podem comprometer seu crescimento. Mesmo que os números estejam corretos (e eles devem estar), corremos o risco de produzirmos uma igreja de crentes nominais, fenômeno que ocorre na Europa e EUA. Abaixo destacamos algumas dificuldades enfrentadas pela igreja brasileira.

Dificuldade de articulação

O pouco tempo do Protestantismo no Brasil produziu uma igreja multifacetada, com diversas lideranças regionais e nacionais. Conquanto o número de evangélicos brasileiros seja algo em torno de 40 milhões, as inúmeras correntes existentes no país possuem pouquíssima articulação. Primeiro, existe uma dificuldade de comunicação entre tradicionais e pentecostais. Segundo, não há comunicação mesmo entre as igrejas pentecostais. Um exemplo é a Assembleia de Deus. A comemoração do centenário foi realizada em dois locais diferentes da Grande São Paulo, pelas duas principais correntes: a do Belém (no Pacaembu) e a da Madureira (na Arena Barueri).

Recentemente, mudanças na liturgia e de usos e costumes ocasionaram o desligamento de setores regionais que se opõem a mudanças bruscas. Disputas políticas e interesses econômicos também são uma das causas da existência de inúmeros ministérios e grupos pentecostais. Tentativas no sentido de aproximar tais segmentos, como os conselhos municipais de pastores, são propostas interessantes, mas que ainda não surtiram o efeito desejado. Uma das razões é a falta de concordância na apresentação de projetos, de compromisso e o uso político – partidário de algumas comissões.

Dificuldade de estrutura

A igreja evangélica brasileira investe pouco em projetos importantes, como cursos teológicos, missões e apologética. Com raríssimas exceções, encontramos igrejas que demonstram se preocupar com o desenvolvimento de uma estrutura sólida para seus membros. Quando falamos por estrutura, não estamos nos referindo apenas ao aspecto físico de uma igreja, mas também ao seu conteúdo interno. Logicamente que uma questão está ligada à outra. Onde há dificuldade de estrutura física (prédios, salas, departamentos), consequentemente há dificuldade na implementação de projetos. Na maior parte das igrejas, a escola dominical é realizada na própria nave da igreja, dificultando o aprendizado. Há outros problemas, como o investimento em setores que não dizem respeito diretamente ao trabalho de missões, a inexistência de um departamento de evangelismo e discipulado satisfatórios e a demasiada ênfase em templos luxuosos, com televisões de plasma e outros aparatos que dificultam o investimento nos setores estratégicos.

Dificuldade de planejamento

Diretamente ligada à questão da estrutura, está à dificuldade de planejamento. O fenômeno não ocorre apenas nas igrejas pentecostais – nas tradicionais, como a igreja batista, também é frequente. A adesão de algumas igrejas batistas ao Modelo de Bogotá (G12) é um indicativo de falta de planejamento, de estratégia evangelística. Não que o G12 seja um prejuízo ao Evangelho; pelo contrário, tem contribuído sobremaneira com o crescimento da igreja evangélica no Brasil e no mundo. A questão está na forma como algumas igrejas realizam os encontros, que beira o modismo teológico.

Falta planejamento de trabalho nas igrejas. Enquanto seitas como as Testemunhas de Jeová possuem uma estratégia de crescimento, que inclui mapeamento de territórios, divisão de tarefas, cursos de preparação (Escola do Ministério Teocrático) e literaturas que focam o trabalho de campo, as igrejas evangélicas investem pouco nessa área. Razão pela qual perdemos espaço para o ateísmo e contribuímos para a proliferação dos sem-religião. Quando deixamos de estabelecer metas e investir em setores estratégicos damos vazão ao crescimento de outras religiões ou movimentos.

Dificuldade de identidade

Somadas às dificuldades de articulação, estrutura e planejamento, chegamos a uma igreja com uma profunda crise de identidade. Uma igreja sem identidade é uma igreja que não possui uma marca própria, um modelo que a diferencie de outros segmentos religiosos. Ao deixar de se preocupar com o planejamento, por exemplo, uma igreja perde em número e qualidade.

