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O que é Yoga?


Vishal Mangalwadi, cidadão hindu e filósofo por natureza, tem, por um longo período, desenvolvido um ministério muito frutífero entre os hindus. Ao passo que o ocidente volta-se progressivamente para o hinduísmo e para os gurus da “nova era”, precisamos estar preparados para contra-atacar esse falso evangelho.

De acordo com o ensino hinduísta, o problema básico do homem não é de ordem moral e sim metafísica. Esse problema não consiste no fato do homem ser culpado de haver infringido a lei moral de Deus, mas sim no fato dele, por alguma maneira, haver se esquecido de sua natureza verdadeira e estar experimentando ser outro alguém que não ele próprio. O homem não é pecador, ele é apenas alguém que ignora o seu verdadeiro eu. O problema dele está na consciência. A salvação do homem consiste em alcançar aquele estado original de consciência que ele perdeu. A verdadeira natureza ou consciência original do homem é definida de maneiras diferentes por gurus monísticos e não-monísticos. Os gurus monísticos acreditam que Deus, o homem, e o universo constituem enfim uma unidade e ensinam que o homem é uma Consciência Infinita, ou seja, o homem é Deus, mas de algum modo, este se enredou numa consciência finita, pessoal e racional. Enquanto ele permanecer nesse estado ele nascerá sucessivamente nesse mundo de sofrimentos. Salvação consiste em transcender a consciência finita e pessoal e imergir na (ou experimentar tornar-se a Consciência Infinita Pessoal, saindo assim, do ciclo de nascimentos e mortes.

Salvação é uma questão de percepção ou realização. O homem já constituiu uma unidade com Deus e só tem que perceber ou realizar esse fato. Nesse contexto, “perceber” não é uma atividade cognitiva. Não está em pauta a questão do individuo saber intelectualmente ou deduzir logicamente que ele é Deus, mas sim de transcender essa consciência racional cognitiva e experimentar um estado “mais elevado” do desenvolvimento da consciência, que se acredita ser Deus e nosso verdadeiro eu.


Os gurus, bem como os movimentos não-monísticos (o movimento Hare Krishna) não acreditam que o homem seja Deus nem que jamais venha ser. Segundo a seita Hare Krishna, Deus é um Ser pessoal – Krishna. O estado original do homem é o de Consciência Krishna e sua natureza verdadeira é ser um servo amável de Krishna. Mas o homem se esqueceu disso e se envolveu nesse mundo material. Ele tem que restabelecer seu vínculo com Krishna e adquirir Consciência de Krishna. Somente assim o homem sairá do ciclo de nascimentos e mortes e viverá para sempre com Krishna na Goloka ou céu. [1]

Portanto, salvação no hinduísmo consiste em realização, percepção ou experiência do que os hinduístas chamam de natureza verdadeira do individuo. Essa realização ocorre quando o individuo consegue alterar sua consciência e atingir, segundo eles, um estado “mais elevado” de consciência. Mas como é que se pode alterar a consciência? Através da manipulação de nosso sistema nervoso.

Há milhares de anos, numerosas técnicas foram desenvolvidas para se manipular o sistema nervoso do individuo com a finalidade de alterar-lhe a consciência. Essas técnicas são geralmente chamadas de Yoga. Nsta palestra discutiremos apenas algumas das técnicas que os gurus modernos tem popularizado. [2]

CINCO CAMINHOS PARA A SALVAÇÃO NO GURUÍSMO CONTEMPORÂNEO

HATHA YOGA:
Salvação por meio de exercício físico

A Hatha Yoga, que consiste de exercícios físico e de respiração, é um método muito antigo. A crença de que o individuo pode alcançar “salvação” por meio de exercícios físicos baseia-se no fato de acreditar-se que a salvação é um problema de percepção, e que percepção depende do sistema nervoso do individuo, o qual, por sua vez, depende da condição física dele. O sistema nervoso pode ser afetado e a consciência alterada pela manipulação fisiológica do corpo do individuo.

O problema com a Hatha Yoga é que a mesma consiste de um processo longo e tedioso que requerem muita disciplina e um professor competente. Indaga-se muitas vezes se um crente pode praticar a Hatha Yoga.

