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Fé e tráfico de drogas

Fundada por Ezequiel Gamonal, na década de 60, a Associação Evangélica da Missão Israelita do Novo Pacto Universal (AEMINPU), de caráter sincretista, há pelo menos 5 anos virou alvo de uma investigação federal. Motivo: membros de comunidades instaladas ao longo do Rio Javari, na fronteira do Brasil com a Colômbia e Peru, teriam participação no plantio e refino de cocaína. A denúncia, veiculada no programa Fantástico (2/12), trouxe à tona uma questão: até que ponto denominações religiosas teriam envolvimento com o crime organizado?

A polêmica em torno da AEMINPU seria apenas mais um caso de sobrevivência, consequência da falta de recursos financeiros na selva amazônica? Embora seja verdade que boa parte das comunidades situadas na fronteira com o Brasil, o que inclui Colômbia, Bolívia e Peru, tenham na plantação da folha de coca uma das poucas opções de sobrevivência, em muitos casos o envolvimento parece ir um pouco mais além, como o refino e transporte de cocaína. Em agosto de 2000, segundo informações da Folha de S. Paulo, a polícia colombiana apreendeu uma escopeta, cinco revólveres, duas pistolas, três rádios transmissores e farta munição no barco em que viajava o então líder da seita, Ezequiel Jonas Ataucusi, irmão de Ezequiel Gamonal.

O deslocamento, há mais de duas décadas, de comunidades inteiras de discípulos dos irmãos Gamonal para a região fronteiriça com o Brasil, chamou a atenção da PF após suspeitas de que o deslocamento teria como objetivo explorar a mão de obra dos fieis no plantio da folha de coca. A migração para a planície da floresta amazônica peruana coincide com o começo do cultivo da folha na região. Há décadas cultivada nas regiões mais elevadas dos Andes, as planícies sempre foram vistas como impróprias para o cultivo. Segundo o Wall Street Journal, novas técnicas possibilitaram à Cushillococha, aldeia da tribo Tucuna às margens do trecho peruano do Amazonas, a criação de uma das maiores plantações de matéria-prima de cocaína do mundo.

Com sede em Lima, Peru, a Associação Evangélica da Missão Israelita do Novo Pacto Universal está presente em pelo menos 8 países da América do Sul, 4 da América Central, Estados Unidos e Espanha. Registrada no Brasil há 15 anos, a AEMINPU possui templos em Manaus, Belém, Boa Vista e São Paulo – seu primeiro templo no país teria sido construído em Tabatinga, Amazonas. São Paulo é a principal base de atuação da seita, sendo o missionário Antônio Marin o responsável pelas atividades da seita no Brasil.

Extensão

O suposto envolvimento de membros da AEMINPU com o tráfico de drogas não é um fato isolado. No Brasil, pelo menos três grandes denominações tiveram seus nomes envolvidos em denúncias e investigações por associação com o crime organizado: Mundial do Poder de Deus, Universal do Reino de Deus e Pentecostal Deus é Amor. No dia 11 de março de 2010 a IMPD teve seu nome estampado nos principais jornais após a prisão de três de seus pastores acusados de tráfico de armas. A IURD também seria alvo de acusações, como a do ex-bispo Carlos Magno de Miranda que, em entrevista ao blogueiro Vini Silva, revelou que a Rede Record de Televisão teria sido comprada com dinheiro do Cartel de Cali. Denúncias de um ex-tesoureiro da IPDA e investigações feitas pela PF a partir de 1996, revelaram que membros do alto escalão da Deus é Amor teriam participação em esquemas de lavagem de dinheiro do narcotráfico.

Características comuns (destrutivas) são facilmente percebidas entre as denominações com a seita peruana, como técnicas de controle psicológico, uso de temas apocalípticos como forma de coação (IURD – AEMINPU), regras rígidas de comportamento e de usos e costumes (IPDA – AEMINPU) e militância política (IURD – AEMINPU). A presença de uma figura messiânica, centralizadora e arregimentadora é outra característica comum quando comparamos as denominações com a seita peruana e outras seitas destrutivas, como o Templo dos Povos. Há sempre uma mensagem de libertação, de entrega física e espiritual, de combate às forças do mal, de isolamento psicológico e social, de rompimento com pessoas que possam atrapalhar nossa conexão com o divino, de entrega à causa ou ideologia. É parte da programação, da manipulação que centenas de adeptos são submetidos diariamente e em todo o mundo.


Johnny Bernardo 


é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos dedica-se ao estudo de religiões e crenças, sendo um dos campos de atuação a religiosidade brasileira e movimentos destrutivos.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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