A igreja evangélica brasileira se transformou em uma igreja de templos, de cultos rotineiros e com pouquíssimo trabalho externo. Os crentes passam mais tempo dentro de igrejas, do que em atividades externas. Precisamos de menos cultos e mais atividades externas. A igreja precisa dialogar com a sociedade, participar dos seus problemas e frustrações. Precisamos nos embrenhar na sociedade.

Dificuldade de gerenciamento

A atual dificuldade que a igreja brasileira atravessa está diretamente ligada à dificuldade de gerenciamento. A falta de preparo teológico, secular e interesse para com o crescimento são uma das causas do crescimento desordenado de algumas igrejas. A igreja tem experimento um crescimento significativo, mas a falta de estrutura, planejamento e construção de uma identidade própria são fatores que desqualificam tal crescimento. Enquanto igrejas de São Paulo possuem templos luxuosos, o investimento em missões decresce a cada dia. A causa está no mau gerenciamento, na falta de obreiros comprometidos com o crescimento sustentável da Igreja. Tais condições mostram que a igreja brasileira, apesar do crescimento real, ainda não está preparada para ser uma potência mundial. A mudança deve começar de cima para baixo.


Johnny T. Bernardo

é apologista, escritor, jornalista, colaborador da revista Apologética Cristã e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de seitas e heresias, sendo um dos seus campos de atuação a fenomenologia religiosa e religiosidade brasileira.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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Porque não é bíblica a desassociação (I)

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Infelizmente, faltou à Associação Torre de Vigia (ATV) esclarecer às pessoas que o instituto da desassociação não vem de Jeová, mas do Corpo Governante. Se você conjugar todos os paralelos bíblicos em relação ao assunto verá que Jeová está sempre de braços abertos para acolher IMEDIATAMENTE um pecador genuinamente arrependido. Não há nas Escrituras qualquer paralelo que mostre que Ele deu seis meses ou um ano ou vários anos de prova, com a boquinha calada, sentado no banco, sendo ignorada pela família e pelos “amigos”, até que a pessoa fosse JULGADA por um corpo de anciãos como digna de fazer parte de seu povo novamente.

Ao contrário, uma leitura básica da Bíblia te mostrará que PRIMEIRO Jeová acolhe o pecador DEPOIS ele é ajudado a abandonar seu estado lastimável. Basta a pessoa arrependida se voltar para Deus. Sem provas. Sem chibatadas sociais. Sem vergonha ou humilhação. É tão simples! Vejamos um exemplo: uma jovem tem relações sexuais com seu namorado, contudo, não vê nada demais nisso. Os anciãos a chamam em uma comissão judicativa e a desassociam. Logo após ela se arrepende, pois vê que estava errada. O que fazer?

Bom, Jeová, por meio de Jesus, proveu a resposta. Veja sua reação na parábola do filho pródigo:

“Enquanto [o filho] ainda estava longe, seu pai o avistou e teve pena, e correu e lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou ternamente” (Lucas 15:20).

Mesmo com esse paralelo claríssimo, os anciãos dizem que a pessoa deve passar um tempo no banco, sendo ignorado, apontado como pecador, evitado até pela família... que deve se casar, ou então dissolver esse namoro... que não poderá comentar na reunião, ir no ônibus da congregação para a Assembleia de Circuito, não poderá pegar uma carona no carro de um irmão, muito menos que se deve orar por essa pessoa. Para não falar que durante esse tempo, a pessoa que “ se lixe”, se ela precisar de uma ajuda qualquer, seja em relação a um trabalho, dificuldade na família, doença, emprego, e tantas outras que apenas temos em associação íntima com alguém ou em uma comunidade unida, que ela fique por si só, dê seu jeito... foi ela quem escolheu o caminho da desassociação, não foi? Que amor é esse, hein? Que não pode acolher uma pessoa que está querendo voltar ao seu meio? Que não pode dar um abraço a uma pessoa que precisa? Que não pode perguntar nem mesmo “como vai, como foi seu fim de semana”? Isso é disciplina? Lamento, mas se você é um bom leitor da Bíblia, verá que isso é heresia.