Muitos crentes não acham errado praticá-la, pois a mesma é freqüentemente divulgada como despida de natureza religiosa e vendida por seus valores terapêuticos. Contudo, quando uma pessoa experimenta a alteração da consciência e tem uma “visão de possibilidades” (Mahesh Iogi), ela se torna aberta para a filosofia hinduísta na qual a Hatha Yoga se baseia. Pode haver alguns professores de Hatha Yoga completamente desinteressados em divulgar as bases filosóficas dessa pratica, os quais a ensinam somente para ganhar dinheiro e promover a saúde. Não me sinto qualificado para falar sobre os benefícios terapêuticos da Hatha Yoga, mas me parece que se uma pessoa estiver praticando certos exercícios desenvolvidos na Índia por razões de saúde, ela não deveria dizer que está praticando Yoga, pois os exercícios físicos só se tornam Yoga quando praticados para alterar a consciência, ou causar uma fusão do individuo com Deus. O próprio significado do vocábulo Yoga é “união da alma com “Deus”. [3]

Pode-se indagar, “Que mal há em alterar-se artificialmente a consciência?” Não acho que existe algum mal no estado alterado da consciência por si só. Loucura, sonambolismo e alucinação, apesar de indesejáveis, representam estados alterados da consciência que não são males morais. Contudo, do ponto de vista bíblico, é certamente pecado considerar que a própria consciência alterada seja Deus. E atribuir importância espiritual a exercícios físicos é tornar-se vitima do engano de Satanás.

Há séculos que na Índia o uso de alucinógenos tem sido um método aceitável de alteração da consciência. Mas muitos gurus modernos têm desencorajado o uso dessas drogas por produzirem resultados imprevisíveis, causarem dependência e serem prejudiciais.

JAPA YOGA: “O Caminho Mecânico” para a salvação

Japa é a repetição ou cântico de uma mantra, (geralmente um nome para Deus ou espírito maligno). O movimento Hare Krishna canta os nomes de Krishna e Rama:

Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna, Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama. Rama, Hare, Hare.

Os gurus monísticos preferem usar um nome simbólico de Deus, como “Om”, ou uma mantra cujo significado o mediador desconheça, para que o nome ou mantra não venha a criar, por associação, quaisquer pensamentos ou imagens na mente.

A repetição constante de sons elimina todos os outros estímulos, concentrando assim a mente e tornando-a eventualmente em um não-estimulo. Isso induz a um estado em que a mente não é consciente de qualquer coisa ou pensamento, mas somente da própria consciência. A esse estado chama-se Consciência Pura ou Consciência Transcendental. [4]

Para que essa técnica seja eficaz na “realização divina”, o individuo tem que pratica-la cerca de 3 a 4 horas por dia.

Mahrishi Mahesh Yogi, o divulgador da Meditação Transcendental ser uma pratica confidencial, muitos crentes consideram-na uma coisa misteriosa. Realmente a iniciação consistem em um ato muito simples: Ao interessado em ser iniciado pede-se que traga flores, doces, um lenço branco, cânfora e outras coisas alem de uma considerável soma em dinheiro correspondente a uma taxa para a cerimônia “puja”. Durante a cerimônia o professor adora a foto do guru de Maharishi Mahesh Yogi e também pede que o iniciante se curve diante da foto. O professor invoca as bênçãos de vários deuses e deusas e em seguida dá a mantra ao iniciante. Geralmente a mantra é uma palavra curta, o nome de alguma deidade como Ram, Om, Hrim, Sring, Aing. Pede-se ao discípulo que se sente confortavelmente, feche os olhos e repita silenciosamente o mantra, como por exemplo, da seguinte forma: “Ram…Ram…Ram…” por 20 minutos. Informa-se o iniciante de que primeiro se esquecerá do resto do mundo e ficará consciente apenas da mantra. Em seguida ele se esquecerá também da mantra, transcenderá todos os pensamentos e sentimentos e se tornará consciente apenas da consciência. Esse é o estado Transcendental da Consciência.

