O termo vodum ou vodu, como chamamos, teve sua origem no oeste da África, num reino chamado Daomé, atualmente conhecido como Benim. Com a escravidão do século XIX, os nativos de Daomé foram capturados e levados para que fossem trocados por armas e alimentos por mercadores europeus, o que os levou a se estabelecer em muitas partes das Índias Ocidentais e no Haiti. Como na época a Igreja Católica demorou a constituir um clero que pudesse batalhar pela religião “cristã” no Haiti, esta ausência prolongada deu aos escravos a oportunidade de combinarem a sua religião, o Vodu, com o catolicismo, formando um denso sincretismo religioso. Diz-se que 95% dos haitianos são católicos e 100%, adeptos do voduísmo. Tanto é assim que, às vezes, é difícil saber onde acaba o catolicismo e começa o voduísmo.
O Voduísmo nos Estados Unidos
O Vodu chegou aos Estados Unidos há cerca de dois séculos, quando os primeiros escravos foram trazidos para trabalhar na lavoura. Após 1803, a prática do voduísmo se organizou, desenvolvendo-se principalmente em Nova Orleans. No livro Em Busca das Sociedades Secretas, escrito por Clayton Matheus, o autor cita inúmeros líderes do culto ao Vodu, que nos Estados Unidos tornaram-se ricos e famosos. Entre eles está a mãe-de-santo Sanite Dede, que em 1825 chegou ao auge de sua fama, conseguindo, inclusive, comprar a sua liberdade graças ao dinheiro ganho com a prática do Vodu. Além dela, existiram outros voduístas muito conhecidos nos Estados Unidos, como o negro João. Ele chegou à Nova Orleans e aos poucos foi acumulando uma fortuna invejável. Depois de construiu uma mansão, adotou 50 filhos.
Entre os adeptos do Voduísmo, as figuras mais conhecidas, entretanto, foram Marie Laveau e sua filha. Com forma física escultural e cabelos pretos muito cumpridos – sua origem misturava negro, índio e branco -, Marie mãe atingiu o auge de sua “fama” em 1830. A filha se beneficiou da reputação da mãe e, desde o começo, provocou mais medo e temor que sua genitora. Marie vendia bolas enfeitiçadas, feitas de cera preta com pedaços de carne humana. As bolas eram espetadas com alfinetes ou marcadas com sangue. Deveriam ser roladas no quintal das pessoas visadas. Depois de algum tempo, todos os que ali moravam morriam inexplicavelmente. Uma mulher que conheceu Marie (filha) disse que ela matou uma porção de pessoas com seus rituais de magia negra Vodu.
Como nas cerimônias realizadas na África, os rituais praticados nos Estados Unidos eram extremamente diabólicos. Nos primeiros anos do culto em Nova Orleans, as cerimônias geralmente eram realizadas às margens do lago Pontchartrain, em meio a muitas fogueiras e batidas de atabaque. Durante um ritual, a mãe de santo ficava em cima do caixote, transmitindo os poderes através de gestos com as mãos. O Zumbi, o deus Vodu, era representado por um dançarino, que recebia várias oferendas que deveriam ser colocadas num recipiente com água fervente. Vestido com uma tanga vermelha, o dançarino pulava no terreiro, tendo nas mãos um caixão de um recém-nascido, que ele colocava aos pés da sacerdotisa. Depois, ele rodava em volta da fogueira e desmaiava. Em seguida, todos começavam a dançar e a beber, entrando num transe coletivo e êxtase geral.
Naturalmente, não existem números exatos de praticantes do vodu no país, mas se pode afirmar, com bastante certeza, que dois terços dos adeptos são negros.
Principais características do culto ao Vodu
a) Coluna pateau – mitan
Como em muitas religiões, o vodu também possui um templo. Mas o que caracteriza o santuário vodu é uma coluna chamada pateau-mitan. Localizada no centro do santuário, essa coluna é considerada sagrada pelos seguidores e é em sua volta que as cerimônias de comunicação são realizadas. Ao redor do pateau encontram-se desenhos decorativos chamados vevers. São representações heliográficas de diversas entidades adoradas no Vodu.