Quanto aos “fundamentos bíblicos” para tal ação da ATV, são todos fraquíssimos e não se sustentam ante o peso da evidência. A Associação usa o texto de 2 João 10, 11 como base de seu tratamento em relação aos desassociados e dissociados. Contudo, empregam tal passagem TOTALMENTE FORA DE SEU CONTEXTO ORIGINAL. Convido-o a ler o texto integralmente, a carta inteira de 2 João. No versículo 7, o apóstolo diz: “Pois, muitos enganadores saíram pelo mundo afora, pessoas que não confessam Jesus Cristo vindo na carne. Este é o enganador e o anticristo".

Depois, do versículo 8 ao 11, o apóstolo dá um conselho aos leitores em relação à situação de perigo espiritual quanto a esses tipos de pessoas que rejeitam a Cristo e pregam o engano, dizendo que Cristo não veio na carne. Contra esse tipo de pessoa é que os cristãos devem se guardar, “nem o recebendo em seus lares, nem os cumprimentando”, pessoas que “se adiantaram”, “não permaneceram no ensino de Cristo” e agora defendem outro ensino diabólico. Ou seja, anticristos ativos e atuantes. Não se fala em lugar algum de crentes quepecaram. Nem em desassociação, palavra que nem na Bíblia está.

Veja a situação delicada que o Corpo Governante põe sobre seus ombros: julgam mais do que Jeová. Aquele que o verdadeiro Deus vê como pessoa aflita e perdida, que precisa de consolo e cuidado, como uma ovelha entre as cem, machucada e desesperada, os CG pede para que vejamos como ANTICRISTOSEMPEDERNIDOS!

Agora, caro leitor, em momento nenhum dizemos ser contra a exclusão ou afastamento de um membro que seja um pecador empedernido do meio da congregação, ou de uma igreja. Isso aí é coisa que se faz até no mundo, nas esferas seculares. Caso você faça parte de uma associação qualquer, um conselho, um clube, uma escola, etc., ou mesmo no trabalho normal, há normas internas que devem ser respeitadas sob pena de (a) repreensão verbal ou escrita, (b) afastamento temporário ou (c) desligamento total.

Isso é diferente das organizações religiosas? Não, de forma alguma.

Ao contrário do que pregam as Testemunhas de Jeová em várias publicações, existem expulsões e desligamentos nas igrejas evangélicas, mas sempre depois de um longo processo de ajuda espiritual à pessoa, antes de serem tomadas as providências cabíveis.

Quando você aceita se tornar membro de uma igreja qualquer, ou de associações filosóficas ou políticas, deve ter em mente suas normas, seus estatutos, entre eles os que podem demandar sua exclusão como membro. Nesse caso, o texto citado pelas Testemunhas, 1 Coríntios 5:9-13, está devidamente aplicado. Paulo escrevia aos crentes em Corinto que não faziam nada para que aquele homem imoral se consertasse, logo, havia negligência espiritual por parte deles. Contudo, lendo com atenção os versículos circundantes (coisa que raramente as Testemunhas fazem), vemos que a grande preocupação era com a ação da própria congregação ante o pecado, não necessariamente com o pecador em si. Não se esqueça de que esta carta que Paulo escreveu tinha objetivos claros: exortar toda a congregação coríntia a um reavivamento espiritual, o que é claramente visível na quantidade enorme de problemas que o apóstolo discute ao longo de sua epístola.

Prova de que está errada a metodologia da desassociação conforme o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová prega pode ser vista no modo como a aplicação deste texto é feita na segunda carta de Paulo aos Coríntios. Conforme uma publicação da própria ATV, o Estudo Perspicaz, volume l, p. 563 e 564, “Paulo escreveu esta primeira carta à congregação cristã em Corinto, por volta de 55 EC [...] Paulo escreveu a sua segunda carta aos coríntios provavelmente durante o fim do verão ou começo do outono setentrionais de 55 EC”. Assim, no intervalo de meses, não de anos, nem de décadas, mais em poucos meses, de acordo com o arrependimento daquele “homem iníquo”, “Paulo respondeu na sua segunda carta elogiando-os por sua aceitação favorável e aplicação do conselho, exortando-os a ‘perdoar bondosamente e a consolar’ o homem arrependido, ao qual evidentemente haviam expulsado da congregação” (Perspicaz, v. 1, p. 564).