Depois de algum tempo, o meditador alcança um estado mais elevado de consciência, chamado Consciência Cósmica, em que ele tem consciência tanto do mundo como da Consciência Pura. Então, depois de muitos anos de meditação, o individuo pode atingir a Consciência de Deus, com a qual vem a perceber os níveis mais sutis do mundo objetivo, que se lhe apresenta como pessoal. Nesse estado diz-se que o individuo pode até mesmo se comunicar com pássaros, animais, plantas e pedras. Seguindo esse estado vem o estado final de Unidade de Consciência, em que o individuo percebe a unidade dele mesmo com o universo. Nisso consiste a liberação.

Mahesh Yogi chama esse método de “Método Mecânico para a Concretização de Deus”. Ele diz que é possível concretizar Deus de uma maneira mecânica, pois a concretização de Deus é uma questão de percepção e o “processo de percepção é ambos mecânico e automático”. Para percebermos os objetos externos basta “abrirmos nossos olhos e a visão do objeto vem automaticamente sem o uso do intelecto ou das emoções”. Semelhantemente, para percebermos a consciência interior temos que direcionar nossa atenção para dentro e automaticamente chegamos a percebe-la.

Quer seja interior ou exterior, a percepção é automática e mecânica”, escreve Maharishi. A percepção na direção exterior é o resultado de um aumento progressivo da atividade do sistema nervoso. E a percepção na direção interior é o resultado de diminuição de atividade… até que todo o sistema nervoso atinja um estado de calma, um estado tranqüilo de vigilância. Isso concretiza o seguinte preceito: “Fique tranqüilo e saiba que eu sou Deus. [5]

SURAT-SHABD YOGA: O Caminho do Som e da Luz

“Deus é Luz”, afirmam muitos gurus, e acrescentam que essa luz está dentro de nós. “No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus” declaram muitas seitas, acrescentando ainda que esse verbo está dentro de nós. Quando a alma estabelece contato com esse verbo, o verbo a leva de volta para Deus, onde é o lugar original dela.

A Missão da Luz Divina e a Radha Saomi Satsang (Beas), tem sido as principais organizações responsáveis pela popularizacao da Surat-Shabd Yoga no Ocidente. Surat significa alma e Shabd significa verbo, palavra ou som; assim, Surat-Shabd Yoga é a união da alma e do verbo. [6] [7]

As seitas que ensinam esse método tentam manter suas técnicas em sigilo absoluto. As técnicas recebem vários nomes, tais como: Nam (nome) e Updesh (conhecimento), etc. Os vários nomes são atribuídos às técnicas com o intuito de propositalmente enganar não-iniciantes. “nome” e “conhecimento” realmente referem-se a técnicas de manipulação fisiológica dos sentidos e de meditação associada à respiração do indivíduo.

Ao contrario da Meditação Transcendental, as seitas que ensinam o método do som e da luz não iniciam todos que manifestam o desejo de serem iniciados. Não existe um critério definido para julgar se a pessoa está apta ou não para a iniciação: isso depende dos sentimentos arbitrários do iniciador. Algumas seitas estipulam também outros requisitos como: abstinência de bebidas alcoólicas, drogas, alimentações não vegetarianas, etc.

Depois de escolhido para a iniciação, o individuo é conduzido a uma sala fechada onde o iniciador explica a importância do “conhecimento”; do Satsang (o verdadeiro Mestre). O iniciante em perspectiva faz dois votos: um de sigilo e outro de seguir somente a seu próprio guru. Em seguida ele curva-se, ajoelha-se, ou prostra-se diante do guru ou da fotografia deste, e o adora. Depois disso o iniciador ensina-lhe as técnicas de meditação.

As outras seitas que ensinam salvação por meio desse método descrevem suas experiências de modo diferente. Segundo algumas seitas, a Radha Soami Satsang por exemplo, durante a meditação o “terceiro olho” abre-se e a alma sai do corpo através desse olho juntamente com o fluxo do som (Logos ou Verbo), e viaja para o céu. Ao longo do caminho ela passa por muitas experiências maravilhosas e finalmente funde-se em Deus.