b) Boneco Vodu
O instrumento básico utilizado em invocações de entidades é o boneco vodu. Esse símbolo recebe o nome de fetiche, palavra que significa “feitiço”, ou para designar algo “feito com as mãos”. O boneco Vodu é confeccionado pela pessoa que vai executar o trabalho de magia e pode ser feito com qualquer massa de modelar. Enquanto molda o fetiche, seu construtor deve mentalizar seus objetivos e enviar energia para o boneco. O fetiche deve ser feito com a semelhança anatômica de uma pessoa: cabeça, tronco e membros. Partes indispensáveis para a “eficácia” da magia são os órgãos genitais masculinos ou femininos. Para batizar o boneco, amarra-se nele um pedaço de papel com a inscrição do nome da pessoa a quem quer enfeitiçar.
c) Zumbi
Segundo o voduísmo, o processo para se chegar a ser um zumbi é feito por meio de ervas capazes de deixar a pessoa em estado de morto-vivo. Segundo o médico Carlos Alberto Serafim, especialista em cardiologia, esses componentes de ervas deixam o batimento cardíaco mais lento. As ervas utilizadas pelos sacerdotes vodu têm a capacidade de dilatar as pupilas, fazendo a pessoa perder a sensibilidade à luz e deixando-a em um estado de transe, o que facilita o processo de ritual feito pelo sacerdote, uma vez que o candidato torna-se totalmente manipulável.
d) Hugans e Mambos
Toda cerimônia vodu possui um rei e uma rainha, uma mãe e um pai. Eles são conhecidos por hungans. A terminologia conferida a mulher é mambo. Ao hungan é atribuída a responsabilidade de presidir o santuário (hunfort), além de atuar como curandeiro, adivinho e exorcista. Nas comunidades em que se observam falta do hungan (sacerdote) a mulher toma a frente, sendo considerada a maior autoridade religiosa.
e) Cerimônias Vodu
Geralmente, as cerimônias são realizadas no período noturno. Fazem parte do ritual: bebidas de rum, frutas e jarros de barro. As bebidas e comidas são erguidas e oferecidas aos Loas, para invocá-los. No intuito de alegrar essas entidades, os voduístas lhes oferecem também sacrifícios de aves, porcos, galinhas, bodes e afins. Após as oferendas com danças, os Iaôs possuem os corpos de seus cavalos (iniciados). No vodu, mais ou menos como ocorre na Umbanda, as danças em volta do ponteau-mitan são de suma importância, pois servem para se obter a espiritualidade; as pessoas que se envolvem com a dança são mais rapidamente possuídas.
Para cada divindade existe um tipo de música, instrumento e ritmos específicos, segundo o gosto de cada Loa, que exige que tudo seja “purificado” e consagrado para o ritual. Na Umbanda, os atabaques também são consagrados para fazer que os orixás de Aruanda e Orum se manifestem.
f) O feitiço Vodu
Dentro do sistema de crenças Vodu, o Zumbi é um dos feitiços mais temidos. Muito mais que a magia dos bonecos. O Boker, praticante de magias e feitiços, possuído por uma entidade chamada Baron samedi, fornece as diretrizes para a pessoa que deseja praticar a magia. O “cliente” tem de ir ao cemitério, à meia – noite, e ali apresentar suas ofertas especiais às divindades. Ali, ele deve tomar um punhado de terra para cada pessoa que deseja matar. Após pegar a terra, o praticante deve espalhá-la pelos lugares em que suas vitimas costumam passar. Depois, retira algumas pedras de um túmulo, as quais servirão para realizar o desígnio maligno. Quando o praticante joga a pedra na porta da casa da pessoa para qual a magia foi direcionada, a vitima começa a adoecer e a emagrecer, chegando à morte em curto espaço de tempo.
g) Divindades
No voduísmo, os nomes das divindades se alteram, dependendo da região onde o ritual é praticado, mas a maioria dos adeptos dessa prática considera o panteão que veio do Oeste Africano. As entidades desses panteões, por muitas vezes, são consideradas pelos adeptos como espíritos de pessoas que já morreram, homens que tiveram importância dentro da comunidade religiosa, príncipes ou sacerdotes. Esses espíritos levam o nome de Loas, e podem ser classificados em entidades em dois grupos:
* Rada: entidades transmitidas por Daomé;
* Petros: entidades que, ao longo do tempo, infiltraram-se na pratica religiosa vodu.
Segundo o vodu, as manifestações dos grupos petros e rada têm personalidades e sensibilidades definidas e procuram sempre seguir uma família específica de adeptos. Outras divindades são públicas, manifestando-se em qualquer pessoa.
Johnny T. Bernardo
do INPR Brasil
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