por Cleber Tourinho de Santana

ex-testemunha-de-jeová, professor, linguista, revisor de textos, orientador em Medotodologia da Pesquisa Cientifica e está mestrando em Letras e Linguística pela Universidade Federal da Bahia



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Quem tem medo da apostasia? (I)

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Não obstante a grande querela que se faz em relação à apostasia, as Testemunhas de Jeová não conseguem se livrar dessa incômoda “pedra no sapato”.

Não é de hoje que se pede aos membros da religião que se afastem de qualquer um que venha a contestar seus ensinamentos e que ainda esteja com o título de irmão, ou mesmo que já tenha saído de suas fileiras. De fato, não são poucos os argumentos (com raciocínios eminentemente circulares) e textos bíblicos utilizados (a maioria isoladamente, como sempre), para validar essa prática, de evitar qualquer contato com os pensamentos divergentes da Sociedade Torre de Vigia, braço legal do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová.

Durante o tempo em que fui TJ, percebi que a Organização fomenta em seus membros um verdadeiro temor, um pânico doentio em relação às pessoas que saem da seita e que têm a “audácia” de utilizar sua liberdade de pensamento e questionar o que outrora fora entendido como “a verdade”. Não exagero: é um verdadeiro terror mórbido, que faz muito lembrar uma sensação de ataque terrorista iminente, como se vivêssemos na atual Palestina dos homens-bomba e carros recheados de explosivo plástico, prontos a serem detonados bem no nosso rosto, a qualquer momento.

São centenas de artigos falando sobre o assunto. Uma pesquisa breve nos Índices da Torre de Vigia de 1960-1990 e 1991-2005 e no CD-Rom Watchtower Library traz tantas entradas e referências que seria uma tarefa hercúlea enumerar a quantidade de vezes que o Corpo Governante se ocupa do tema, ou pelo menos se refere a ele em seus escritos. Mas uma coisa é certa: em nenhum lugar as Testemunhas são incentivadas ao diálogo aberto e franco sobre suas crenças nem entre si, muito menos com aqueles que não mais concordam com os ensinos cristalizados (ou mesmo fluidos) de sua Organização.

Por exemplo, A Sentinela de 15 de fevereiro de 2004, p. 28, sob o subtópico “As táticas do inimigo”, exorta:

“O inimigo talvez procure dar um golpe por atacar verdades bíblicas fundamentais para a sua fé. Apóstatas podem usar palavras suaves, lisonjas e argumentos deturpados na tentativa de derrotá-lo. Mas o apóstata não está pensando em seu bem-estar. Provérbios 11:9 diz: ‘Pela boca é que o apóstata arruína seu próximo, mas é pelo conhecimento que os justos são socorridos."

É um engano pensar que você precisa ouvir os apóstatas ou ler as publicações deles para refutar seus argumentos. O raciocínio deturpado e venenoso deles pode causar dano espiritual e contaminar a sua fé como uma gangrena que se espalha rapidamente. (2 Timóteo 2:16, 17) Em vez disso, imite o tratamento que Deus dá aos apóstatas. Jó disse a respeito de Jeová: ‘Nenhum apóstata entrará diante dele.’ — Jó 13:16” (grifo meu).

Interessante é a versão enviesada da Tradução do Novo Mundo nos textos de Jó 13:16 e Provérbios 11:9. Nos textos originais, em hebraico, não se usa a palavra “apóstata”, com carga pejorativa de desvio espiritual, mas sim o adjetivo חָנֵף (ka-neph), quase sempre traduzido por “hipócrita” (ARC, KJV, etc.), mas que significa, literalmente, pecador, ímpio, impuro, sempre em sentido moral, nunca espiritual.



por Cleber Tourinho

ex-testemunha-de-jeová, professor, linguista, revisor de textos, orientador em Medotodologia da Pesquisa Cientifica e está mestrando em Letras e Linguística pela Universidade Federal da Bahia



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