KUNDALINI YOGA: Salvação pelo “Poder da Serpente”

A psicologia hindu ensina que no corpo humano, três centímetros acima do reto e três centímetros abaixo dos órgãos genitais, na ponta da espinha está um triangulo no qual localiza-se a Kundalini Shakti, ou o “Poder da Serpente”. O que realmente é a Kundalini ninguém sabe, mas acredita-se que a mesma seja nas cores vermelha e branca. Ela é também descrita como “espiral do poder” ou “energia sexual criativa”. Normalmente ensina-se que a Kundalini permanece encaracolada e dormente, mas quando acorda ela levanta-se e começa a se dirigir para a parte superior do corpo. Nesse trajeto da ponta da espinha à parte superior da cabeça ela passa por 6 centros psíquicos chamados chakras. Cada vez que ela passa por um chakra ela proporciona vários poderes e experiências psíquicas ao individuo. Quando finalmente ela alcança a chakra superior, chamada sahasrara chakra, presume-se que o individuo pode alcançar a libertação e o poder de realizar milagres.

Muitos meios são usados para despertar a Kundalini, os quais variam de exercícios de respiração, como Pranayam, ao manuseio homossexual dos órgãos genitais. O guru mais influente da última década que pregava a Kundalini Yoga era Swami Muktananda de Ganeshpuri, perto de Bombay. Ele descreveu a Kundalini Yoga como “Yoga Maha” (Yoga Magna) ou “Siddha Yoga” (Yoga Perfeita), pois, segundo ele, esta é a única Yoga em que o praticante não tem que fazer nada. Ele somente entrega-se ao guru e a graça deste faz tudo para ele.

TANTRA: Salvação pelo Sexo

Tantra é um sistema freqüentemente considerado como o oposto da Yoga, mas ambos os sistemas visam o mesmo objetivo.

O Tantra é o oposto da Hatha Yoga, pois esta ultima é um método que consiste de muita disciplina e esforço, enquanto o Tantra é, em parte, um sistema de técnicas de prolongar o orgasmo para se experimentar “Deus” ou a “Unidade de Consciência”.

Paulo escreve que quando os homens mudam a verdade de Deus em mentiram e adoram a criatura em lugar do Criador, Deus os entrega a uma disposição mental reprovável, ou à “concupiscência de seus próprios corpos entre si” (Rm 1:24). Essa disposição mental reprovável juntamente com as paixões, conduz tais homens a imundícias e tolices inacreditavelmente profundas.

NOTAS

[1]
Outros dualistas ou monistas qualificados explicam o problema do homem e a salvação de modo diferente, mas em quase toas as seitas o problema é metafísico, e a solução é em termos de realização.

[2] Para muitos ocidentais o vocábulo Yoga tem se tornado sinônimo de exercícios físicos de Hatha Yoga. Yoga física é somente uma forma de Yoga. Yoga significa união: a união da alma com Deus ou a fusão da consciência finita com a infinita.

[3] Originalmente a Yoga estava associada à filosofia dualista chamada de Sankhya. Seu objetivo original era a separação de Purush (alma) e Prakriti (natureza). Mas desde então a Yoga tem sido aceita pelas escolas monísticas e seu objetivo tem sido definido como união, e não separação.

[4] A Japa Yoga é também chamada Mantra Yoga. Algumas formas de Japa Yoga se assemelham ao principio de Raya Yoga ou Pantajali Yoga. A Raja Yoga consiste de oito passos. Os cinco primeiros são externos e preparatórios. Os últimos três são internos: concentração, meditação, e experiência de alteração de consciência. O indivíduo deve se concentrar e meditar numa fotografia, ídolo, nome ou pensamento. Essa concentração focalizada pode eventualmente proporcionar uma experiência ou sensação de vazio, a qual, presume-se, é a experiência da Consciência Pura ou Deus.

[5] The Science of Being and Art of Living (New York: New American Library, 1968), p. 291.

[6] A Missão da Luz Divina foi dividida em 2 grupos: um é liderado por Bal Yogeshwar (popularmente conhecido como Guru Maharaj Ji), e o outro liderado por seu irmão mais velho, Bal Bhagwan.

[7] Radha Soami Satsang iniciou o trabalho em Agra (Norte da Índia, em meados do século passado. Recentemente houve uma ruptura e a formação de um grupo às margens do rio Beas no Punjab (Oeste da Índia). Atualmente esse último é mais influente.


por Joaquim de Andrade

do NAPEC para o INPR Brasil





 
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